Os fabricantes de alimentos estão lançando mais produtos com grande quantidade de fibras, e apostam que novas tecnologias alimentares são capazes de superar a tradicional aversão dos consumidores a esse tipo de comida.
Nos Estados Unidos, a linha Activia da francesa Danone SA recentemente adicionou uma marca de iogurte que contém três gramas de fibra, ou 12% da dose diária recomendada pelo governo dos EUA numa dieta de 2.000 calorias. A Kellogg Co. informou que, até o fim de 2010, a maioria dos cereais matinais que ela vende nos EUA conterá pelo menos 10% da porção recomendada. A General Mills Inc. está lançando este mês uma nova linha de sopas com 28% da quantidade diária recomendada por xícara.
Alimentos embalados que propagandeiam o uso de fibras foram uma das categorias de maior crescimento nos EUA no ano passado, com alta nas vendas por unidade de 10,2% nos 12 meses até 8 de agosto, segundo a Nielsen Co., excluídas as lojas do Wal-Mart Stores Inc. e outros varejistas não tradicionais. Mundialmente, os fabricantes têm aumentado bastante seus lançamentos de produtos com alto teor de fibras: de 876 em 2004 para 4.329 no ano passado, segundo a firma de pesquisa de mercado Datamonitor. Neste ano, até 7 de agosto, foram 2.706.
O novo impulso a favor das fibras é parte do esforço dos fabricantes de realçar o aspecto saudável de seus cardápios. Os consumidores exigem hoje mais nutrição dos alimentos embalados e as empresas esperam que a adição de ingredientes como vitaminas e fibras, em vez da simples remoção de gordura saturada, sódio e açúcar, ajude a estimular as vendas.
"Os consumidores respondem melhor a mensagens positivas. Eles se sentem perdendo algo se você tira o sal, o açúcar ou a gordura", diz Mary Ellen Camire, uma professora de nutrição da Universidade do Maine.
As empresas também querem se proteger do avanço de produtos de marcas próprias de preço mais baixo. Como a adição de fibras tende a aumentar os custos, "será extremamente difícil para as marcas próprias copiá-las", disse David Mackay, presidente executivo da Kellogg, ao Wall Street Journal.
Mas o aumento acelerado da ingestão de fibras pode gerar consequências indesejadas. Cada vez mais produtos alertam, nas embalagens, que o aumento rápido no consumo delas pode levar a "desconforto gastrointestinal".
Basicamente, as fibras são qualquer carboidrato que o sistema digestivo humano não consegue decompor totalmente. Em consequência, elas ajudam a transportar os restos alimentares ao longo do trato digestivo. Mas a rápida ingestão de fibras pode ter efeitos colaterais como flatulência, inchaço do abdome e cólicas. Isso porque os músculos intestinais, pouco acostumados a empurrar tanto material fibroso pelo corpo, são forçados a trabalhar mais e as bactérias intestinais convertem parte das fibras em gases.
Os cientistas descobriram benefícios numa dieta rica em fibras. Algumas ajudam a dar a sensação de saciedade com mais rapidez e por um período mais longo, o que leva as pessoas a comer menos. Estudos também mostram que as fibras podem ajudar a regular os picos de açúcar no corpo, um importante fator para diabetes, eliminar o colesterol do sangue e, provavelmente, ajudar o corpo a combater doenças ou infecções ao aumentar o número de bactérias digestivas no intestino.
As fibras já estiveram na moda antes. A Kellogg foi pioneira ao lançar os cereais matinais Bran Flakes e All-Bran, em 1915. Em 1985, a General Mills lançou a linha Fiber One em meio a outra onda de fibras.
Mas, em cada uma dessas ocasiões, o interesse foi diminuindo, principalmente por causa do sabor. As pessoas reclamavam que esses alimentos, tradicionalmente carregados de cascas de trigo e aveia, eram sem gosto e granulosos, segundo executivos do setor e cientistas.
As empresas afirmam que novas tecnologias estão ajudando a tornar os alimentos com fibras mais saborosos.
Novos sistemas de moagem ajudaram a General Mills a melhorar o formato das partículas de fibra para reduzir a aspereza de cereais lançados mais recentemente, diz John Mendesh, vice-diretor de pesquisa e desenvolvimento da divisão de cereais.
Além disso, as receitas para o cozimento correto das fibras costumavam exigir muita fervura e água, que tendiam a tirar o gosto de outros ingredientes, como mel e canela. Novos métodos permitem o uso de menos cozimento e água.
Os fabricantes de ingredientes também desenvolveram novas fontes para fibras em pó e líquidos, além dos tradicionais trigo e aveia. Eles estão extraindo fibra do milho, algas e raízes de ervas como chicória, ou sintetizando-as com uso de bactérias. Esses novos tipos de fibras podem ter sabores mais nítidos ou mesmo realçar o gosto de frutas, chocolate e baunilha, diz Cristina Munteanu, cientista sênior de alimentos da fabricante de ingredientes GTC Nutrition, uma unidade da Corn Products International Inc., que produz adoçantes e amido.
Veículo: Valor Econômico