Cadbury rejeita oferta de US$ 17 bi, mas Kraft continua interessada

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A rápida rejeição da britânica Cadbury PLC à surpreendente oferta de compra de 10,2 bilhões de libras esterlinas (US$16.73 bilhões) feita pela americana Kraft Foods Inc. cria o palco para uma batalha que pode mudar bastante o mercado de doces.

 

Ontem, a Kraft, dona de marcas como Sonho de Valsa e Trakinas no Brasil, veio a público com uma oferta em dinheiro e ações pelo ícone britânico, que já havia recusado a oferta em conversas reservadas. Ao rejeitar publicamente a oferta, a Cadbury, que faz o Halls e o Chiclets, informou que a proposta, que representa um ágio de 31% sobre a cotação da ação no fechamento de sexta-feira, "fundamentalmente subestima" o valor da empresa.

 

Para a Kraft e para sua presidente, Irene Rosenfeld, o negócio expandiria o alcance da empresa mundialmente e colocaria algumas das marcas mais conhecidas no mundo sob o mesmo teto. Potencialmente, isso também criaria um rival à altura para a americana Mars Inc., que no ano passado fortaleceu-se ao comprar a também americana Wm. Wrigley Jr. Co.

 

A rejeição imediatamente pressionou a Kraft a aumentar a oferta. Pessoas próximas da Cadbury - cujo presidente executivo, Todd Stitzer, está no meio de um plano de crescimento de quatro anos - dizem que a empresa vê a oferta como um esforço de se aproveitar do seu valor de mercado deprimido. A abordagem obrigará a Cadbury a decidir se luta para proteger sua independência ou encontra um comprador amigável.

 

Ontem à tarde, tudo indicava que a Kraft enfrentaria concorrência. Uma pessoa a par do assunto disse que a fabricante americana de chocolates Hershey Co. "reconhece que a Cadbury é a última grande empresa de confeitos que pode estar disponível e, como tal, é provável que responda". A Hershey e a Cadbury já discutiram uma união entre elas. A Hershey há anos distribui produtos da Cadbury nos Estados Unidos.

 

Uma fusão entre a Kraft e a Cadbury criaria uma gigante de alimentos mundial, com US$ 50 bilhões em receita anual, e aumentaria as perspectivas de crescimento da Kraft ao dar a ela acesso a novas marcas. Doces costumam ter margens de lucro operacional maiores que as da Kraft como um todo - ela também vende frios e refeições instantâneas - , que estão em torno de 9%.

 

O negócio também adicionaria novos canais de distribuição para os atuais produtos da Kraft. A presença da Cadbury nos mercados internacionais é especialmente atraente. A Cadbury tem a maioria de suas vendas fora dos EUA, e mais de um terço com origem em mercados emergentes de rápido crescimento.

 

A oferta atribui à ação da Cadbury valor de 7,45 libras, pagos com 3 libras em dinheiro vivo e 0,2589 de cada nova ação da Kraft para cada ação da Cadbury.

 

Em entrevista ao Wall Street Journal, Rosenfeld disse acreditar que a Kraft fez uma proposta "plena e justa". Apesar disso, a Kraft não eliminou a possibilidade de melhorar sua oferta. Rosenfeld prometeu trabalhar por "uma conversa construtiva" com a Cadbury, mas disse que a Kraft permaneceria uma compradora disciplinada.

 

"Nos últimos três anos, consumimos tempo transformando a Kraft, revitalizando nossos negócios", disse Rosenfeld. A oferta pela Cadbury tem como objetivo o "crescimento. É para construir o futuro. Essas são duas empresas altamente complementares que podem fazer grandes coisas juntas."

 

Ontem, as especulações se concentravam na possibilidade de que a Hershey ou a Nestlé SA se candidatassem - provavelmente em parceria - como alternativa à Kraft.

 

A Hershey e a Cadbury têm discutido uma união há anos. Em janeiro de 2007, Stitzer, que é nascido nos EUA, sentou-se com o então diretor-presidente da Hershey, Richard Lenny, e sugeriu que criassem uma "potência mundial dos doces", mas as negociações não chegaram a nada.

 

Quando o acionista controlador da Hershey, a Hershey Trust Co., tentou retomar as negociações naquele ano, o clima para um acordo havia esfriado. O Hershey Trust tem se recusado a ceder controle da Hershey, então parece que a única maneira de fazer um negócio com a Cadbury seria comprando-a.

 

A Nestlé, por outro lado, tem uma grande operação de chocolates no Reino Unido. Se combinada com a Cadbury, poderia aguçar a preocupação das agências antitruste. Apesar disso, pessoas próximas da empresa suíça disseram que a manobra da Kraft poderia forçá-la a pelo menos examinar a possibilidade de comprar a Cadbury.

 

Num encontro com a imprensa ontem, o diretor-presidente da Nestlé, Paul Bulcke, disse que a empresa está sempre "aberta a oportunidades de aquisição se elas fizerem sentido estrategicamente". Ainda assim, ele deu a entender que o apetite da empresa está limitado, por enquanto.

 

Rosenfeld estava de olho na Cadbury há pelo menos um ano, segundo uma pessoa a par do assunto. Mas a oferta foi adiada pela turbulência econômica e dos mercados. Desde março, no entanto, as bolsas subiram bastante no mundo todo, e as ações da Kraft, em particular, aumentaram em um terço.

 

Rosenfeld procurou o presidente do conselho da Cadbury, Roger Carr, cerca de dez dias atrás, dizendo que gostaria de se reunir com ele, de acordo com uma pessoa a par do assunto. Os dois se encontraram no escritório de Carr em 28 de agosto e, na ocasião, Rosenfeld apresentou sua oferta, disse essa pessoa. No dia seguinte Rosenfeld enviou uma carta detalhando a proposta. O conselho da Cadbury, depois de analisá-la e discuti-la, a rejeitou formalmente numa carta polida enviada poucos dias depois, disse uma das pessoas.

 

Uma das pessoas próximas da Cadbury descreveu a oferta de ontem como sem chance de sucesso e disse que a empresa não estava à venda. A proposta contém um componente relativamente alto de ações, de 60%, um problema para os acionistas da Cadbury no Reino Unido, que têm restrições quanto ao total de ações de empresas americanas que podem comprar. A oferta estima o valor de mercado da Cadbury em cerca 13 vezes o lucro de 2008 antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ou Lajida.

 

O mercado estava apostando ontem que uma oferta maior estaria a caminho, e as ações da Cadbury subiram 38%.

 

Veículo: Valor Econômico


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