O preço do pãozinho francês disparou quando a cotação do trigo estava em alta . Isso, porém, não ocorre, no movimento inverso. Considerado um item de peso na composição dos índices de inflação, o popular pãozinho ficou apenas 0,22% mais barato nos últimos dois meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já a tonelada do trigo em grão recuou 22% no mesmo período, de acordo com dados da Safras & Mercado. Os dados mostram que, durante a subida, entre janeiro e maio, o trigo em grão teve alta de 30,1% e o pãozinho 18,1%, acompanhando a tendência do mercado.
Os problemas nas exportações da Argentina e a entressafra brasileira provocoram forte alta nos preços internos do cereal, matéria-prima de vários produtos que compõem a cesta básica. Isso fez o governo federal tomar medidas drásticas. Em maio foi anunciada a isenção do imposto sobre importação, para indústrias comprarem fora do Mercosul, e publicada a Medida Provisória que isentou o PIS e a Cofins (9,25%) da cadeia do trigo até o final do ano.
"Os preços demoram um pouco para cair porque existe toda a cadeia, composta por mão-de-obra, aluguel, energia etc. A farinha é apenas um dos insumos", analisa Fábio Silveira, da RC consultores. Ele concorda que ainda possa existir uma certa "gordura" para ser queimada, mas explica que a análise efetiva precisa ser feita após dois anos, no mínimo.
O presidente do Moinho Anaconda, Luiz Martins, afirma que o repasse da queda foi feito. "A isenção dos impostos sobre a cadeia fez o preço recuar bastante", afirma. Segundo a empresa, a saca de 50 quilos de farinha de trigo recuou de R$ 83, em abril, para R$ 67, em agosto (-19,2%). O executivo explica que a queda das commodities também auxiliou a queda.
"Desde a retirada do PIS/Cofins, o pãozinho caiu 4% em média", diz Alexandre Pereira Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Panificação (Abip). No entanto, ressalta que a comparação deve ser feita com base nos últimos 12 meses. "O aumento deveria ser de 40% nesse período, mas repassamos apenas 25%. As padarias que repassaram o aumento antes da isenção do imposto, reviram os aumentos", completa. Antonio Carlos Henriques, presidente do Sindicato da Panificação, acrescenta que na região do ABC paulista, o recuo foi de 10% nos últimos meses. "Isso representa 30% de redução direta, pois a farinha representa esse percentual na composição do pão", calcula.
Na outra ponta, os baixos preços pagos pelo trigo no Paraná estão restringindo o volume de negócios desta safra, que atinge apenas 13% do total colhido. De acordo com dados da Safras & Mercado, o estado já colheu 1,5 milhão de toneladas (51%), de um total de 2,9 milhões de toneladas esperados. O volume negociado gira em torno de 200 mil toneladas. Segundo a consultoria, os preços em algumas regiões são inferiores ao mínimo, estipulado pelo governo em R$ 480 a tonelada.
Para garantir a renda ao produtor, o governo federal já sinalizou com R$ 450 milhões em recursos para o setor. No caso do Paraná, no próximo dia 11 será realizado um leilão de 3.704 contratos de opção de venda para garantir renda ao produtor.
"Neste ano, os moinhos estão bem abastecidos por causa da isenção do imposto de importação. Sem contar com a liberação de novas exportações de trigo argentino", comenta Élcio Bento, analista Safras & Mercado. Ele acrescenta que só ocorrerão negócios com o preço nesses patamares para cobrir custos. Bento diz que além das 900 mil toneladas prometidas, o governo argentino liberou mais 1,44 milhão de toneladas em agosto, o que inundou ainda mais o mercado.
No Rio Grande do Sul, embora a safra não tenha sido colhida em grande quantidade, a preocupação é a mesma. "Este ano a comercialização será um problema. O mercado está parado e o governo deverá adotar mecanismos para ajudar", acredita Tarcísio de Mineto, analista econômico da Fecoagro. Outro grande problema apontado por ele no estado é a tarifa de 12% de ICMS cobrada pelo governo. "Se não abrir mão disso, o trigo do estado vai ficar ainda menos competitivo", afirma.
Veículo: Gazeta Mercantil