Inadimplência entre empresas triplica

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O atraso no pagamento de empresas a fornecedores ou clientes pessoas jurídicas no Brasil continuou crescendo neste primeiro trimestre. Em março, mais do que triplicou em relação aos níveis médios até setembro. Os números são da Coface, a maior seguradora de risco de crédito corporativo do mundo, do grupo francês Natixis. "Acho que estamos chegando no fundo do poço", diz Fernando Blanco, presidente da Coface do Brasil. Para ele, os números devem continuar a crescer até junho e depois poderão começar a ter redução.

 

Em março, a Coface recebeu um total de 204 avisos de sinistro no mercado interno brasileiro, na comparação com a média mensal de 60 até setembro do ano passado, antes de a crise de crédito bater com tudo no Brasil. É um aumento de 240%, uma média de 10 por dia. Em dezembro, o número de sinistros já havia chegado a 122.

 

Quando uma empresa segurada pela Coface detecta atraso no recebimento de outra empresa cliente ou fornecedora, geralmente leva uns 30 dias para declarar o sinistro. Depois a Coface tenta a negociação por cerca de 90 dias e, se não consegue recuperar o dinheiro, paga o cliente em 30 dias, na média. "Tudo isso varia de um cliente para outro de acordo com o contrato", diz.

 

Em valores, a média móvel de sinistros dos últimos seis meses é o dobro dos seis meses anteriores. O pico foi em fevereiro, quando o total de sinistros bateu nos R$ 19,5 milhões. Para comparação, no total acumulado em 2008, a declaração de sinistros à Coface atingiu R$ 24,5 milhões, já um aumento de 24% em relação a 2007. Com isso, a área de cobrança da Coface, serviço que é inclusive vendido para fora, cresceu, assim como o de sinistro: desde o início da crise, cinco pessoas já foram contratadas. A Coface do Brasil está hoje com um total de 87 funcionários.

 

A Coface Export, que faz seguro de crédito à exportação de curto prazo, de até um ano, para as empresas brasileiras, percebeu inadimplência pela primeira vez dos importadores de países como a Suécia, Inglaterra, Dinamarca e Chile. "Os Estados Unidos e o México continuam com as maiores quantidades de sinistros declarados", comenta Blanco. O setor químico, que também nunca havia registrado inadimplência, teve vários sinistros declarados, diz Blanco. O número de sinistros no crédito à exportação de curto prazo cresceu 50% no primeiro trimestre na comparação com os últimos três meses do ano passado, afirma.

 

Em meio a uma das maiores crises de crédito da história, a Coface reduziu seus limites globais em 5% para atingir a meta de redução de 80% nos sinistros. "Fizemos um primeiro rapa nos grandes limites", diz Blanco. Agora, veio a fase da sintonia fina nos cortes. "São empresas com as quais não nos preocuparíamos em situações normais, mas que em meio à atual turbulência acabam precisando de atenção."

 

Apesar desse aumento de inadimplência entre empresas no país, no entanto, a Coface não alterou nem a nota de risco de crédito nem a perspectiva da nota do Brasil em sua última revisão. É importante lembrar que o rating da Coface mede o ambiente e o risco de crédito das empresas em um país e não do governo. O Brasil está com a nota "A4", a primeira do grau de investimento, desde dezembro de 2006.

 

No total, 47 países tiveram sua nota ou perspectiva rebaixada, o que significa um corte de limites maiores por parte da seguradora. A Espanha, o Reino Unido e a Irlanda foram considerados mais afetados e tiveram suas notas reduzidas em dois degraus. A Índia, China, países do Oriente Médio e do norte da África foram alguns poucos que escaparam do rebaixamento como o Brasil.

 

Segundo Blanco, o comitê da Coface ficou divido com relação ao Brasil, mas a manutenção do rating brasileiro prevaleceu. A razão: o aumento na inadimplência no país parece temporário, pois os fundamentos continuam sólidos. Com os juros altos e o superávit fiscal primário ainda elevado, há muito espaço para a prática de uma política monetária e fiscal expansionistas, diz. A próxima revisão é em junho.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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