A alta dos preços da soja, que vem aparecendo com força nos indicadores de inflação do atacado de junho e julho, deve pressionar também a inflação para o consumidor em julho porque já começa a ser repassada nos preços dos supermercados, segundo o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda.
“Já tem alguma correção em junho, mas virá mais forte em julho, com o repasse de parte dessa alta nos preços do óleo de soja”, avalia Honda, que estima que a alta no atacado chegará ao consumidor aos poucos e deve persistir até o fim do ano, para ser revertida apenas em 2013. “O preço já subiu mais de 10% no atacado e agora o aumento vai começar a ser repassado no ponto de venda”.
A principal razão para a inflação da soja é a forte seca que atinge as lavouras nos Estados Unidos, gerando problemas de oferta e impulsionando os preços do grão a níveis recordes no mercado internacional.
O reflexo mais rápido para o consumidor deve vir no preço do óleo de soja, que, segundo os dados da Abras, subiu 3,63% em maio e 3,06% em abril.
No atacado, a soja esteve entre as principais pressões para os indicadores de inflação deste mês. Na segunda prévia de julho do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), soja em grão teve inflação de 11,04%, diante da alta de 2,64% no mesmo período de junho.
No indicador fechado de maio o grão já havia subido 10,05%, e em junho, 4,30%. O farelo de soja apresentou inflação de 14,41% nessa medição, ante alta de 8,4% um mês antes. Já no IGP-10 de julho a inflação do farelo de soja dobrou de 5,05% em junho para 10,17%.
“O que preocupa no óleo de soja é que ele tem uma ramificação muito grande de produtos, margarina, maionese, uma série de derivados. O preço do frango também deve sofrer o impacto do farelo de soja”, prevê. Segundo Honda, é difícil estimar qual será o percentual de aumento repassado ao consumidor, já que o cálculo precisa levar em conta a duração dos estoques atuais dos supermercadistas.
Na avaliação de Honda, o foco de inflação da soja é o único a ditar tendência entre os demais alimentos que mostraram avanço de preços no IPCA-15 de julho. O tomate avançou de 19,4% para 29,3% de junho para julho; na mesma comparação, a cenoura passou de 1,1% para 13,6%, e a batata-inglesa de 6,7% para 11,7%. Apesar dos fortes avanços, todos os itens são mais voláteis e suscetíveis a questões de sazonalidade, na avaliação de Honda.
O presidente da Abras destaca que a motivação da alta dos preços é diferente do que ocorreu em 2008, quando a escalada no preço dos alimentos teve origem em preocupações com a demanda mundial excedente. “[A alta do preço] pode persistir até o fim do ano, mas por outro lado vai incentivar a produção de soja ano que vem. Tanto Brasil quanto Estados Unidos vão produzir muita soja por causa dos preços altos. E no próximo ano todo esse processo deve se reverter”.
Veículo: Valor Econômico