Microeletrônica ajuda Zegna a vender jaqueta com energia solar

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Um namoro entre a indústria têxtil e o setor de microeletrônica começa a dar os primeiros frutos. Produtos já prontos e alguns protótipos de roupas inteligentes, que possuem outras características além do simples vestir, procuram desvendar as necessidades do consumidor do futuro.

 

No próximo outono europeu a grife italiana Zegna pretende vender uma jaqueta, criada pela alemã Interactive Wear, na qual é possível recarregar, com energia solar, o celular ou o tocador de música MP3. A energia do sol é captada por meio de um dispositivo de pequeno porte (de 7,5 cm por 4,1 cm), instalado dentro da jaqueta, e que permite também o aquecimento da vestimenta apenas apertando-se um pequeno botão no colarinho.

 

Andreas Röpert, presidente da Interactive Wear, diz que o produto é dirigido a ciclistas e faz parte do rol de desenvolvimentos sustentáveis da Zegna - sua tecnologia foi desenvolvida tendo como base a energia renovável. "Será a primeira jaqueta solar do mercado e a expectativa é de que suas vendas se esgotem em poucos dias", afirma Röpert, que participa da Techtextil, feira de tecnologia têxtil que ocorre em Frankfurt nesta semana.

 

A jaqueta solar terá um público restrito. Seu preço é estimado, no mínimo, em US$ 500. Na opinião do empresário, a chegada desse tipo de produto ao mercado de massa, no entanto, não deve mais levar muito tempo. "Em cinco ou 10 anos, haverá muito mais exemplos de integração da eletrônica com o têxtil em jaquetas e camisetas", disse Röpert.

 

A Philips também investe nessa tendência. Aposta que, daqui alguns anos, o consumidor possa comprar, por exemplo, jaquetas que simulem, por meio de estímulos eletrônicos, a sensação de frio na barriga quando estiver assistindo um filme de terror na TV. Essa jaqueta está sendo desenvolvida pela Geiber Technology, empresa alemã, em parceria com a Philips.

 

Frank van Abeelen, cientista sênior da Philips, na Holanda, diz que, apesar dos avanços nos estudos, ainda não há planos concretos de comercialização para a jaqueta da Geiber-Philips. Ele explica que o produto possui 64 vibrações diferentes.

 

Simula toques distintos e provoca emoções em oito níveis diferentes de potência, podendo o consumidor controlar cada sensor de forma diferente. Pode, por exemplo, colocar mais força no sensor localizado na área do coração, mas menos impulsos no topo da sua espinha ou no estômago e braços, por exemplo. Essa roupa, que também está na Techtextil, faz parte do projeto Systex, apoiado pela Philips e no qual várias empresas trocam informações.

 

Van Abeelen não deu uma data de quando esse protótipo se transformaria em uma produção em massa porque, por enquanto, os pesquisadores estão debruçados em dois outros desafios.

 

O primeiro tem a ver com a relação entre toque e emoção - como definir eletronicamente o que é relaxamento e conforto para cada pessoa? E qual toque criaria determinada sensação, uma vez que isso varia de indivíduo para indivíduo? Ainda não há respostas precisas para essas perguntas.

 

O segundo desafio seria a integração do setor eletrônico com o setor têxtil para levar esse tipo de tecnologia ao mercado de forma mais robusta. Atualmente, esse trabalho é feito de forma isolada e é muito caro. "Esses segmentos (têxtil e eletrônica) ainda precisam aprender muito um com o outro porque eles ainda não se conhecem muito bem", disse.

 

Caminhos para a associação das duas áreas foram abertos pela nanotecnologia, que permitiu uma produção mais flexível, observa Andreas Lymberis, diretor-geral da Comissão Europeia para Information Society & Media. Ele, que acompanha alguns projetos apoiados por esse braço executivo da União Europeia, citou que essa integração já permite um grande avanço na área da saúde.

 

Antes um paciente seria monitorado com a colocação de sensores na sua pele e hoje tais sensores, para controle de sua respiração, análise da temperatura e pressão sanguínea, podem estar em bolsos de jaquetas ou mesmo acoplados à produção da própria roupa.

 

O mercado de equipamentos de segurança também pode ser beneficiado. Sensores podem ser confeccionados nas roupas de trabalhadores do setor de resgate, dando informações de como o corpo destes trabalhadores está reagindo durante uma operação de socorro, por exemplo. Esses dados podem ser transmitidos para o chefe do departamento para saber a hora de substituição de um funcionário durante uma operação, podendo analisar assim o seu nível de estresse, desidratação, entre outros indicadores, a partir de dados enviados pelos dispositivos eletrônicos da sua roupa.

 

Para chegar ao alto grau de desenvolvimento atual, a indústria eletrônica europeia pesquisa, desde 2000, fibras têxteis misturadas a polímeros. Os primeiros protótipos passaram então a ser produzidos nos anos mais recentes e em 2010, diz Lymberis, já haverá o desenvolvimento completo de uma cadeia de valor neste segmento.

 

A empresa alemã Texsys é um dos exemplos desse tipo de trajetória. Hans-Walter Praas, diretor-geral da Texsys, conta que desenvolveu a G-cell, uma luva que tem as funções de um celular. A luva teve seus primeiros estudos em 2006. A ideia era que uma pessoa simplesmente colocasse a luva e tivesse nela instalado um celular, podendo falar por meio de um microfone na luva. Uma vibração avisaria quando estivesse recebendo uma chamada. Essa luva levou três anos para ficar pronta. Segundo Praas, pode ser usada por empresas de segurança, que já demandam o produto.

 

Praas diz que, de maneira geral, a indústria focou esse tipo de desenvolvimento depois que viu o sucesso, em anos mais recentes, da produção de itens que se acoplam ao corpo para que os consumidores carregassem consigo equipamentos eletrônicos, como celulares. A indústria criou braceletes com velcro, por exemplo, para que o celular e o tocador de música MP3 pudessem ser usados por corredores amadores.

 

As empresas não revelam quanto estão investindo nesses projetos. E consideram que há uma série de desafios a vencer.

 

Entre os principais estão o fato de que alguns produtos têxteis equipados com dispositivos eletrônicos ainda não podem ser lavados - como a jaqueta de Geiber. E outros ainda não encontraram uma relação de custo que lhes tornem comercialmente viáveis. Também não foram encontradas, ainda, fábricas capazes de produzir esse tipo de vestuário na China, principal local de fabricação do setor têxtil mundial. E também se questiona se dois setores tão distintos, como o têxtil e a eletrônica, conseguirão, de forma mais consistente, unir, no futuro, duas grandes estruturas de produção tão diferentes entre si.

 

Veículo: Valor Econômico


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