O engenheiro Carlos Augusto Lira Aguiar deve dirigir a nova empresa brasileira de celulose que nascerá em agosto a partir da fusão das operações entre a Aracruz e a Votorantim Celulose e Papel (VCP), segundo apurou o Valor com fontes ligadas ao setor de celulose.
José Luciano Penido, presidente da VCP desde o início de 2004, vai assumir uma função no conselho de administração da nova empresa, cujo nome tem se mantido em sigilo. Carlos Aguiar preside a Aracruz desde 1998.
As operações societárias para a incorporação pela VCP dos acionistas da Aracruz devem ser concluídas até meados de agosto. Mais adiante, a nova empresa vai listar suas ações no Novo Mercado. Na área operacional, a empresa esperar colher sinergias acima dos R$ 4,5 bilhões inicialmente anunciados.
A VCP não comenta a informação, dizendo que "o management e o início das operações serão comunicados oportunamente ao mercado." A Aracruz não se manifestou sobre o assunto.
Nascido em 1945 na cidade cearense de Sobral, formado em engenharia química pela Universidade Federal do Ceará, Carlos Aguiar já tinha planos de aposentadoria quando deixasse a Aracruz ao completar 65 anos, segundo disseram fontes ao Valor. Mas sua experiência de quase 40 anos no setor pesou para fazer a transição da nova empresa, garantiram essas mesmas fontes.
"Ele conhece como ninguém os clientes da Aracruz, que são empresas de bens de consumo não-duráveis como as americanas Kimberly Clark e Procter & Gamble, muito maiores e donas de marcas valiosas", disse uma das fontes. As duas empresas respondem por aproximadamente dois terços dos contratos de venda de celulose da Aracruz.
Aguiar começou sua carreira em 1970 na Olinkraft, uma fabricante americana de papelão ondulado, dona de uma fábrica em Santa Catarina, que hoje pertence à Klabin. Ele ingressou na Aracruz em 1981.
Nos mais de dez anos como presidente da Aracruz, não só liderou a grande expansão da companhia no início da década mas também esteve à frente quando a empresa quase quebrou no fim do ano passado.
A Aracruz acumulou pesados prejuízos em operações com instrumentos derivativos e decidiu abrir processo judicial contra seu ex-diretor financeiro Isac Zagury, acusando-o de responsabilidade pelas operações.
Analistas consultados pelo Valor avaliam que as mudanças resultam na continuidade da gestão das empresas. "Me sinto confortável com as mudanças porque não vejo muita diferença no perfil de administração da VCP e da Aracruz", opina Leonardo Alves, analista da Link Investimentos.
Para Alves, o fato de Aguiar estar à frente da Aracruz por ocasião das perdas com derivativos não prejudica a imagem da nova empresa uma vez que os acionistas entenderam que a culpa deveu-se ao ex-diretor financeiro. "A Votorantim já era acionista da Aracruz e certamente se houvesse algum problema com Aguiar o grupo não o escolheria."
A empresa tem estudado alguns nomes para a nova companhia. Se for levada em conta a tradição do grupo Votorantim, a fabricante de celulose certamente manteria o nome do conglomerado, como denomina suas empresas de metais, cimento e finanças.
A razão social Aracruz continuará existindo como uma subsidiária controlada pela VCP, uma vez que a extinção acabaria por trazer maiores custos - as licenças ambientais e operacionais das fábricas do Espírito Santo e Rio Grande do Sul pertencem à Aracruz.
Veículo: Valor Econômico