As redes varejistas têm se movimentado para diminuir as perdas nos pontos de vendas, medidas essas que podem ajudar na redução dos custos operacionais em até 30%. Apostar em marcas próprias e ter maior controle no prazo de validade, evitando assim a diminuição do mix de produtos; criar porções menores no manuseio de alimentos como pizzas, ou ainda reformular o cardápio. Têm sido essas algumas das estratégias adotadas pelas empresas, pois só no setor supermercadista, as perdas somaram R$ 5,3 bilhões, o que representa 2,52% do faturamento em 2013.
Entre as companhias que veem ações para a prevenção de perdas, a Savegnago Supermercados reduziu os prejuízos em até 30% no ano passado. Localizada na região de Sertãozinho, interior de São Paulo, a rede soma mais de 30 unidades, além de quatro postos de gasolina em cidades como Ribeirão Preto, Franca, Araraquara, São Carlos.
"O varejo brasileiro apresentou um crescimento importante após a chegada de alguns multinacionais, como Carrefour e Walmart, que estimularam a competitividade no mercado", afirmou o gerente comercial da rede, Maurilio Júnior Viana.
De acordo com ele, o movimento tem feito empresas do setor se reinventarem, já que o número de marcas cresceu muito nos últimos anos. "Novas plataformas digitais, como o comércio eletrônico e os 'atacarejos' são os nossos principais concorrentes, uma vez que conseguem praticar preços muito baixos. Outro ponto são as redes de farmácia que roubaram boa parte dos clientes no que diz respeito a categoria de perfumaria", contou.
Para barrar o desperdício e consecutivamente a redução dos lucros, a companhia vem investindo em produtos exclusivos e com melhor qualidade, já que reduzir o número de produtos não está entre os planos da bandeira."Contamos com pelo menos seis marcas exclusivas em nossas gôndolas, sendo que a cada seis meses fazemos um levantamento dos produtos para analisar como estão as vendas e se eles devem permanecer nas unidades", finalizou. Agora, a empresa irá investir em uma auditoria especializada em prevenção, a fim de reduzir ainda mais os números com perdas nos próximos anos.
Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) em parceria com a Nielsen, o Programa de Administração do Varejo (Provar) e o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) apontou que 61% das bandeiras entrevistadas tem um setor específico para a prevenção de perdas, contra 39% que ainda não investiram nisso.
Outro ponto constatado na pesquisa foram as causas que mais trazem prejuízo ao setor hoje: quebra operacional com 33,4%; furto externo 21,4%; furto interno 13,1%; erro administrativo 12,7%, fornecedores com 11,4% e outros com 8%.
Fast-food
Os empresários que atuam no segmento de fast-food, por meio de franquias, também estão atentos as medidas de prevenção de perdas. Na rede Dídio Pizzas, que atende 180 mil consumidores ao mês, o trabalho das nutricionistas foi fundamental para que as perdas fossem reduzidas em 48%. "Nossas lojas tinham prejuízos com o extravio de produtos feito pelos funcionários e na perda do prazo de validade. Para reverter isso, criamos um sistema de porcionamento", disse o fundador da rede Elídio Biazini.
Ao invés de abastecer as lojas com um volume grande de produtos, ou seja, manter o estoque sempre repletos de insumos e mais suscetível a furtos e produtos estragados, quatro nutricionistas desenvolveram o sistema de porções. Baseadas nas vendas diárias de cada loja, foi desenvolvido e implementado o sistema que sempre respeita a necessidade de cada ponto de venda da rede. A iniciativa fez com que a Dídio conseguisse aumentar a rentabilidade, em um ano com o novo sistema, em R$ 20 mil. "Não aumentamos o nosso faturamento, pois não passamos a vender mais pizzas com o processo. O que conseguimos foi aumentar a rentabilidade de cada loja", explicou ele. Com redução que variou de 48% a 60%, dependendo do ponto de venda, a Dídio diminui o número de insumos jogados no lixo devido a exposição (durante o processo de fabricação das pizzas) e tem como meta que todas as lojas, hoje mais de 20 unidades, consigam reduzir até 35% as perdas durante o ano.
Na Pasteca, rede especializada na comercialização de pastéis fundada por Miriam Terezinha Felippi, a medida para reduzir o custo operacional em 10% e aumentar a marca por meio de franquias, foi a terceirização da produção dos recheios dos pastéis e a redução do cardápio. "Em um processo que durou um ano e meio, identificamos os produtos de menor venda e retiramos do cardápio. Além disso, optamos por vender apenas suco de laranja ao invés de ofertar outros sabores", explicou a executiva.
De mais de 600 produtos a venda, passou para 60, sendo 22 salgados, seis doces, além de um tipo de suco e demais bebidas. Ainda segundo a executiva, a terceirização dos recheios dos pastéis também ajudou, pois os custos com a mão de obra consumia boa parte do faturamento da Pasteca. Com todas essas iniciativas, Miriam formatou o seu modelo de franquia, que ela intitula 'chave na mão'. "Quem compra uma franquia da Pasteca recebe a loja pronta para operar."
Veículo: DCI