Supercade tem obstáculos pela frente

Leia em 3min 30s

A reestruturação do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), aprovada pela Câmara dos Deputados na última quinta-feira, vai esbarrar na falta de estrutura e na necessidade urgente de contratação de pessoal, antes de tornar os órgãos de defesa da concorrência mais ágeis e eficientes. O projeto, que seguiu para sanção da presidente Dilma Rousseff, reduz significativamente o valor das multas cobradas de empresas que infringem as regras de concorrência e exclui o critério "concentração de mercado" na hora de analisar as fusões.

Na opinião do presidente da Comissão de Direito da Concorrência e Regulação da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Minas Gerais (OAB-MG), Paolo Zupo Mazzucato, a unificação dos órgãos é um aspecto positivo do projeto, já que existe hoje excesso de guichês e burocracia no sistema. Entretanto, ressalta, o Cade continua instalado em local que já não comporta suas atividades e não tem pessoal em número suficiente para atender à demanda. E não será simples, nem rápido, realizar concurso público e dar posse aos servidores para que a nova estrutura entre em vigor.

Para agravar a situação, a notificação prévia de casos (que determina que as fusões e aquisições somente sejam concluídas após a aprovação do Cade), acredita Mazzucato, embora tenha um lado muito relevante, vai exigir ainda mais do órgão. "A notificação prévia permite que o Cade tome suas decisões, por exemplo, de desfazer fusões com menos trauma para o mercado e para o próprio órgão, mas não dará celeridade nem contribuirá para reduzir o tempo de tramitação dos processos, que dependem muito mais da complexidade dos casos", salienta. Novamente o Cade esbarra, segundo o advogado, em sua estrutura reduzida e na necessidade de contratação de pessoal.

Outro aspecto que merece críticas refere-se à alteração dos valores para que sejam analisadas as fusões. Hoje, leva-se em conta o faturamento de uma das partes e a concentração de mercado provocada pela fusão. Este segundo critério vai desaparecer. "O que se alega é que a concentração de mercado é controversa, gera polêmica sobre qual mercado será afetado", explica Mazzucato.

O risco, alerta, é que se o parâmetro for apenas o faturamento (R$ 400 milhões de uma empresa e R$ 30 milhões da outra), em um mercado geograficamente mais restrito - caso de um município - ou de produtos de menor valor agregado, poderá haver fusão entre empresas que faturam abaixo do valor estipulado, mas que juntas vão praticar uma concentração prejudicial. "A vantagem de o critério ser somente o faturamento é que é mais fácil apurar se existe concentração ou não", deduz.

Por outro lado, é importante para o Cade aprimorar seu filtro e reduzir o número de casos que chegam ao órgão. Hoje, de acordo com Paolo Mazzucato, 93% das demandas que chegam ao órgão são aprovados sem restrição.

A nova regra vai também reduzir as multas cobradas dos infratores. O projeto aprovado mexeu na base de cálculo, que é de 1º a 30% do faturamento bruto e passará a ter as mesmas alíquotas, porém incidindo sobre o faturamento bruto da empresa no mercado relevante. "Pode ser um critério mais justo, mas vai estimular as infrações", prevê.


Case - Como exemplo, ele relembra o caso que envolveu Varig, Vasp, Transbrasil e TAM num suposto acordo para reajuste das passagens aéreas entre Rio de Janeiro e São Paulo. As empresas não mexeram nos preços de outros trechos. Constatada a infração, elas foram multadas com base no faturamento bruto de cada uma, mas se fosse pelas regras atuais pagariam sobre o que faturaram apenas nas viagens realizadas entre Rio e São Paulo.

Existe um outro aspecto da lei aprovada que ainda vai gerar dor de cabeça. De acordo com Mazzucato, por um equívoco, os parlamentares deixaram de definir as regras para inspeção em empresas em análise pelo Cade. Hoje, elas devem ser comunicadas com 24 horas de antecedência, o que deve ser feito das 6h às 18h. O novo texto não fala nada sobre isto, o que vai gerar questionamento e até ações na Justiça.


Veículo: Diário do Comércio - MG


Veja também

EUA estão processando brasileiros por cartel

Pela primeira vez, executivos brasileiros estão sendo processados nos Estados Unidos por formação d...

Veja mais
Com nova lei, Cade vai julgar menos processos de fusão

As férias do presidente do Cade, Fernando Furlan, e o passeio de carro que ele fazia com a mulher entre o Himalai...

Veja mais
TST discute projeto sobre terceirização

No segundo dia de audiência pública no Tribunal Superior do Trabalho (TST), para discutir a terceiriza&cced...

Veja mais
Comércio de Belo Horizonte abrirá no feriado do dia 12

Segundo o Sindilojas/BH, convenção coletiva permite que as lojas de shoppings e de rua funcionem normalmen...

Veja mais
Ação premia consumidor que encontrar produto com validade vencida

Comprador vai receber gratuitamente produto igual ou similar O consumidor que encontrar produto com prazo de validade v...

Veja mais
Ponto eletrônico impresso é adiado novamente e só valerá a partir de janeiro de 2012

Brasília – A adoção do ponto eletrônico impresso foi adiada pela quarta vez e passa a v...

Veja mais
Ministério do Trabalho aceita rever normas com frigoríficos

Depois de curta reunião em Brasília (DF), o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) concordou em inc...

Veja mais
STJ decide que não há Imposto de Renda sobre juros de mora

A 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu ontem que não incide Imposto d...

Veja mais
Cade espera reforma da lei desde 2005 e completa 500 sessões

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) completa, hoje, 500 sessões em ritmo de transiç...

Veja mais