Indústria quer garantir seu algodão

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Pluma: Com menor oferta, têxteis fazem contratos de longo prazo

 

As indústrias têxteis instaladas no país começaram a fazer este ano contratos de compra de longo prazo com os produtores de algodão do Brasil para garantir o abastecimento e matéria-prima de melhor qualidade. A estratégia se justifica já que a produção nacional deverá cair pela segunda safra consecutiva, depois de atingir seu recorde no ciclo 2007/08.

 

Tradicionalmente, as indústrias têxteis compram a matéria-prima no país da "mão para boca", sobretudo durante o pico da colheita, quando os preços do algodão estão mais baixos. Essa prática, inclusive, levou muitos cotonicultores, principalmente os do oeste baiano e Centro-Oeste do país, a exportar boa parte de sua produção.

 

Mas a expectativa de nova queda da produção em 2010 tem levado as indústrias nacionais, que consomem 900 mil toneladas de algodão por ano, a negociar antecipadamente com os produtores. Analistas de mercado também estimam que as importações, que atingiram na safra passada um dos patamares mais baixos da história do setor (33 mil toneladas), poderão superar 100 mil toneladas nesta safra.

 

Se confirmadas as estimativas, as despesas podem alcançar US$ 150 milhões (considerando os preços de importação do algodão hoje), segundo analistas ouvidos pelo Valor. "As importações deverão ocorrer no primeiro e segundo trimestre de 2010, durante o período de entressafra", disse Miguel Biegai, analista da Safras&Mercado.

 

A colheita de algodão desta safra, a 2008/09, que está em curso e com atraso de pelo menos 30 dias, deverá ser de 1,19 milhão de toneladas, 26% menor que o ciclo anterior (de 1,6 milhão de toneladas), segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Para 2009/10, cujo plantio começa em novembro, a previsão é de uma produção ainda menor, próxima a 1 milhão de toneladas, segundo estimativa preliminar da Safras. Os preços mais atraentes da soja estão estimulando os produtores de algodão a migrar de cultura.

 

A queda da oferta da matéria-prima começa a preocupar as indústrias. A Karsten, de Blumenau (SC), tem contrato de compra de longo prazo até março de 2010 com os produtores, e pretende estendê-lo, disse uma fonte da empresa. "Pretendemos prorrogar até junho." Apesar da forte queda do dólar, a empresa teme que o câmbio volte a elevar os custos da empresa com importação.

 

A espanhola Tavex Corporation (antiga Santista Têxtil), que consome cerca de 70 mil toneladas de algodão em pluma por ano, tenta estreitar a relação com os produtores para garantir algodão de melhor qualidade, afirma Tim Kuba, diretor de abastecimento da companhia. A Tavex está com estoques suficientes para as próximas semanas. Mesmo assim, ressalta que depender do dólar pode ser arriscado, uma vez que a moeda estrangeira registrou valorização de 31,3% em 2008.

 

Andreas Broder, diretor da Fiação São Bento, de São Bento do Sul (SC), diz que a empresa não aderiu ainda aos contratos mais longos com os produtores porque "os preços são voláteis". Broder teme que os cotonicultores tentem renegociar os contratos, caso as cotações do algodão estejam mais altas no momento de entrega da pluma.

 

Os contratos de longo prazo são comuns nas exportações. Cerca de 500 mil toneladas de algodão da safra 2008/09 já foram negociadas no mercado externo, afirma Ronaldo Spirlandelli de Oliveira, presidente da Appa (Associação Paulista dos Produtores de Algodão). As exportações nacionais giram entre 500 mil e 600 mil toneladas nos últimos anos.

 

"Aqui no oeste baiano tem produtores com exportações comprometidas até 2012", diz Walter Horita, um dos maiores cotonicultores do Brasil e presidente da Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia).

 

Para Marco Antonio Aluísio, diretor da Empresa Interagrícola SA, ainda é muito cedo para cravar uma nova queda da produção de algodão no país para o ciclo 2009/10. Segundo ele, o plantio de algodão adensado no Centro-Oeste poderá compensar a possível queda de área plantada no país. No entanto, o adensamento (mais algodão em menor área) ainda não é uma tradição no país.
 


Veículo: Valor Econômico


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