EUA ampliam exigência de divulgação de calorias

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Volume médio de calorias por transação nas lojas da Starbucks em Nova York caiu 6% após lei entrar em vigor

 

O apetite do governo americano pela contagem de calorias, raridade nos cardápios até recentemente, está prestes a se fazer sentir em milhares de outros lugares que oferecem alimentos, como aviões, cinemas e lojas de conveniências.

 

A ampliação deriva de cláusulas da legislação de reforma do sistema de saúde dos Estados Unidos que entrou em vigor em março. O governo quer informações calóricas à vista do consumidor para que este possa fazer escolhas mais saudáveis e a indústria de restaurantes deu apoio à decisão para assim evitar uma colcha de retalhos de regras municipais e estaduais que está se desenvolvendo no país.

 

Até agora, a expansão da contagem de calorias para além dos restaurantes recebeu elogios de defensores da boa nutrição, mas também críticas de vários setores que alegam que a lei original não foi criada para atingi-los.

 

"As pessoas não vão ao cinema com a intenção primeira de comer", disse Gary Klein, vice-presidente de uma associação de donos de cinemas. "Por que os estádios não foram incluídos? Você acha que a comida servida nos estádios é saudável?"

 

Os estádios não foram incluídos porque a lei determina que redes de restaurantes com 20 locais ou mais é que são obrigadas a divulgar o número de calorias. Essa exigência passou a vigorar quando o presidente Barack Obama sancionou a lei, mas os lugares que servem comida só devem ser obrigados a cumpri-la quando as multas passarem a valer, no ano que vem.

 

Em orientações preliminares divulgadas semana passada, a agência americana de fiscalização sanitária, conhecida como FDA, afirmou que a abrangência da nova lei vai além de restaurantes e passa a incluir companhias aéreas, trens, supermercados e lojas de conveniência que forem redes. Nos supermercados, a FDA informou que está estudando a inclusão de bufês de salada e de pizza, padarias próprias e balcões de frios. Nos EUA, essas seções costumam vender comida para consumo imediato como sanduíches, sopas e refeições por peso.

 

A agência planeja oficializar em dezembro quem terá de apresentar as calorias, e como.

 

Para os consumidores, a mudança representa o próximo capítulo da saga das obrigações de informações nos rótulos que tomou conta da indústria de alimentos embalados nos anos 90. Cerca de 20 cidades ou Estados já aprovaram leis locais exigindo a divulgação do número de calorias no cardápio, desde que a cidade de Nova York foi a primeira a adotar a medida, em 2008.

 

Defensores da alimentação saudável dizem que a mudança pode ser uma ferramenta poderosa para combater a atual epidemia de obesidade nos EUA, uma iniciativa importante para Washington desde fevereiro, quando a primeira-dama Michelle Obama declarou a obesidade infantil sua principal causa.

 

"Todo mundo ficará um pouco mais informado, e isso é uma coisa boa", diz Lou Sheetz, diretor executivo da Sheetz, de Altona, na Pensilvânia, uma rede de 380 lojas de conveniências em seis Estados.

 

A rede já se prepara para divulgar as calorias em seus quiosques, que vendem cachorro-quente, refrigerantes e outros alimentos. "O mais provável é que tenha um efeito negativo nos itens que têm mais calorias do que as pessoas pensavam", disse Sheetz. Mas isso será compensado pela venda maior de produtos saudáveis, prevê.

 

Pesquisas mostram resultados ambíguos sobre o efeito da lei de Nova York na iniciativa das pessoas de escolher alimentos mais saudáveis. Um estudo de 2009 publicado na revista acadêmica "Health Affairs" não encontrou provas de que os dados no cardápio influenciaram o total de calorias compradas pelos moradores da cidade. Um estudo da Universidade de Stanford sobre as cafeterias Starbucks na cidade descobriu que o volume médio de calorias por transação caiu 6% após a obrigação de exibir as informações passou a vigorar.

 

Alguns setores que ainda não tinham sido tocados pelas leis locais estão tentando se isentar da lei nacional antes que ela passe a vigorar.

 

"Não somos restaurantes", disse Erik Lieberman, diretor para regulamentação do Instituto de Marketing de Alimentos, a principal associação de supermercados dos EUA. "A maioria dos clientes dos supermercados não consome na loja os alimentos que compra lá."

 

A nova lei exige que os dados sobre as calorias sejam claros e visíveis - e fiquem ao lado do nome do alimento -, mas a FDA ainda não definiu os detalhes.

 

Para os estabelecimentos que não necessariamente usam cardápio, as exigências podem criar um novo dilema. A American Airlines afirma que não oferece cardápios impressos na cabine principal dos voos internacionais, embora os tenha para a primeira classe.

 

Julie Fields, diretora de relações governamentais da Associação Nacional de Lojas de Conveniência, diz que seus integrantes não têm ideia de como vão dar informações sobre produtos que não constam do cardápio, como as salsichas que ficam girando nas estufas do balcão.

 

Os supermercados alegam que serão os que mais vão ter complicações. As primeiras orientações sugerem que eles terão de divulgar o conteúdo calórico dos alimentos vendidos a granel nas prateleiras, dos sanduíches preparados na hora e dos peixes vendidos na parte de frutos do mar. As lojas afirmam que é quase impossível dar alguma informação útil sobre as calorias dos bufês de salada, já que são os clientes que determinam suas porções.

 

A Schnucks, uma rede de 105 supermercados de St. Louis, Missouri, afirma que está particularmente preocupada com os produtos da padaria, que a maior parte das pessoas leva para comer em casa. "A maioria dos clientes do supermercado não pediu essa informação adicional, então você só pode se perguntar por que terão de pagar mais caro por isso", disse Lori Willis, porta-voz da rede
 

 

Veículo: Valor Econômico


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