Com a ajuda de entidades ligadas às vinícolas, redes ampliarão atuação
Para ver crescer a comercialização de vinhos no mercado brasileiro, em especial os rótulos nacionais, produtores representados por diversas entidades uniram-se às redes supermercadistas. Para fomentar o consumo, e vê-lo passar do atual 1,9 litro per capita para 2,5 litros até 2016, além de buscar reduzir os estoques altos da bebida no País, o primeiro passo foi conseguir a retirada do pedido de salvaguardas às importadoras. Além disso, projeta-se a ampliação do consumo de itens nacionais também por conta da variação cambial, que tem encarecido o produto.
Como o cenário prioriza a indústria local, os envolvidos se comprometeram a ampliar para 25% a presença de vinhos finos brasileiros nas redes supermercadistas e 15% nos demais estabelecimentos varejistas. Tanto que a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em conjunto com a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), com a Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Alimentos e Bebidas (Abba), e com o Instituto Brasileiro de Vinhos (Ibravin), entre outras entidades, assinaram o termo de cooperação junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior na última sexta-feira (19).
As partes envolvidas também querem a redução dos tributos incidentes sobre o vinho, como o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), além do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS), fixado em 18%, uma vez que essa taxa passeia entre 18% a 25% sobre o valor do produto, dependendo da região do Brasil.
Segundo Márcio Milan, vice-presidente de Abras, as entidades desde março deste ano estão em negociação e isso trará benefícios à cadeia produtiva e ao consumidor. "Queremos aproveitar o potencial de consumo dos 25 milhões de clientes que entram nos 88 mil supermercados brasileiros para ampliar a comercialização de vinhos. Os consumidores poderão ter um mix maior de itens para apreciar, além da ampliação da disponibilidade nas gôndolas de rótulos nacionais", disse ele.
Equilíbrio
A intenção dos envolvidos é de nos próximos quatro anos ter rótulos nacionais equiparados aos internacionais, o que promoverá um equilíbrio positivo tanto aos importadores quanto aos produtores nacionais. O fato também ajudará as vinícolas a conseguirem produzir a preços mais acessíveis - o que acarretará vinhos a custos menores -, e por consequência, a remunerar de forma justa os agricultores que fornecem a matéria-prima: a uva.
A médio prazo, as entidades querem que o índice de litros vendidos passe dos atuais 19 milhões, para 27 milhões de litros de vinhos finos comercializados em 2013. Em 2016, a meta é atingir 40 milhões de litros. "Não podemos esquecer que muito em breve o País receberá um número significativo de turistas. Queremos aproveitar o fluxo para consolidar as marcas nacionais", disse Milan.
A Abras terá papel fundamental para que os pequenos produtos consigam chegar às grandes redes. Segundo o vice-presidente Márcio Milan, a entidade atuará nas negociações entre os produtores e os supermercadistas para que todos tenham mais espaço nos pontos de venda. "Vamos fazer reuniões periódicas para saber como estão as negociações. Além disso, vamos dar atenção à logística para que a marca do pequeno produtor também chegue às gôndolas", enfatizou.
Supermercados
A importância do vinho já é sentida pelos grandes players do setor. A Abras aponta que de 2011 para cá a categoria de vinhos apresentou crescimento em vendas de cerca de 34,9%. No Grupo Pão de Açúcar (GPA), por exemplo, a expectativa é ampliar 10% as vendas deste artigo, em relação a 2011. O índice esperado este ano é maior, uma vez que, de 2010 a 2011, as vendas cresceram 8,5% na rede. Não foi apenas a comercialização da bebida que cresceu, o tíquete médio também avançou no período, conforme explicou Eduardo Chaves, gerente-comercial do Grupo. "Hoje, o tíquete médio do consumidor de vinhos no Pão de Açúcar é 48% a mais do que o tíquete de compras na bandeira."
Com a ajuda de importadoras e negociação própria, a rede quer trazer até o final deste ano um volume 15% maior dessa bebida, categorizada em rótulos nacionais, mas com maior destaque aos estrangeiros com vinhos europeus, espanhóis e portugueses.
Outra rede, a sulista Sonda Supermercados, tem apostado em atendimento personalizado nas lojas para ampliar as vendas. A bandeira criou adegas dentro da operação e disponibilizou sommelier para auxiliar nas compras.
Produtores têm estoque alto até o final deste ano
Uma vez que a taxa cambial tem desfavorecido a importação do produto, e com estoque de 90 milhões de litros no mercado interno, os produtores nacionais de vinhos, afora apostarem nos supermercados para ampliar as vendas, vão contar também com incentivos à exportação.
O acordo firmado entre as entidades ligadas ao setor e o governo federal fará com que as vinícolas encontrem no mercado externo a forma menos conturbada de atingir boa rentabilidade. Segundo Henrique Benedetti, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), a exportação da produção que está nos estoques fará com que os empresários do setor respirem e aproveitem a próxima safra - que começa a ser produzida no final deste ano. "O Brasil tem disponíveis 45 milhões de litros, que serão exportados a granel", disse. Para Carlos Paviani, diretor- -executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), as bebidas são utilizadas como matéria-prima na China, por exemplo. -
Veículo: DCI