Uma associação, no caso dos alimentos, e uma confederação, nas bebidas, analisam o que há de diferenciado na logística destes setores, as tecnologias usadas, o expertise exigido dos operadores logísticos e das transportadoras para atuar neste segmento e mais, muito mais.
Transporte dos alimentos e das bebidas. Este é o destaque desta edição. No caso dos alimentos, participam Orlando Gaeta, coordenador da Comissão de Logística da ABIA – Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Fone: 11 3030.1369), e Amílcar Lacerda, gerente do Departamento de Planejamento da mesma Associação (Fone: 11 3030.1353), além de Ives Uliana, diretor de Operações & Supply Chain da Martin-Brower (Fone: 11 3687.2790).
O setor de bebidas é representado por Nino Feoli Anele, gerente geral da Confenar – Confederação Nacional das Revendas AmBev e das Empresas de Logística da Distribuição (Fone: 11 5505.2521).
Alimentos
Com relação à questão dos maiores problemas logísticos enfrentados no setor de atuação da ABIA, os representantes alegam que o setor é bastante complexo. Compreende o mercado interno e a exportação, além de cargas congeladas, refrigeradas e secas.
"Por sermos um país do tamanho de um continente e cerca de 70% do nosso transporte ainda ser rodoviário, a qualidade das rodovias é fundamental para uma boa logística. Um grande desafio é a excelência na entrega, uma vez que contempla desde o pequeno varejista e operadores foodservice até grandes indústrias. A malha viária ainda é precária. Há elevados custos de pedágios, combustíveis e dificuldades para a renovação das frotas. A insegurança nas estradas e as questões tributárias acabam minando potenciais ganhos de soluções logísticas por agregarem custos às operações", lamenta Gaeta.
As soluções para estes problemas, ainda segundo os representes da ABIA, envolvem, normalmente, criatividade e talento dos profissionais, que são bastante treinados para crises e para a busca de soluções alternativas. "Além disso, o trabalho desenvolvido junto às associações de classe concentra esforços e imprime um grau de profissionalismo maior à busca de resultados efetivos. Alguns investimentos públicos e privados começam a contribuir para a melhoria, mesmo que timidamente, além, é claro, de uma economia mais estável. Por outro lado, as grandes cidades estão adotando sistema de entrega noturna, o que demanda tempo para adaptação e análises profundas do quadro de segurança alimentar", completa, por sua vez, Lacerda.
A propósito das atividades da Associação visando contornar estes problemas, é destacado que os profissionais ligados ao setor se reúnem mensalmente há vários anos através da CL – Comissão de Logística da ABIA, analisando e discutindo temas pertinentes, atuando junto a órgãos públicos, visando alcançar objetivos menos impositivos e mais melhorias de qualidade na normatização do setor de transporte, armazenamento e movimentação de alimentos e bebidas. O treinamento e a qualificação dos profissionais é também foco deste comitê.
Diferenciais
É Uliana quem aponta o que há de diferenciado na logística dos alimentos, em relação à de outros produtos/segmentos. "A logística de alimentos é bastante diferenciada, pois exige um atrativo composto de segurança e qualidade dos alimentos, frequência de entrega, tempo de respostas por ciclo de vida e shelf life dos produtos. Em especial, podemos destacar a distribuição segmentada e a qualidade e segurança e manuseio e transporte, por exemplo, controle da cadeia de frio."
Outro detalhe do setor é o uso de inúmeras tecnologias: WMS, sistemas alternativos de picking, rastreadores e gerenciadores de frota, portais de pedido via WED, EDI e ECR, entre outras ferramentas que agilizam o processo de resposta aos clientes e melhoram a qualidade das informações obtidas dos processos logísticos, com as quais os profissionais da área vão tomar decisões e melhorar processos. "Em suma, as empresas utilizam-se de ferramentas de assimilação de pedidos, de roteirização e de todo trabalho voltado à coleta para segmentação", explicam os representantes da ABIA.
