A Wal-Mart Stores Inc. está testando um novo tipo de loja de atacado com temas latinos, em sua busca por crescimento nos Estados Unidos e apesar do histórico nem sempre animador das incursões no segmento étnico realizadas por outras redes varejistas.
O Más Club, inaugurado quinta- feira em Houston, Texas, visa satisfazer o desejo dos imigrantes de saborear seus alimentos tradicionais, oferecendo-os em grandes volumes, ao estilo americano.
Esse clube de compras, derivado da rede Sam's Club, faz parte de um esforço mais amplo da grande rede varejista de conquistar com lojas especializadas a população latina do país, que está em rápido crescimento.
Por enquanto, os produtos da loja estão sendo obtidos principalmente de fornecedores tradicionais da rede, com algumas poucas novidades compradas no México. Não está claro se uma eventual expansão do conceito implicará na ampliação das compras na América Latina.
A iniciativa também surge num momento em que o Wal-Mart procura revigorar seu faturamento nas lojas do Sam's Club. A participação delas no total de US$ 401 bilhões em vendas da Wal-Mart caiu de 13,3% em 2005 para 11,7%, ao passo que o faturamento internacional saltou de 18,7% para 24,6% no mesmo período.
A varejista, cuja sede fica em Bentonville, no Estado de Arkansas, também está testando um novo Sam's Club com ênfase em serviços, dedicado exclusivamente a pequenas empresas, ao mesmo tempo que visa o mercado latino com uma nova loja de alimentos chamada Supermercado de Walmart.
Algumas tentativas de empresas americanas de supermercados de abrir lojas com tema latino acabaram fracassando, inclusive um esforço pioneiro, feito há duas décadas, pelos supermercados Vons, da Safeway Inc., no sul da Califórnia, chamado "Tianguis", apelido mexicano para os mercados de rua.
Especialistas no setor de supermercados advertiram que o Wal-Mart enfrenta a forte concorrência de pequenos armazéns e cadeias de alimentos de tamanho médio, tais como a texana Fiesta Mart Inc., em um mercado já muito disputado.
"A pergunta é a seguinte: o que o Wal-Mart pode oferecer que já não esteja sendo oferecido por alguma face amigável?", diz Bob Reynolds, ex-executivo da Safeway e consultor da indústria de supermercados.
A Wal-Mart, maior varejista do México em faturamento, divulgou que está testando o conceito do Más, e pode vir a usá-lo sobretudo como laboratório para adaptar lojas já existentes do Sam's Club aos diferentes gostos locais.
"Há uma oportunidade para o Sam's Club de ampliar sua base de membros através do Más Club", diz Kenny Folk, diretor sênior de novos negócios do Sam's Club. "Esperamos que o Más Club evolua, à medida que passarmos a conhecer melhor os nossos membros. Eles vão nos ajudar a decidir até que a ponto e com que velocidade esse formato deve avançar."
Por uma taxa anual de US$ 30, menos do que os US$ 40 necessários para a assinatura básica do Sam's Club, o consumidor tem uma megaloja de alimentos em versão mexicana - incluindo padaria especializada em tortillas, 20 variedades de doces mexicanos sempre frescos, um açougue que corta carne de porco segundo o pedido do freguês e petiscos étnicos especiais, como língua bovina inteira. Ou seja, muito mais alimentos frescos do que há no Sam's Club, que oferece sobretudo congelados e pré-embalados.
A atmosfera do Más Club é tanto de bodega mexicana como de megaloja. As placas em cores vivas como laranja, verde e vermelho são em espanhol com legendas em inglês. A loja inclui um posto de saúde e uma firma de remessa de dinheiro, que alugam o espaço do Wal-Mart.
Mas há menos produtos eletrônicos e utilidades domésticas do que no Sam's Club. As prateleiras estão cheias de camisas de futebol do Club Deportivo Guadalajara, do México, e do espanhol F.C. Barcelona, assim como refrigerantes e doces das mexicanas Femsa SA e Chupaletas SA.
"Ainda não tenho certeza se é melhor do que a Fiesta, mas creio que a Fiesta vai enfrentar uma certa concorrência", disse Eris Contreras, de 29 anos, ao comprar frango marinado no açougue da loja, semana passada.
"Realmente estamos encontrando aqui muitas coisas variadas, que antes nossa família no México precisava mandar para a gente", disse Ariana Zamorra, de 22 anos. Sua mãe, Eva, de 54 anos, acrescentou que as placas nos dois idiomas a fazem se sentir mais segura. "Quero ter certeza de que eu compreendo o que é que estou comprando", disse.
Enquanto cadeias regionais de lojas de alimentos como Publix Super Markets Inc. e H.E. Butt Grocery Co. também já lançaram, nos últimos anos, formatos destinados ao consumidor latino, outras adaptaram lojas já existentes, entrando com mercadorias étnicas e placas em espanhol.
Essa é a estratégia da Winn-Dixie Stores Inc., que opera mais de 500 lojas de alimentos no sudeste dos EUA. Foram acrescentadas placas bilíngues e mercadorias étnicas em bairros com forte presença latina para se adaptar à clientela, sobretudo imigrantes de Cuba, México e América Central.
"Decidimos adotar o formato de uma única loja, a Winn-Dixie, pois nos permite atuar com mais eficiência", disse Dan Portnoy, diretor de mercadorias da Winn-Dixie. "Já temos uma marca forte na área de Miami."
O Más Club também tem um atacadão anexo onde os pequenos comerciantes podem comprar por atacado cerca de 500 dos 3.000 itens vendidos na loja - uma tentativa feita pelo Wal-Mart de atrair os pequenos comerciantes, tirando-os dos atacadistas menores que atualmente são seus fornecedores.
Entre os produtos latino-americanos vendidos a granel estão os salgadinhos Sabritas, da PepsiCo Inc., refrigerante sabor maçã Sidral Mundet da Femsa e o doce de tamarindo da Chulaletas.
Embora alguns deles já fossem vendidos nos EUA, outros o estão sendo pela primeira vez, e o Wal-Mart teve de se certificar de que eles atendem aos padrões da FDA, agência americana que fiscaliza alimentos e remédios.
Se a tentativa vai se enraizar ou não, isso vai depender de pessoas como o José Galvan, dono de uma padaria mexicana chamada Dos Naciones. Enquanto conversava com um funcionário da J&A Regio Distributors, fornecedora de alimentos mexicanos que fica a poucos minutos do Más Club, Galvan contou que já faz compras no Sam's Club, mostrando com um sorriso a carteirinha de membro.
"O Wal-Mart gosta de entrar com uma grande loja e matar as lojinhas pequenas", disse Galvan.
"E a gente tem que fazer negócios segundo as condições deles. Mas não creio que eles consigam se igualar aos relacionamentos que consigo formar em lugares como este aqui."
Veículo: Valor Econômico