Empresas voltam a se endividar nos EUA

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A crise nem bem passou, e empresas americanas estão flertando outra vez com endividamento.

 

Juros baixíssimos e uma melhora dos mercados de crédito estão incentivando algumas empresas nos Estados Unidos a emitir títulos de dívida para coisas como pagar dividendos, recomprar ações e financiar aquisições.

 

Essas iniciativas faziam sucesso durante a alta do crédito, mas durante a recessão que se seguiu a maior parte das ofertas de títulos corporativos foi para reduzir dívidas ou acumular caixa.

 

Eric Felder, diretor mundial de operações de títulos de dívida no Barclays Capital, diz que a atração do juro baixo e o acúmulo de caixa das empresas aumentam o risco de "acontecimentos que não vão favorecer os portadores de títulos".

 

Na semana passada a venda de US$ 425 milhões em títulos pela TransDigm Group Inc., fabricante de peças para a aviação, foi uma dessas emissões de títulos de renda fixa do tipo "volta ao passado" que deixaram alguns analistas preocupados. Mais de US$ 360 milhões do montante levantado será usado para pagar um dividendo especial em dinheiro aos acionistas e à diretoria da empresa de Cleveland, Ohio.

 

A emissão da TransDigm aumentou seu edividamento de 3,1 para 4,3 vezes seus lucros antes de despesas financeiras e impostos. O dividendo esperado, de US$ 7,50 a US$ 7,70 por ação, é igual a quase toda a renda líquida divulgada pela TransDigm desde o fim do ano fiscal de 2003, segundo a Moody's Investors Service.

 

A firma de classificações de crédito disse que o dividendo "ilustra a política financeira agressiva da empresa". A Moody's deu à nova dívida uma classificação B3, de alto risco, embora dizendo que o "forte desempenho operacional" da TransDigm "vai permitir à empresa servir a dívida nesse nível mais elevado".

 

Sean Maroney, diretor de relações com investidores da TransDigm, disse que "a estabilidade dos nossos negócios, as altas margens de lucro e o fluxo de caixa consistente" dão à empresa "a capacidade de sustentar esse nível de alavancagem".

 

Tomar emprestado dos portadores de títulos para pagar dividendos aos acionistas é "uma ação típica de uma era passada do crédito", escreveu Jeffrey Rosenberg, diretor de estratégia de crédito no Bank of America Merrill Lynch, em um comunicado divulgado sexta-feira.

 

Com a taxa dos fundos federais a 0% já há nove meses e a confiança voltando aos mercados de ações e de crédito, os investidores vêm se sentindo motivados a assumir mais riscos. Isso está inundando de dinheiro o mercado de títulos corporativos. Os investidores despejaram US$ 43 bilhões em fundos para títulos corporativos com grau de investimento no segundo trimestre, e quase US$ 40 bilhões no terceiro trimestre - quase o dobro de trimestres de alta anteriores, segundo a Lipper AMG Data Services.

 

A onda de compras abaixou o custo do dinheiro para a média das empresas com alta classificação de crédito para cerca de 5% ao ano, segundo a Merrill, um nível não visto desde 2005. No calor da crise, em outubro passado, essas taxas estavam em média a 9%. Até o fim de setembro, este ano mais de l.000 empresas com alta classificação tomaram emprestado a quantia recorde de US$ 860 bilhões, segundo a firma de análise Dealogic.

 

Em julho, a Intel Corp. vendeu US$ 1,75 bilhão em títulos conversíveis, planejando usar US$ 1,5 bilhão dessa quantia para recomprar ações. Um porta-voz da Intel não quis comentar.

 

A grande fabricante de chips tem uma forte classificação de crédito nota A. Mesmo assim o negócio despertou críticas entre alguns analistas e investidores, que dizem que emitir dívida para recomprar ações pode se tornar mais comum, agora que as empresas vão reconquistando a confiança.

 

E à medida que as fusões e aquisições vão retomando o ritmo, o custo mais baixo da dívida em relação ao capital está tentando as empresas a usar as vendas de títulos para acumular uma reserva para reforço nas negociações.

 

Os analistas estão observando a Kraft Foods Inc. - a dona da Lacta -, prevendo que ela vai financiar sua proposta de aquisição da Cadbury PLC, fabricante britânica de chocolates, balas e goma de mascar, levantando uma tonelada de dívidas. No mês passado a oferta não solicitada da Kraft foi avaliada, na época, em cerca de US$ 16,7 bilhões, mas podem se passar semanas até a Kraft apresentar uma oferta formal.

 

Três grandes firmas de classificação de crédito já advertiram a Kraft que poderão reduzir a classificação da empresa se esta chegar a um acordo com a Cadbury. Pelo preço atual da oferta, a Kraft precisaria desembolsar pelo menos US$ 6 bilhões em dinheiro - grande parte, provavelmente, provindo dos mercados de crédito, segundo a Gimme Credit, firma de pesquisas sobre títulos corporativos

 

"A Kraft está empenhada em manter uma classificação de grau de investimento", disse um porta-voz da Kraft, que não quis comentar mais.
 


Veículo: Valor Econômico


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