A melhora no consumo das famílias, auxiliada pela desaceleração dos juros e da inflação, abriu espaço para destravar os investimentos na atividade supermercadista. Empresários do setor afirmam que vão expandir o número de unidades ao longo dos próximos meses. O processo, que deve começar no segundo semestre deste ano e ser intensificado em 2018, é algo a ser comemorado. Isso porque os supermercados representam 30% do volume de vendas de todo o mercado varejista. Logo, o reaquecimento das aplicações por eles é imprescindível para auxiliar na retomada do Produto Interno Bruto (PIB).
Os investimentos serão disseminados nos estados brasileiros. Somente em Minas Gerais, o grupo Super Nosso investirá R$ 60 milhões este ano. O valor contempla um centro de distribuição, já inaugurado há dois meses, e quatro unidades, que ainda serão abertas até o fim do ano na região metropolitana de Belo Horizonte.
Para 2018, a expectativa do diretor executivo do grupo, Euler Fuad, é de injetar outros R$ 60 milhões na abertura de seis supermercados. Mas o investimento pode ser maior. “A meta é abrir 10 unidades, mas todo saco tem fundo. Seis já é um número ousado neste momento de travessia que enfrentamos. Mas é na crise que aparecem boas oportunidades de pontos a preços acessíveis”, diz.
O apetite de Euler para investir está ancorado nas expectativas de que o pior da crise ficou para trás. “Sinto que a economia começa a se desvencilhar da crise política e caminhar em ritmo próprio. E vejo isso como um bom sinal. Estou entusiasmado e preparado para investir, pois acredito na retomada”, justifica. E não falta dinheiro em caixa. “Farei os investimentos com capital próprio”, afirma.
Em São Paulo, somente o grupo Sonda Supermercados está disposto a investir R$ 80 milhões até o primeiro semestre de 2018 em quatro unidades varejistas. A expectativa é de que uma seja inaugurada este ano no estado, e outras três no próximo ano — uma na capital e outras duas em São Caetano (SP).
Além da melhora dos indicadores econômicos, o diretor executivo do grupo, Roberto Longo, atribui a expectativa à aprovação da reforma trabalhista e ao empenho do governo em tocar as agendas reformistas. “A modernização das leis do trabalho vão ajudar muito o setor a ter mais produtividade”, ressalta. Com as quatro unidades construídas, a expectativa é de que a empresa gere 1,4 mil empregos diretos.
O quadro de investimentos segue um padrão comum entre os varejistas. Com a crise, muitos tiraram o pé do acelerador e deixaram a expansão dos negócios em pausa. Agora, com os sinais de reação da economia, o apetite voltou. É, também, o caso do diretor-executivo do grupo Verona Supermercados, Wilson Sanches, que vai abrir mais uma unidade, em Telemaco Borba (PR), em um investimento avaliado em R$ 15 milhões. “Também vou reformar outras lojas e pretendo investir em tecnologia e inovação. As vendas estão voltando a melhorar e preciso agir”, enfatiza.
Também há fome por investimentos no Rio Grande do Sul. A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) pretende realizar investimentos no segundo semestre deste ano. Embora em nível nacional não haja dado específico, o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto, assegura que há otimismo e expectativa de expansão de unidades, ancorados em um aumento recente das vendas e nas reformas.
“Os projetos que ainda estão na gaveta vão sair. Percebo claramente que existe esse otimismo dos nossos empresários”, destaca Sanzovo. Ele acredita, no entanto, que o grosso dos investimentos deverá ser feito somente em 2018. “A retomada do emprego depende disso. E só acontecerá quando os investimentos saírem”, acrescenta.
Reação
A reação dos investimentos no setor supermercadista respinga na indústria. Um aumento das aplicações pode elevar a demanda por produtos industrializados. A grande interrogação sobre a sustentabilidade do crescimento da injeção de capital, no entanto, está no descasamento entre o consumo e os investimentos, ressalta o chefe interino da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes.
O consumo tem dado sinais de melhora, puxado por uma baixa inflação e por uma gradual melhora do mercado de trabalho — ainda que puxada pela informalidade. Os investimentos, de uma maneira geral, entretanto, ainda estão em compasso de espera. E não serão apenas os supermercadistas que mudarão o panorama.
Para mudar o cenário e fazer os investimentos reagirem, a aprovação da reforma da Previdência é imprescindível, avalia Bentes. “O mercado sabe que o quadro fiscal não mudará neste ano ou no próximo. Mas a admissão do texto daria uma sinalização positiva”, destaca.
Sem o equilíbrio das contas públicas, o governo continuará precisando se financiar no mercado de títulos públicos a juros altos, tornando necessário o aumento da taxa básica de juros (Selic). Tudo isso, por fim, elevaria o custo para investimento na economia, reduzindo o apetite dos empresários em investir.
O freio nos investimentos, por consequência, tenderia a reduzir a oferta no mercado de bens e serviços, gerando um desequilíbrio com a demanda das famílias, que pressionaria a inflação. Um cenário perverso que não dialoga com a intenção dos supermercadistas. “É preciso que a taxa de retorno do empresariado seja previsível. Para isso, a reforma da Previdência precisa ser aprovada.”
Fonte: Correio Braziliense