Fábricas instaladas no Rio Grande do Sul têm como meta industrializar até 18 milhões de litros por dia
Mesmo com a expectativa de incremento de até 8% na produção de leite no Rio Grande do Sul em 2009 - o que elevaria a captação anual a 3,2 bilhões de litros, o volume ainda seria insuficiente para atender à demanda das indústrias. A média de produção diária chega a 6,9 milhões de litros dia, pouco se comparada à capacidade de 14 milhões de litros/dia das fábricas, especialmente se levado em consideração a meta de ampliar a industrialização diária para 18 milhões de litros.
Em 2008, o Estado produziu, em média, 8,22 milhões de litros/ dia. “O ideal seria estarmos próximo a 10 milhões de litros ao dia. Precisamos crescer, em média, um milhão de litros/dia em três anos”, afirmou o secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado (Sindilat-RS), Darlan Palharini. Em 2008, foram produzidos 2,9 bilhões de litros.
Desde 2005, os investimentos não param. Depois da Nestlé, que recentemente comprou a unidade da Parmalat, em Carazinho, outras indústrias com a Cosulati, a CCGL e a Italac, também investiram em território gaúcho. Em breve serão inauguradas ainda as unidades da Bom Gosto, em Tapejara, e da Cosuel, em Arroio do Meio. Recentemente, a Lactivale inaugurou uma unidade em território gaúcho, além dos investimentos da Perdigão, em Três de Maio. Outras empresas desestiram de se instalar no Estado, caso da Embaré e da uruguaia Conaprole.
Todos esses projetos, junto com as ampliações previstas pelas empresas já instaladas, têm como objetivo uma captação média de 600 mil a um milhão de litros ao dia. A grande lacuna entre produção e demanda, ao invés de diminuir, tende a aumentar pela falta de iniciativas no sentido de fomentar a produção estadual. Especialistas afirmam que tanto o governo como a indústria deveriam focar mais em alternativas que melhorem a genética e promovam o aumento dos plantéis. “Vale muito mais a pena, em termos de custos de produção, melhorar a produtividade, gastar menos e produzir mais com o mesmo número de animais, incrementando apenas a alimentação”, observou Palharini. Investimentos em implementos também são recomendados, como a compra de resfriadores e ordenhadeiras de qualidade.
O diretor-tesoureiro da Fetag, Amauri Miotto, ponderou que a tendência após um período de estiagem e redução de pastagens é de uma retomada lenta da produção. “Os animais ficaram muito debilitados e a falta de alimento vai refletir no próximo ciclo de cria.” O dirigente diz que a estiagem assustou os produtores, que amargaram entre maio e junho perdas de até 1 milhão de litros de leite ao dia. Miotto concorda com a possibilidade de retomada e de produção para até 9 milhões de litros dia, o que talvez não ocorra com a velocidade que a indústria espera. “O produtor gaúcho apostou nessa atividade como uma nova alternativa de produção, muitas vezes mais segura do que o trabalho com lavouras, cujas perdas e os custos tendem a ser mais altos.”
O momento de entressafra, agravado pela redução na oferta de pastagens em função da estiagem que castigou os campos no início do ano, fez subir os preços do leite. Ao produtor, os valores pagos oscilam entre R$ 0,72 e R$ 0,73 pelo litro. “São valores bons, que ainda permitem que se produza leite normalmente”, diz o dirigente da Fetag. No entanto, a tendência é de que esses valores despenquem com a entrada da safra, nos próximos meses, prejudicando a atividade produtiva. “Existe um preço mínimo, mas não condiz com a realidade dos produtores, é meramente um valor de parâmetro, não de custos reais”. A falta de pastagens obrigou os produtores a investirem em silagem, o que encareceu os custos de produção. A sugestão também é de que sejam estabelecidos preços mínimos justos aos produtores, para que houvesse uma fidelização maior em relação às indústrias.
Solução para equilibrar o mercado pode estar em sistema de cotas de produção
Uma das saídas para o incremento de produção leiteira é a implantação de um modelo, ainda em fase de estudo, que funcionaria de forma semelhante ao sistema integrado, muito difundido entre a suinocultura e avicultura. “É difícil implantar a integração no Estado, estamos formatando um sistema de cotas de produção, que poderia ajudar a regular o mercado”, adianta Darlan Palharini, do Sindilat-RS.
A iniciativa serviria para organizar melhor a cadeia, com possibilidade de o produtor planejar sua produção com antecedência, para o mercado não ficar no aperto na entressafra e nem o produtor recebendo menos em épocas de safra. “A ideia é fazer com que sejam fechados contratos com antecipação, para que o produtor tenha noção do quanto pode investir e o quanto pode crescer em produção”, explica.
O consumo interno absorve 90% da produção gaúcha e os outros 10% são enviados para outros estados, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. Quando às exportações, foram 83 mil toneladas de leite em pó enviadas para o exterior, em 2008 e 30 mil importadas. Neste ano, o primeiro semestre fechou com a exportação de 11 mil toneladas e importação de 40 mil toneladas de leite.
O crescimento apontado pelo Sindilat - que completou 40 anos neste ano, com 26 empresas associadas - é resultado da observação do comportamento produtivo desde 2005, quando houve um crescimento de 18% ao ano. De 2005 para 2006 foram 12,87%, de 2006 para 2007, 15,99% e de 2007 para 2008, 7,86%. “Nos assustamos em maio, quando a produção teve perdas de até 5,75%, no entanto contamos com um número maior de animais em 2009, o que pode colaborar para o incremento previsto.” O número de animais tem crescido desde 2005, quando o plantel de bovinos leiteiros era de 1,2 milhão de cabeças. Em 2006, foram 1,23 milhão de cabeças, 1,32 milhão em 2007. Em 2008, houve um salto para 1,41 milhão de cabeças e estima-se que em 2009 o volume total chegue a 1,49 milhão de animais.
Veículo: Jornal do Comércio - RS