Depois de comemorar no ano passado a recuperação das perdas registradas em 2006 e deixar para trás desempenhos em vendas que não ultrapassavam a barreira dos 5% - isso quando os indicadores não foram negativos - , o setor supermercadista pode este ano ter, enfim, o que realmente comemorar. Nos primeiros sete meses do ano, o setor acumula um aumento de 8,91% nas vendas - só em julho, cresceu 10,43%. O desempenho deixou a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) otimista em relação a 2008. Em janeiro a entidade esperava que o ano encerrasse com um crescimento entre 4,5% e 5%. Agora, estima uma alta de 8%, o que se configuraria no melhor desempenho dos últimos dez anos. Em 1998, o setor cresceu 5,98%.
"Já estamos no sétimo mês do ano e o segundo semestre é historicamente mais forte que o primeiro", afirma o presidente da entidade, Sussumu Honda. Além de fatores tradicionais como dissídios coletivos e 13º salário, os seis últimos meses deste ano devem ser favorecidos por efeitos evidenciados por alguns indicadores macroeconômicos como o de geração de empregos formais.
Apesar do otimismo, um crescimento de 8% ainda ficará abaixo do verificado nos primeiros dois anos do Plano Real, quando o setor cresceu 14,05% e 16,9% em 1994 e 1995, respectivamente.
O desempenho verificado de janeiro a julho já é, na avaliação da Abras, resultado de fatores como aumento da renda, o crescimento do poder de consumo da classe C e o aumento nos preços de gêneros alimentícios.
E é nos aumentos de preços que vem se sustentando o crescimento do faturamento. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, enquanto o faturamento cresceu 8,66%, o volume de vendas registrou queda de 0,3%. "Já é possível sentir uma desaceleração do aumento dos preços de alimentos, mas estamos acreditando em uma estabilização de preços", afirma Honda, que espera ainda estabilidade no volume de vendas em relação a 2007.
Em julho, quando as vendas dos supermercados cresceram 10,43%, o AbrasMercado (indicador de preços da entidade, calculado pela GfK Indicator) apresentou um aumento de 0,69% ante junho e de 11,99% na comparação com julho do ano passado.
O desempenho de grandes varejistas pode demonstrar o bom momento do setor e as perspectivas positivas. O Grupo Pão de Açúcar registrou vendas brutas de R$ 1,66 bilhões e líquidas de R$ 1,45 bilhões em julho, com taxas de crescimento de 22,2% e 26,2%, respectivamente, em relação ao ano anterior. No conceito mesmas lojas, o incremento das vendas brutas foi de 9,6% enquanto as vendas líquidas cresceram 13,1%. Os produtos alimentícios apresentaram aumento de 8% e a vendas de não-alimentos cresceram 14,5% no período, no mesmo conceito.
No segundo trimestre, as vendas brutas da companhia cresceram 16,2%, totalizando R$ 4,8 bilhões. Em teleconferência para apresentação dos resultados do período, o presidente do conselho de administração da companhia, Abilio Diniz, declarou satisfação com os indicadores e disse que a empresa vai recuperar as perdas registradas nos últimos anos.
O Carrefour também afirma que seus resultados melhoraram com o aumento do poder aquisitivo da população, a adequação do mix de produtos e uma política de preços diferenciada. Segundo Renata Moura, diretora de assuntos corporativos da rede, um dos focos do Carrefour é estar presente em regiões de alto potencial de consumo. Para isso, está investindo em formatos de loja diferenciados e em soluções financeiras que viabilizam o acesso ao crédito ao maior número de pessoas.
O desempenho dos supermercados poderia ser ainda melhor não fossem as perdas. Em 2007, elas chegaram a 2,15% do faturamento de R$ 136,3 bilhões. O resultado mostra um aumento de 0,18 ponto percentual em relação ao verificado em 2006, quando as perdas eram de 1,97%. Em um setor de margens reduzidas, em média de 1,7%, qualquer esforço para reduzir perdas vai direto para o bolso do empresário.
Na contramão do varejo, o setor atacadista está refazendo sua projeções para o ano. Segundo Geraldo Caixeta, presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), o crescimento previsto no começo do ano de 8% não vai se realizar. E a expectativa é que as empresas do setor tenham um crescimento mais modesto, na faixa de 6,5%. "O varejo tem mais impacto dos produtos básicos, cujos preços subiram entre 30% e 40%", afirma Caixeta. Já para o atacado distribuidor, afirma, o que puxa as vendas são os produtos de higiene e limpeza, cosméticos, produtos industrializados.
Veículo: Gazeta Mercantil