Outubro foi novamente um mês ruim para o comércio, que segue sofrendo principalmente com a piora do mercado de trabalho e juros altos. Na comparação com setembro, o volume de vendas no varejo restrito caiu 0,8%, já descontados os efeitos sazonais, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE. Foi a quarta queda mensal consecutiva e a maior para o mês desde 2008, quando o recuo foi de 1,1%. Nesses quatro meses, o varejo tem retração de 3,2%.
O comércio acumula baixa de 6,7% no ano e queda de 6,8% em 12 meses, recuo mais intenso desde o início da série, em 2001. O resultado de outubro ante setembro veio em linha com o esperado. Em média, 21 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data estimaram recuo de 0,8%. Pelo segundo mês seguido, houve recuo no setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, itens considerados de primeira necessidade. Em outubro e setembro, respectivamente, a retração foi de 0,6% e 1,4%.
Igor Velecico, economista do Bradesco, atribui as quedas no setor ao aumento do número de desempregados, mas diz que a realidade pode ser menos pior do que os dados sugerem. Na comparação entre outubro deste ano e do ano passado, o volume de vendas do setor caiu 6,5%, nos cálculos da PMC. Entretanto, a Associação Brasileira de Supermercados aponta alta de 1,7% aponta nas vendas já deflacionadas no período. "Temos dois termômetros apontando para duas direções diferentes", diz.
O IBGE aponta as quedas de combustíveis e lubrificantes (-1,7%) e, em menor medida, artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,1%) como determinantes para o recuo de 0,8% no restrito em outubro. Em relação a outubro de 2015, o varejo restrito caiu 8,2%, a 19ª baixa consecutiva e o pior resultado para o mês desde 2001.
o varejo ampliado, que inclui veículos e motos, partes e peças, e material de construção, o volume de vendas caiu 0,3% na comparação com setembro. Já na comparação com outubro de 2015, o volume de vendas do varejo ampliado caiu 10%. No acumulado de 2016, o varejo ampliado cai 9,3%. Em 12 meses, recua 9,8%.
A queda das vendas no comércio restrito foi generalizada entre os Estados, atingindo 25 dos 27 locais analisados, na comparação com igual mês do ano passado. No Rio, o tombo foi de 10,6%, recuo maior que a média nacional, de -8,2%. Em São Paulo, o recuo também foi forte, de 6,4%. Os dois Estados puxaram para baixo a atividade no mês, segundo o IBGE.Na comparação com setembro, o comércio teve queda em 15 das 27 unidades federativas.
No ano que vem, na visão dos economistas ouvidos pelo Valor, a queda esperada dos juros e da inflação deve colaborar de maneira limitada com a retomada do consumo. Alguma recuperação cíclica, na comparação com os meses anteriores, deve ter início apenas no segundo trimestre. Para João Morais, economista da Tendências, "existe um risco bastante relevante de o consumo continuar em queda, caso as turbulências políticas não sejam amenizadas", porque essas incertezas atrapalhariam a recuperação do mercado de trabalho.
Por Estevão Taiar | De São Paulo
Fonte: Valor Econômico