A estagnação na produção de cana-de-açúcar, em razão da crise econômica que abate o setor, aliada à quebra de safra na Índia e no Egito, deve gerar o segundo déficit seguido na oferta mundial de açúcar mesmo com a quantidade recorde que a indústria brasileira vai processar neste ano. Segundo estimativa divulgada ontem pela Conab, a safra nacional será de 629,02 milhões de toneladas - 10% a mais que em 2008.
Apesar dos preços recordes do açúcar, a próxima safra deverá ser marcada apenas pela consolidação de grupos que já vinham alavancados e novos investimentos serão limitados pela dificuldade financeira pela qual atravessa boa parte das usinas.
Em estudo inédito divulgado ontem pela Conab, o próprio governo admite a crise. "O setor está atravessando uma crise econômica de grande intensidade e, certamente, a mais persistente e duradoura desde o final do processo de liberalização desse setor no fim dos anos 90", afirma o estudo intitulado "Os Fundamentos da Crise do Setor Sucroalcooleiro no Brasil", de Ângelo Bressan Filho, técnico da estatal.
A paralisação dos novos investimentos já é percebido pelas empresas do setor.
Na avaliação de Fernando Vieira, diretor de comércio internacional da Copersucar S.A., as usinas de açúcar do Brasil não conseguem aumentar a capacidade e se beneficiar do preço do produto, o mais alto já registrado nos últimos 28 anos.
"Não vemos grandes investimentos para o setor açucareiro no ano que vem, devido à falta de crédito e de recursos próprios", disse Vieira durante conferência do setor realizada ontem na cidade de Nova Délhi, na Índia. "No curto prazo não prevemos grande aumento da produção", reforçou o executivo da Copersucar.
A estagnação da produção no Brasil, que também é o maior exportador mundial de açúcar, e a escassez por que passam mercados da Índia ao Egito deverão ampliar o déficit da oferta mundial do produto pelo segundo ano consecutivo. Na última safra a Índia teve uma quebra de quase 50% após sua produção ter alcançado 28 milhões de toneladas. Na próxima safra a ser colhida, alguns analistas defendem um número inferior a 19 milhões de toneladas, o que, para o país representaria um déficit interno de pelo menos 3 milhões de toneladas.
O Egito, que também deve registrar quebra de safra, anunciou que irá às compras do produto no mercado internacional, assim como o México, um dos maiores consumidores mundiais de açúcar, cujo governo já autorizou a importação de 400 mil toneladas de açúcar por meio de cotas.
Mesmo no Brasil, onde a Conab prevê um aumento de 734,5 milhões de sacas de açúcar contra 632,4 milhões de sacas do período anterior, alguma quebra poderá ser observada devido às intensas precipitações, segundo Eduardo Leão de Sousa, diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). "O Centro-Sul do Brasil, a maior região produtora de açúcar do mundo, deverá gerar este ano menos que os 31,2 milhões de toneladas do produto estimados", avaliou. Os produtores da região deverão ampliar sua capacidade de processamento de cana em 1 milhão a 1,5 milhão de toneladas no ano que se inicia em maio de 2010, ano em que a produção total do país não deverá aumentar.
Com a provável escassez de açúcar, o preço do produto está atingindo patamares recordes, contribuindo para a elevação do valor das ações das empresas do setor que têm capital aberto.
Ao final de agosto, os papéis da Açúcar Guarani (ACGU3) haviam avançado 167,1%, seguidos pelas ações da São Martinho (SMTO3), com alta de 86,1%, e da Cosan (CSAN3), aceleração de 82,4%. Ainda assim companhias do setor mantêm a cautela.
"Apenas quando o mercado voltar ao normal vamos voltar a pensar em abertura de capital", disse Moacir Megiolaro, diretor de operações da CentroSul, controlada da Brenco. O executivo disse que a CentroSul e a Uniduto, ambas da Brenco, devem anunciar até o final do ano o nome da parceira nos projetos de dutos das duas empresas. A companhia também deverá ter uma estrutura própria no duto que fará parte da extensão do Porto de Santos.
Veículo: DCI