Redução de 15% na produção mundial nos últimos três anos tende a se ampliar com o desenvolvimento de outros materiais de empacotamento que se dissolvem na natureza em até 36 meses
“Levamos 19 anos para ver aprovada a nossa política nacional de resíduos sólidos e agora temos de rezar para a regulamentação sair em 3 ou 4 anos, o que é demais e só atrasa a nossa posição no mundo desenvolvido e sustentável”
Roberta Cardoso, coordenadora técnica do Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Varejo da FGV-SP
Agora é o plástico, uma ex-majestade do mundo das embalagens — até há bem pouco considerada a melhor opção em termos de armazenamento de produtos — que está seriamente na berlinda por conta da sustentabilidade do planeta. A briga, na indústria e nos governos, já é imensa, e inclui representantes do petróleo, do próprio plástico e até do papel, numa disputa feroz em que as famosas sacolinhas plásticas, que todos os dias vão parar nas casas dos consumidores, são acusadas de vilãs da história, quando apenas representam a ponta de um milionário iceberg.
Há mais ou menos um século, sem as preocupações atuais com os destinos da Terra, embalagens de plástico faziam parte do sonho de consumo das sociedades mais avançadas do mundo, até por suas propriedades incontestáveis: impermeabilidade, resistência e pouca reação com os alimentos ou produtos. Ninguém, àquela época ou até há bem pouco tempo, pensaria que esses “produtos” que encapam comida, bebida, roupa, remédio, lixo, enfim, quase todos os bens de consumo e derivados como os conhecemos, pudessem representar ameaça real ao meio ambiente, como hoje se sabe. Com o tema da sustentabilidade em alta, as embalagens plásticas tradicionais perderam muito espaço para os modelos ecológicos e, nos últimos três anos, houve uma queda de 15% na produção mundial das sacolas plásticas. É bastante.
Para que se tenha uma idéia do que representa a distribuição de sacos plásticos no Brasil, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) produziu recentemente a estimativa de que o país consome, a cada ano, cerca de 12 bilhões de sacolas plásticas tradicionais. Em outras palavras, dividindo o ônus per capita, cada brasileiro utilizaria em torno de 66 unidades ao mês, o que representa uma eternidade de problemas se se lembrar que essa embalagem demora de 300 a 400 anos para se decompor, provocando danos irreparáveis ao meio ambiente, tanto nos aterros sanitários quanto nos rios ou mesmo no mar.
A boa notícia é que, buscando alternativas inteligentes, muitos fabricantes e o próprio mercado começam a encontrar saídas: fala-se hoje em muita coisa nova, de materiais oxibiodegradáveis, a hidrossolúveis e biodegradáveis, que se dissolveriam na natureza em 3 a 36 meses. Estão em alta também o papel e o papelão, e há uma tendência das lojas, exceto supermercados, de migrar para esta solução.
Estima-se que uma embalagem de papel seja 85% mais cara do que as plásticas, mas muito mais facilmente degradável, apesar das limitações de acondicionamento que possuem e da emissão de CO2 que causam. Há que se pesar prós e contras.
Segundo Roberta Cardoso, coordenadora técnica do Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Varejo da FGV-SP, que promove cursos, premiações de melhores práticas e até um Fórum Virtual diário para mais de 500 pessoas sobre o assunto, é no mínimo curioso verificar como os consumidores se comportam quando o tema é sustentabilidade no varejo.
Segundo pesquisa divulgada recentemente pelo próprio GV-CEV, feita qualitativamente com representantes das classes A e C, há seis pontos para fazer pensar todo o mercado de embalagens, varejo e afins. Em primeiro lugar, o consumidor tem uma grande confiança no varejo; ele entende os desafios ambientais e sociais; mas não faz a relação entre o impacto de suas compras (escolhas diárias) com a degradação do meio ambiente. O consumidor tem muita vontade de participar das soluções para as questões ambientais, mas não quer fazer tudo sozinho; ele quer participar, mas não sabe como — o que abrem mundo de oportunidades de soluções para o varejo. Por fim, o consumidor quer saber o que as empresas estão fazendo a respeito do assunto, de forma clara, sem subterfúgios.
REGULAMENTAÇÃO SEGURA EVOLUÇÃO
E as grandes redes varejistas, nacionais ou estrangeiras, presentes no mercado brasileiro, vêm dando respostas, às vezes um tanto lentas, por conta da necessidade de transformação cultural do próprio consumidor. “Mas todo esse processo, que pipoca aqui e ali, numa cidade ou noutra, só indica que precisamos de uma legislação geral a curto prazo”, continua Roberta Cardoso, “por isso é preciso haver urgentemente uma diretriz nacional”. “Levamos dezenove anos para ver aprovada a nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos, e agora temos de rezar para a regulamentação sair em três ou quatro anos, o que é demais e só atrasa a nossa posição no mundo desenvolvido e sustentável”, adverte.
Algus possívels substitutos ecológicos das sacolas plásticas poluentes
PAPEL CERTIFICADO
O selo do Forest Stewardship Council (FSC) assegura que o material da sacola vem de manejo sustentável das florestas. Isso significa preservação, extração responsável de matéria-prima e ajuda no desenvolvimento das comunidades envolvidas no processo
PAPEL RECICLADO
Existem dois tipos: o pré-consumo, no qual a matéria-prima vem de resíduos de fábricas antes de chegar ao mercado (como as aparas) e o pós-consumo, que usa material descartado (como embalagens longa-vida). O segundo tipo ajuda a retirar lixo da natureza por meio de coleta seletiva e da ação de cooperativas de catadores
PLÁSTICO BIODEGRADÁVEL
São feitos a partir de substâncias orgânicas, como milho, cana e batata. Se descartado, o plástico desaparece na natureza em questão de meses. A degradação ocorre pela ação de micro-organismos. No entanto, na ausência de oxigênio (caso seja enterrado, por exemplo), a decomposição gera gás metano, que contribui para o efeito estufa
PLÁSTICO OXIBIODEGRADÁVEL
Um aditivo acelera em até 400 vezes a dissolução do plástico tradicional – com a ação de luz, calor e umidade, reduz o tempo de 100 anos para 3 meses. Em uma segunda fase, micro-organismos terminam o processo e deixam como resíduos apenas dióxido de carbono e água
PLÁSTICO COMPOSTÁVEL
É um tipo de plástico biodegradável com base vegetal que se comporta como matéria orgânica comum. É produzido para ser usado no processo de compostagem, para a obtenção de húmus e adubo
Tempo médio estimado de decomposição de alguns resíduos na natureza
Papel - 3 A 6 MESES
Palito de madeira - 6 MESES
Cigarro - 20 MESES
Náilon - MAIS DE 30 ANOS
Chiclete - 5 ANOS
Tecido - 6 MESES A 1 ANO
Fralda descartável comum - 450 ANOS
Lata e copos de plástico - 50 ANOS
Tampas de garrafa - 150 ANOS
Isopor - 8 ANOS
Plástico - 100 ANOS
Garrafa plástica - 400 ANOS
Pneus - 600 ANOS
Vidro - 4.000 ANOS
Veículo: Brasil Econômico