E aproveitam para apontar como é a logística reversa no setor. As empresas, na sua maioria, estruturaram seus sistemas de atendimento ao cliente/customer service com eficácia, o que agiliza eventuais trocas e reposições, desde uma única unidade ou até mesmo a substituição de um lote completo, este último, muito raro de acontecer. "Algumas empresas distribuem produtos com um shelf life bastante curto, exigindo rapidez de resposta, o que pede grande coordenação logística entre os agentes e muitas vezes a utilização dos mesmos veículos de distribuição; são pontos em constante evolução e com grandes questões tributárias e legislativas", completam.
Falando sobre o expertise que um Operador Logístico/transportadora precisa ter para operar no setor de alimentos, os representantes da ABIA destacam que a segurança alimentar é uma prioridade. Os controles de processo, qualidade, temperatura e limpeza são estritos e permanentemente auditados. Programas de qualidade como HACCP (Hazard Analysis Critical Control Point – Ponto de Controle Crítico de Análises de Risco), por exemplo, são necessários. A agilidade e eficácia nos processos de distribuição também são essenciais para atender aos clientes e consumidores finais. Erros podem significar perda de espaço para a concorrência, ruptura e perda de clientes. A organização de todas as etapas com profunda segurança, aliada à experiência no setor, é, certamente, fundamental.
Bebidas
Anele inicia sua análise explicando que a rede de distribuição AmBev possui uma das mais complexas operações logísticas do mundo. São cerca de 1 milhão de pontos de vendas visitados semanalmente. "As revendas associadas à Confenar garantem que os produtos AmBev cheguem aos pontos mais longínquos deste país. Os desafios são muitos e podemos destacar a precária infraestrutura das estradas e, também, as crescentes restrições legais, principalmente nos centros urbanos, quanto aos horários e tamanhos dos veículos. Outro desafio de mercado é ter que atender às demandas pontuais de eventos e feriados (neste ano teremos muitos), onde o cliente exige o produto no local e hora combinados."
Ainda segundo o gerente geral, estes problemas têm sido solucionados pelo fato de a rede de revendas estar pulverizada por todo o país – a expertise logística é um dos fortes atributos da Rede AmBev –, além de grandes investimentos em frota, em processos de gestão e capacitação profissional para atender às demandas dos mercados.
"Afinal, são dois os importantes pilares de atuação da Confederação: capacitação profissional – programas e projetos que focam o aprimoramento dos colaboradores da rede nos vários níveis hierárquicos, alcançando desde as equipes de entrega até os grandes gestores, e envolvendo projetos que abordam temas técnicos e comportamentais; e área de negócios, por meio da qual é possível estabelecer parcerias nas quais a rede de revendas pode adquirir produtos e soluções com preços mais acessíveis, contribuindo para melhorar o custo operacional", diz Anele.
Referindo-se ao que há de diferenciado na logística das bebidas, em relação à de outros produtos/segmentos, ele lembra que, além da preocupação natural de qualquer empresa de logística, que é entregar o produto certo, na quantidade certa, no horário programado, com o menor custo e o melhor atendimento, tanto a área de vendas quanto a área de entregas são responsáveis pelo merchandising e também assumem o papel de cuidar do rodízio do produto dentro do ponto de venda.
Para que isto e todo o processo logístico aconteça, as tecnologias utilizadas são inúmeras. Hoje, os diversos processos de gestão possibilitam que a revenda tenha uma radiografia completa em sua operação, por exemplo: estabelecer uma rota pré-determinada da frota de entrega de produtos segundo a venda feita no dia anterior; o monitoramento online para saber como e quando a frota está realizando a entrega dos produtos, se existe atraso ou não; o monitoramento online do time de vendas, entre outros processos. Todas estas soluções otimizam o processo e servem de "farol" para que o empresário tenha uma estrutura adequada de frota e pessoal.
"Também é bom lembrar o expertise que um Operador Logístico/transportadora precisa ter para operar no setor de bebidas: conhecimento do seu segmento, estar sempre atento às oportunidades de mercado e às ações da concorrência, foco nos custos e busca permanente em inovação", completa o gerente geral.
Veículo: Revista LogWeb