Para voltar a ser motor, consumo depende do crédito
O ritmo de queda do consumo das famílias diminuiu no terceiro trimestre, mas esse componente da demanda está longe de retomar o posto de motor da economia. A queda de 3,4% de julho a setembro ante igual período de 2015 foi a sétima seguida, mas ficou abaixo das registradas no segundo e no primeiro trimestres, de 4,8% e 5,8%, respectivamente. Os dados foram divulgados em 30 de novembro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Quando começou a cair, o consumo das famílias terminou uma sequência de 45 trimestres de alta nesse tipo de comparação – desde o quarto trimestre de 2003. Nos sete trimestres de queda, perdeu 9,8%. Período tão negativo só foi visto entre o fim de 1997 e o fim de 1999. Essa redução é explicada por alta do desemprego, queda da renda, inflação pressionada e crédito escasso e caro, segundo o IBGE. “As operações de crédito, que estavam crescendo muito, estão com crescimento nominal bem baixo. Se a gente descontar a inflação, vai dar número negativo”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Esses elementos vinham piorando desde o início do ano passado, mas a inflação arrefeceu nos últimos meses. Segundo Rebeca, foi um dos motivos para segurar o ritmo de queda do consumo das famílias. O mesmo ocorreu no mercado de trabalho, que passou a piorar de forma mais moderada. “O desemprego aumentou, mas a renda de quem está empregado não está caindo tanto.”
Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, o consumo das famílias vem caindo porque o desemprego subiu e “os bancos não querem emprestar”. Como as famílias já estão endividadas e a taxa básica de juros (Selic, reduzida ontem para 13,75% ao ano) está elevada, o setor financeiro teme que novas dívidas levem a mais inadimplência. “Um juro menor levaria a uma alta do crédito”, explicou Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC). Ele criticou a decisão do BC, de cortar os juros básicos em apenas 0,25 ponto porcentual. “Não há necessidade desse rigor do BC, já que a inflação corrente e as expectativas estão caindo”, completou. Juros básicos menores permitiriam às famílias renegociar dívidas, trocando taxas elevadas por outras mais baixas, explicou Freitas. Mesmo assim, não bastaria para recuperar o consumo como motor da economia.
“Para voltar a ser motor, depende do crédito. E para o crédito avançar, as pessoas têm de ter confiança. A taxa de juros está tão elevada, que cortar 0,25 ou 0,50 é pouco”, disse o professor João Sabóia, do Instituto de Economia da UFRJ.Segundo ele, a redução no ritmo de queda da renda de quem está empregado, contribuindo para o consumo das famílias não encolher tanto quanto no início do ano, é insuficiente. Para as pessoas voltarem às compras, é preciso que cresça a chamada “massa de rendimentos”, a soma da renda de todos que trabalham. “O número de pessoas empregadas teria de subir, mas não parece que isso vai acontecer”, disse Sabóia.
Empresários do setor de supermercados apostam que a queda no consumo das famílias está chegando ao limite. “O que o consumidor poderia fazer, já fez, mudou para marcas mais baratas e fez substituições de produtos”, afirmou João Sanzovo Neto, presidente eleito da Associação Brasileira de Supermercados.
Fonte: Eletrolar