26 Jun (Reuters) - Mesmo com as perdas do comércio devido aos recentes protestos pelo país e com o impacto do dólar mais alto sobre os preços dos importados, a entidade que representa o setor supermercadista, Abras, manteve nesta quarta-feira a previsão de alta de 3,5 por cento das vendas do setor em 2013.
Para o gerente de departamento de economia e pesquisa da Abras, Flávio Tayra, algumas redes podem ter sofrido com o fechamento antecipado de lojas em alguns dias úteis de junho por causa das manifestações, mas setorialmente junho deve ser até melhor que maio.
No mês passado, as sócias da Abras faturaram 4,28 por cento a mais que no mesmo período do ano passado.
"Junho tem cinco finais de semana cheios, os melhores dias de venda no setor", afirmou, comentando que a maior parte das vendas nos supermercados não ocorrem por impulso e sim por necessidade. "Se não comprou hoje, o consumidor compra amanhã".
Nos primeiros cinco meses do ano, o avanço das vendas reais nas redes foi de 2,17 por cento ante igual etapa de 2012.
O aumento do dólar tampouco deve afetar significativamente os custos das empresas, segundo Tayra. Ele afirmou que os produtos importados respondem por cerca de 3 por cento dos artigos ofertados nos supermercados. A entidade levanta dados com quase 100 empresas.
Tayra ponderou que algumas lojas com formato mais sofisticado, controladas por empórios e por varejistas como o Pão de Açúcar, podem enfrentar maior pressão por aumento de preços, já que têm de "15 a 20 por cento de produtos importados". Procurado, o Pão de Açúcar afirmou que a média de produtos importados nas lojas do grupo é de cerca de 2 a 3 por cento.
ANALISTAS PREVEEM IMPACTO
Ao contrário da Abras, analistas do varejo já enxergam algum impacto para as companhias do setor devido aos protestos.
Em relatório, o BTG Pactual estimou que os últimos eventos podem diminuir as vendas das empresas no segundo trimestre, que acaba esta semana, em 1 a 2 por cento.
Nos cálculos, o banco assumiu que cinco dias úteis de manifestações teriam forçado as lojas nas principais cidades a encerrar o expediente pela metade e que estas unidades representariam 50 por cento das vendas totais das varejistas.
Mesmo que a mudança do tráfego normal de clientes não tenha um grande impacto de valor para as empresas, os papéis das varejistas negociadas em bolsa podem sofrer consequências, disseram os analistas do Citi.
Em relatório, eles acrescentaram que "qualquer perda relacionada às interrupções será significativa para as ações" em um cenário de mal-estar generalizado com os mercados emergentes, com o Brasil sofrendo em "dose extra por conta das suas políticas macroeconômicas e de dados mais fracos do consumo."
"Enquanto as variáveis de renda afetam todos que vendem para os consumidores brasileiros, achamos que as manifestações nas ruas atingem principalmente a venda de produtos mais caros em shoppings, as varejistas, além das operadores de restaurantes", disse o banco. (Por Marcela Ayres; edição de Aluísio Alves)
Veículo: Jornal A Cidade (26/06)