Com isenção, Planalto espera alta menor no juro

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Mantega pede redução de preço a empresários


O governo buscou ontem o compromisso de empresários para garantir e acelerar o repasse aos preços do corte de tributos da cesta básica.

O objetivo é tentar amenizar a alta de preços, que poderia levar a um aumento de juros ainda neste ano.

O apelo, feito durante reunião do ministro Guido Mantega (Fazenda) com donos de supermercados e empresários da indústria de alimentos, recebeu resposta positiva dos dois setores, mas sem garantia de repasse imediato total da desoneração cobrada pela presidente Dilma, entre 9,25% e 12,5%.

Ao sair do encontro, o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Fernando Yamada, disse que a partir de hoje carnes e produtos de higiene devem cair 6% em média, e os demais itens, 3%.

Segundo ele, o repasse "praticamente" integral aos preços da desoneração da cesta, pedida pela presidente Dilma, pode chegar ao consumidor em até duas semanas, mas depende de decisão da indústria.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, Edmundo Klotz, disse esperar que todo o setor repasse a desoneração ao consumidor final, mas não citou um percentual.

"Não temos muita noção de quanto será esse repasse. Chegará ao menor nível possível, pois estamos fazendo a nossa parte. Todos devem repassar o máximo do benefício, levando o imposto para próximo de zero."

Questionado sobre a diferença entre a redução dos impostos e dos preços, Mantega respondeu que alguns setores possuem créditos tributários que já não poderiam ser recuperados. "Essas são questões tributárias que vamos tentar resolver", disse, sem especificar medidas.

Ele afirmou ser importante que a redução dos impostos da cesta básica "chegue logo" às prateleiras, para que os índices de inflação "caiam mais rapidamente".

Mantega não falou de taxa de juros no encontro nem quis fazer uma relação com a medida anunciada na última sexta-feira, mas a Folha apurou que o governo decidiu antecipar o seu anúncio, previsto inicialmente para maio, porque a inflação passou a preocupar o Planalto.

Em fevereiro, ela chegou a 0,60%, acima do esperado pela equipe econômica, fazendo a taxa anualizada atingir 6,31%. Sem o pacote da cesta básica, em março o

IPCA deveria estourar o teto da meta de inflação, de 6,5%.

Assessores presidenciais já admitem que dificilmente o BC não subirá os juros, mas acreditam que medidas como a desoneração podem reduzir o tamanho do aperto.

O governo prepara mais medidas de desoneração, disse Mantega. O impacto anual do pacote da cesta básica deve ser de R$ 7,4 bilhões - R$ 5,5 bilhões neste ano.



Consumidor não deve sentir efeito integral de desoneração da cesta


Analistas preveem que um terço da redução de tributo será absorvido como margem por empresários

Ainda assim, corte de impostos na cesta básica deve deixar inflação abaixo da meta (6,5%) neste mês


A desoneração da cesta básica deve contribuir para segurar os preços até junho e evitar que a inflação supere o teto da meta estipulada pelo governo (6,5%) neste mês, dizem analistas. Mas o desconto não deverá chegar por inteiro aos consumidores.

Estimativa feita por economistas do Bradesco indica que um terço da redução de impostos deverá ser absorvido pelos empresários para recompor margem de lucro.

A redução de impostos poderia ter um impacto de 0,60 ponto percentual a menos na inflação. Mas, segundo estimativas do banco, deverá ficar ao redor de 0,40 ponto.

"Acreditamos que haverá alguma recomposição de margem por parte do varejo, ainda que seja a parcela minoritária", afirma relatório, divulgado ontem.

IMPOSTO VIROU MARGEM

A avaliação tem como base o comportamento dos empresários em duas desonerações recentes: a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de automóveis e de eletrodomésticos.

No primeiro caso, 16% do corte de imposto ocorrido em 2012 foi absorvido pelos empresários. No caso dos eletrodomésticos, o repasse foi menor e 60% ficaram retidos nas empresas.

O Bradesco levou em consideração a variação de preços nos primeiros meses após a vigência do desconto do imposto para os dois produtos.

Para Fábio Romão, da LCA Consultores, o impacto da desoneração da cesta básica poderia alcançar até 0,80 ponto percentual a menos na inflação (considerados efeitos indiretos). Mas deve ficar ao redor de 0,45 ponto.

Um dos fatores é que a cadeia nesses setores é mais longa -há mais etapas entre o produtor e o consumidor. E se trata de produtos de consumo indispensável.

Apesar de ter impacto menor do que o praticado pelo governo, a redução do tributo deve baixar a inflação já neste mês e terá efeitos sobre os índices de preços até junho. O que deve ser um alívio para o Banco Central.

Analistas acreditavam que a inflação acumulada em 12 meses furaria o teto da meta de 6,5% em março, depois de surpreender para cima em janeiro e fevereiro. E permaneceria alta até junho, quando as passagens de ônibus de Rio e SP deverão subir.

A desoneração da cesta básica mudou essa percepção. Nas novas projeções da LCA, divulgadas ontem, a inflação deve ficar dentro do intervalo de tolerância em março (6,47%) e se afastar do teto da meta. "Diminuem as chances de a inflação superar a meta, mas o risco ainda existe", diz Romão.

Com isso, investidores reduziram apostas de alta da taxa de juros (hoje em 7,25% ao ano) no curto prazo. Os contratos para janeiro/14 (mais negociados) recuaram 1,5%, de 7,96% para 7,84%.

 

 




Veículo: Folha de S.Paulo



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