Diferentemente do que era esperado pelo mercado -que um executivo estrangeiro, indicado pelo controlador Casino, poderia assumir alto cargo no varejo brasileiro-, o escolhido para suceder Raphael Klein (ex-CEO da Via Varejo e neto do fundador da Casas Bahia) foi o brasileiro Antônio Ramatis Fernandes Rodrigues.
Mesmo com essa indicação -o executivo já atuava no Grupo Pão de Açúcar (GPA) como vice-presidente de Estratégia Comercial-, o varejo no País tem sido tomado por investimentos estrangeiros, em especial pelos franceses. Mas, quando se fala em gestão, os empresários brasileiros ainda estão no poder.
Segundo Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) no varejo supermercadista, mesmo com o domínio do capital estrangeiro, são os brasileiros que ocupam a presidência. "No GPA o presidente é o Enéas Pestana; no Carrefour a gestão é do Luiz Fazzio, e no Walmart, o presidente é o Marcos Samaha", disse. Vale ressaltar que todos os players mencionados são de capital estrangeiro oriundos da França, dos Estados Unidos e do Chile. Para o especialista, os executivos brasileiros são bem preparados e responsáveis pelo crescimento de vendas dentro dessas redes. "Hoje temos boas instituições que formam excelentes gestores. Além disso, existe uma movimentação de brasileiros que vão trabalhar no exterior, justamente pelo bom desempenho que têm aqui no Brasil", explicou ele ao DCI.
O mais recente e emblemático caso de mudança na liderança de uma rede varejista foi do executivo francês e presidente da rede supermercadista Casino, Jean-Charles Naouri, que assumiu o GPA em junho deste ano - fato este previsto desde 2006, quando Abílio Diniz, filho do fundador da rede de supermercados, e Naouri, firmaram sociedade - tinha como maior desafio manter a rentabilidade das operações brasileiras.
Segundo Reginaldo Gonçalves, educador da Faculdade Santa Marcelina (Fasm-SP), o executivo não enfrentou ou terá futuramente dificuldades, uma vez que conhece bem o mercado da América Latina. "Todos achavam que ele não entenderia a cultura do varejo brasileiro, mas, como o Casino possui operações em outros países da América Latina, entende perfeitamente como funciona esse mercado", disse, em entrevista ao DCI.
A afirmação é confirmada por Honda, que, exceto a Cencosud, que tem um número expressivo de executivos chilenos na operação brasileira, todas as outras empresas optaram pelo gestor brasileiro. "É necessário entender a cultura para administrar uma operação", enfatizou ele.
Aquisição
Vale ressaltar que a chilena Cencosud adquiriu em 2011 a rede carioca Prezunic, tornando-se a quarta mais importante no setor brasileiro. Recentemente a rede agregou em seu conglomerado - que inclui as bandeiras GBarbosa, Mercantil Rodrigues, Perini, Bretas - as operações colombianas do Carrefour. Há rumores de mercado segundo os quais ela pode comprar outra rede carioca, a Inter Supermercados.
Para Sussumu Honda, presidente da Abras, é possível que essa nova aquisição aconteça. "A Cencosud tem esse perfil de comprar outras redes como forma de expansão", disse, ao que completou: "É muito mais fácil comprar uma operação pronta e que dá resultados do que montar uma estrutura nova no País".
A explicação para este fato, segundo o especialista da entidade, é que o varejo brasileiro se profissionalizou o suficiente para atender os anseios dos investidores estrangeiros. "O varejo brasileiro vem de um período de 10 anos muito positivo", concluiu.
Questionado sobre uma movimentação maior no setor para o próximo ano, Sussumu Honda acredita que a indústria receberá um aporte maior de capital estrangeiro. "O Pão de Açúcar está consolidado. O Carrefour não se movimentará, assim como o Walmart. Acredito que em pode haver investimentos em outros setores do varejo, assim como na indústria, no próximo ano", disse.
Novos investimentos
A possibilidade de uma movimentação de fusão e aquisição na indústria é confirmada por Reginaldo Gonçalves da Fasm. "O Grupo Legrand e a Daneva Materiais Elétricos firmaram recentemente uma joint venture", argumentou o especialista.
Ainda com informações de Gonçalves, não se pode esquecer que este ano, além da indústria, o varejo recebeu aportes significativos. O Carlyle já esta há cinco anos investindo no País e administra uma carteira na ordem de US$ 156 bilhões em todo o mundo. Comprou recentemente a rede Tok Stock e tinha adquirido anteriormente a Ri-Happy e parte do grupo mineiro Orguel em negócios que chegam a R$ 1 bilhão.
Quem investiu pesado também foi o KKR, que administra recursos da ordem de U$ 60 bilhões e comprou a Centauro.
Veículo: DCI