Terceiro painel do Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento da ABRAS debateu sobre a redução do desperdício e como usá-lo no combate à fome
A redução do descarte de alimentos que ainda estão seguros para o consumo foi a pauta do painel “Best Before”, realizado na tarde da terça-feira, 13. Esse conceito de validade, utilizado em muitos países da União Europeia, EUA e Canadá, indica o prazo mínimo em que um produto mantém todas as suas características mas que, passada a data indicada, ainda se mantém prórpio para o consumo – ou seja, não precisa ir para o lixo.
João Dornellas, presidente a ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) foi o líder do painel, e do grupo de estudos sobre o tema. Juntaram-se a ele no palco do evento Paulo Pompílio, vice-presidente de relações institucionais do Grupo Pão de Açúcar; Wadih Damous, secretário Nacional do Consumidor SENACON; Márcio Toscano, diretor da ABRALOG (Associação Brasileira de Logística); Dr. Francesco Montanari, Diretor do escritório ibérico da consultoria Agri-Food Arcadia International e Luciano Benetti Tim, advogado empresarial.
Abrindo o debate, Dornellas trouxe números que representam a quantidade de brasileiros em situação de insegurança alimentar – mesmo o Brasil sendo um dos maiores produtores mundiais de alimentos. Nesse cenário, a troca de “data de validade” por “consumir preferencialmente antes de” faz uma grande diferença na distribuição e vitalidade dos alimentos. Ele lembrou que esse ajuste não cabe em todas as categorias de alimentos, porém poderia ser aplicado em todos os produtos que permanecem estáveis nas gôndolas dos supermercados – sem necessidade de refrigeração, por exemplo. “O ‘best before’ é uma das ferramentas para reduzir o desperdício de alimentos, sempre que possível’. Não é uma solução mágica, mas os dados de ‘perda’ são alarmantes, como os 68% de desperdício que acontecem em casa, além dos 13% no varejo”, reiterou. Segundo ele, é possível reduzir até 10% dessa perda.
A data de validade também promove desequilíbrio ambiental, já que esses produtos “vencidos” são descartados como resíduos. Se todos os alimentos descartados por essa regra representasse um único país, seria o 3º maior poluidor/produtor de resíduos do mundo, atrás apenas da China e dos EUA. “É necessário adotar um critério diferente para todas as categorias que permitam”, declarou. Alguns alimentos, como arroz e café, não precisariam ter uma data de vencimento.
No setor supermercadista, a ineficiência é de 1,78%, somando todos os tipos de itens comercializados. A quebra por validade representa 43% das perdas – são R$ 3 bilhões em produtos descartados no lixo. Vale lembrar que a produção de novos itens consome mais água, energia, transporte, entre outros, impactando uma grande cadeia. Assim, não seria mais assertivo simplificar o sistema?
O Dr. Montanari, especialista no tema, falou sobre a prática do best before na união europeia e trouxe três insights sobre:
há uma clara ligação entre a compreensão e o uso das datas pelos consumidores e o desperdício alimentar; em breve, a UE vai introduzir regras que melhorem a compreensão do best before pelos consumidores; e a rotulagem, por si só, não resolve o problema do desperdício.
Representante do governo federal, Wadih Damous esclareceu que o Governo não está indiferente ao debate, porém as relações de consumo são reguladas por lei. Mas, ao mesmo tempo que o combate à fome é super importante para o Governo, também existe a percepção de que alguns consumidores não teriam a perspicácia de avaliar se o alimento está, ou não, apto para consumo. Também existe o código de defesa do consumidor, que proíbe a comercialização de produtos com data de validade expirada. “Isso não impede o debate, mas ele exige o conhecimento do legislador quanto à sua tangebilidade”, afirmou.
Marcio Toscano trouxe as contribuições logísticas para o debate, entre elas a eficiência no tempo de transporte entre a produção e a comercialização. “Reduzindo esse tempo, ampliamos o tempo próprio para o consumo do produto”, declarou. Tecnologia de monitoramento de parâmetros e a segurança do transporte são outras soluções eficientes que a logística pode trazer para a coalizão.
Para acompanhar todo o painel, basta acessar à gravação do evento do YouTube da ABRAS.
Redação SuperHiper