A indústria de café encontra-se em um dilema. Passa por um período de escassez de matéria-prima, os preços subiram e o país vive uma fase de queda na renda do consumidor. Se não bastasse viver com esses desafios, o varejo -a porta de saída do café para o consumidor- faz uma recomendação que coloca mais um problema na lista dos que o setor já tem.
"A indústria tem de rever custos porque o consumidor não tem mais como pagar aumentos de preços." A recomendação é de Sussumu Honda, presidente consultivo da Abras (Associação Brasileira de Supermercados). Com uma longa experiência no varejo, Honda alerta para o fato de que essa redução de custos visa atender a uma demanda de consumidores "com dinheiro mais curto".
Como fazer esse exercício de redução de custos em um momento tão delicado para a indústria? Pensando, responde ele. Uma das saídas é a redução de custos por meio de utilização de mais tecnologia. "Afinal, quem manda no nosso negócio é o consumidor, e ele está com a renda renda comprimida." As vendas de café das indústrias brasileiras movimentam R$ 8,5 bilhões por ano, e os supermercados são responsáveis por 64% desse valor.
"É um aperto nas margens das indústrias. Temos de nos reinventar", diz Sydney Marques de Paiva, presidente do café Bom Dia. Essa redução de custos já vem ocorrendo desde o início do ano. E as empresas tendo as margens reduzidas porque os novos custos não são repassados para os consumidores na mesma velocidade, segundo ele.
Para Bernardo Wolfson, presidente da Melitta, essa situação trará dificuldades para todos: indústria, varejo e consumidor. "É preciso reduzir custos onde não se agrega valor. O consumidor não pode pagar por algumas das ineficiências do setor", diz ele. Rever as formas de comprar e de entregar o produto deverá estar nessa lista de adequações. "Temos de fazer mais com menos, mas não podemos abrir mão da qualidade", diz Lara Brans, presidente da JDE.
Ela acredita que o consumidor possa migrar de produtos mais caros para os mais baratos nesta fase de retração da economia. A JDE deverá sofrer menos, no entanto, com essa mudança de comportamento do consumidor. Ela tem um portfólio mais amplo, permitindo que o consumidor continue fiel à empresa, mesmo com migração para produto de valor menor.
Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) diz, no entanto, que o consumidor mostra um comportamento misto neste momento. Ao mesmo tempo em que alguns buscam produtos de menor valor, as cápsulas e os cafés especiais, mais caros, continuam com expansão de venda acima da dos tradicionais.
Fonte: Comarca de Garça