Os donos da Mastellone Hermanos, maior indústria de lácteos da Argentina e bastante conhecida por sua marca de produtos La Serenísima, desistiram de vender a empresa. Na quarta-feira, o próprio presidente do grupo, Pascual Mastellone, enviou um comunicado à Comissão Nacional de Valores (CNV) argentina informando que "a sociedade decidiu conservar suas participações acionárias e manter inalterada a condução histórica da companhia".
Rumores de que a Mastellone estava à venda, e que a principal interessada era a francesa Danone, circularam pelo mercado em junho, até que foram publicados no jornal La Nación. A Mastellone então divulgou uma nota oficial às autoridades do mercado de capitais e à bolsa de valores, assinada pelo diretor de Relações com o Mercado, Rodolfo G. Gonzalez, dizendo que mantém com a Danone um "vínculo comercial e estratégico" muito estreito, a ponto de compartilharem a logística de abastecimento de leite e a distribuição de vários de seus produtos, assim como também as marcas "La Serenísima" (leite e derivados) e "Ser" (iogurtes e sobremesas dietéticas).
Por esse motivo existiria um "diálogo" constante entre as duas companhias e que, "dentro deste marco, distintas alternativas de negócios" estariam sendo analisadas preliminarmente, mas que não havia "nenhum acordo a respeito". Na semana retrasada, circulou também a informação de que outro interessado nas operações da empresa seria a Brasil Foods, resultado da união entre Perdigão e Sadia. Procurada pelo Valor, a Brasil Foods negou interesse no negócio. A Danone nunca se manifestou sobre o assunto.
A Mastellone tem uma joint venture com a Danone desde 1996 para produção e distribuição de produtos de ambas as marcas. Com 80 anos de existência, a empresa argentina produz 4,8 milhões de litros diários (quase a metade da produção nacional total) e controla 70% do mercado de leite na capital e na Província de Buenos Aires.
No entanto, há três anos a Mastellone acumula prejuízos por conta da defasagem entre os preços ao consumidor e o aumento dos custos, segundo explicações da própria companhia em seu relatório anual.
O setor leiteiro é um dos mais controlados pelo governo da Argentina, que restringe exportações e aumentos de preços ao consumidor. Em 2008, para um faturamento de aproximadamente US$ 600 milhões, a Mastellone registrou prejuízo de US$ 140 milhões, e uma dívida total de US$ 230 milhões. Por outro lado tem um crédito de aproximadamente US$ 18 milhões com o governo em subsídios para manutenção dos preços ao consumidor.
A notícia da possível venda causou comoção entre os argentinos pelo fato de a Mastellone ser uma das poucas empresas tradicionais a subsistir nas mãos de capitais locais depois da crise de 2001. E foi divulgada estrategicamente em meio à campanha eleitoral de 28 de junho, o que levou o governo a prometer uma ajuda para evitar a "estrangeirização" da empresa.
Veículo: Valor Econômico