Vendas no varejo caem pelo 4º mês seguido, dizem analistas Por Tainara Machado | De São Paulo A contínua deterioração do mercado de trabalho e a fraca concessão de crédito devem ter levado as vendas no varejo a registrar a quarta queda mensal consecutiva em outubro, avaliam economistas. Depois de uma retração de 1% em setembro, a média das projeções de 24 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que, em outubro, o volume de vendas no varejo restrito, que não inclui automóveis e material de construção, foi 0,8% menor, na comparação com o mês anterior, feitos os ajustes sazonais.
As projeções para a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), a ser divulgada hoje pelo IBGE, vão de queda de 2,3% até crescimento de 0,5%. Já o varejo ampliado - que considera, além dos oito segmentos analisados no restrito, os de veículos e materiais de construção - deve ter a oitava queda mensal consecutiva, dizem analistas. A média das projeções de 21 analistas é de queda de 0,8% no mês e de 10,3% na comparação com igual período do ano anterior. Para Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, a combinação de desemprego em nível bastante alto, crédito escasso e confiança estagnada continuam a ser os fatores a explicar a apatia do comércio, que não dá sinal de reação no curto prazo.
Para ele, as vendas caíram 1,2% entre setembro e outubro, indicando mais um trimestre de fraqueza para o consumo das famílias. "É um fim de ano ainda desanimador, especialmente para o consumo", afirma ele.
Um dos indicadores que reforçam essa avaliação, segundo ele, é o monitoramento que a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) faz do setor. Em outubro, disse, as vendas recuaram 0,6% na comparação mensal, com o ajuste sazonal da GO Associados.
Entretanto, o que mais chama atenção, na avaliação de Castelli, é a evolução das vendas nos supermercados no acumulado em 12 meses. De uma alta de 0,7% até setembro, o indicador passou a acumular retração de 2,7% no mês de outubro."É um claro sinal de fraqueza".O Índice de Atividade do Comércio da Serasa Experian também mostrou tendência de retração, afirma Castelli, com queda de 1,6% em relação a setembro. A queda mais forte foi no segmento de móveis e eletrodomésticos, com recuo de 2,3%.
Mesmo a alta de 3,7% das vendas de veículos, segundo dados da Fenabrave (entidade que reúne os revendedores de automóveis) dessazonalizados pela consultoria, não devem evitar queda do varejo ampliado, diz Castelli. Ele projeta um recuo menor do que no comércio restrito, de 0,6% em relação a setembro, o oitavo na comparação mensal.
O Santander também avalia que, ao menos no curto prazo, não há sinais de estabilização do consumo privado. "As variáveis do mercado de trabalho seguem em rota de deterioração, as condições de crédito continuam apertadas e o endividamento das famílias se situa em níveis muito elevados", afirmam os economistas do banco em relatório, para justificar a perspectiva de nova queda das vendas, de 0,9% em outubro.
Mesmo no ano que vem, afirma o relatório do banco, o consumo não deve ser o propulsor da atividade econômica, já que a desaceleração da inflação e a queda da taxa básica de juros só devem trazer mais alívio para a condição financeira das famílias na segunda metade do ano, e de forma moderada.
Para Castelli, da GO Associados, o comércio tende a ser o último a reagir à queda dos juros e da inflação. A indústria e os investimentos, por exemplo, podem ter uma recuperação levemente mais rápida, enquanto o comércio só deve reagir em meados de 2017. "A retomada do comércio tende a ser mais concentrada em bens duráveis, com condições melhores de crédito, já que a renda vai demorar mais a se recuperar", avalia.
Fonte: Valor Econômico