O Brasil terá um empurrão de fora para ajudá-lo na saída do quadro de recessão: um crescimento da economia mundial acima do esperado. A avaliação é do economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawal, que participou, na quinta-feira, 14, do encerramento da 51ª Convenção da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em Atibaia, interior de São Paulo. Ele ressaltou que o cenário é inesperadamente positivo porque vem acompanhado de controle inflacionário, favorecendo juros baixos. “Estamos passando por um fenômeno não devidamente compreendido pelos economistas, de crescimento econômico bastante robusto, com inflação muito baixa”, disse.
Ele explica que esse crescimento econômico mundial favorece países como o Brasil, que têm forte exportação de commodities – minério de ferro, soja, partes de carnes – e outros produtos.
“Quando isso ocorre você tem uma inflação mais elevada, as taxas de juros sobem. Mas isso não está ocorrendo. A inflação está muito baixa. As nossas empresas se beneficiam de juros baixos, o que facilita investimentos. Portanto, é um cenário desejável”, diz. “O único risco que eu vejo nesse cenário é que, se ele mudar, provavelmente vai ser para pior. Melhor do que isso não dá para ser”, completa. Ainda segundo ele, o crescimento mundial está mais equilibrado, não sendo mais liderado apenas pela China, ocorrendo em outras regiões como a Europa.
Para Kawal, a economia nacional deverá voltar à atividade positiva no ano que vem. Comparando o País a um paciente, ele disse que o Brasil estava na UTI em 2016 e, tendo apresentado melhoras no primeiro semestre de 2017, começou neste segundo semestre a dar os primeiros passos na longa reabilitação.
Como sinais dessa “reabilitação” ele cita a alta do Produto Interno Bruto (PIB), inicialmente amparada na safra agrícola. No segundo trimestre, a elevação do PIB, apesar de ficar em apenas 0,2%, veio acompanhada do crescimento do consumo. “Consumo é 70% do PIB brasileiro. Se o consumo cai, é difícil o PIB estar no território positivo”, explica.
Outro indicador positivo é a redução da taxa de desemprego, o que estabiliza a confiança e incentiva o consumo. Mas ele acredita que a queda na taxa de desemprego vai ser lenta, podendo levar de 4 a 5 anos para voltar a um dígito. No auge, o índice de desemprego no País chegou a 13,2%.
Kawal ainda ressalta como boas notícias a inflação baixa - que deve ficar em 3,3% este ano e em 4% em 2018 - e a queda dos juros. “Para o final de 2017 a taxa Selic deve fechar em 7%, podendo ir a 6,5% ao final do primeiro trimestre de 2018. Não nos parece que vai ser uma queda artificial, pontual. Acreditamos que podemos sustentar essa taxa de juros baixa até pelo menos o início de 2019 e não acreditamos que quando ela subir, volte ao patamar de dois dígitos”, declarou.
Outros fatores enumerados para um cenário positivo são a reforma trabalhista, melhora no crédito pessoa física e redução do endividamento das famílias.
Por outro lado, os investimentos só deverão ser retomados em 2018. “A ociosidade é muito grande e um setor muito importante da economia, que é o setor de construção, está muito afetado pela crise e também pela operação Lava Jato”, diz.
Desafios - Para Kawal, a “dramaticidade” da crise brasileira se encontra no déficit público que deve ficar este ano em R$ 159 bilhões. “Déficit público muito alto só tem solução via reformas, especialmente a da Previdência. Claro que se a economia cresce, melhora a receita do governo, mas isso não vai resolver”, declarou.
Para ele, a incerteza eleitoral também pode comprometer o cenário da retomada econômica. “Se o quadro eleitoral caminhar em direção a um candidato populista e descomprometido com as reformas, a gente vai reverter esse cenário de retomada da economia”, disse.
Por fim, o economista projeta que o dólar chegue ao final deste ano a R$ 3,20, “sendo factível que possa chegar a alto como R$ 3,10 ou R$ 3”, e que o PIB deste ano fique em 0,6% e, no em 2018, chegue a 2,5%.
Fonte: Diário do Comércio de Minas