Há pouco menos de três meses de o empresário francês Jean-Charles Naouri, dono da rede francesa Casino, poder exercer seu direito de assumir as operações do Grupo Pão de Açúcar (GPA) no Brasil, ele começa a ganhar território frente aos seus sócios: o brasileiro Abílio Diniz e o também francês Philippe Houzé. Depois de reunião entre membros do Conselho de Administração da rede varejista francesa, ontem, em sua cidade-sede, Paris, definiu-se que o empresário brasileiro não fará mais parte do conselho das operações do grupo na França. A explicação dessa atitude por parte do sócio Naouri é que ela se deve aos "conflitos em curso" ocorridos entre os empresários e que envolvem disputas judiciais.
Segundo dados veiculados pela imprensa internacional, a medida do proprietário do Casino não afetará as operações do Pão de Açúcar no Brasil ou na Wilkes Participações, holding controladora da companhia. A decisão de saída estende-se também ao empresário Philippe Houzé, presidente das Galeries Lafayette, na França, e que divide o controle do Monoprix. Este também se teria envolvido recentemente em uma disputa com Jean-Charles Naouri, em que o dono do Casino rejeitou a proposta de compra da outra parte da Monoprix por não achar justo o valor oferecido.
Tanto o empresário brasileiro quanto o francês decidiram, ontem, não votar no encontro entre conselheiros que contou com a presença de outros 13 membros do conselho. Em maio, também na França, a nova assembleia com todos os acionistas da rede deverá reiterar a saída de Diniz e Houzé. No ano passado, Diniz e Naouri foram protagonistas de uma disputa nos tribunais do País, pois o empresário brasileiro tentou comprar o Carrefour no Brasil, atitude essa repudiada por seu parceiro de negócios.
O empresário brasileiro se pronunciou sobre sua saída do conselho na França, por meio de nota: "Em relação à decisão do Casino de não renovar seu mandato como membro do Conselho de Administração da companhia francesa, Abílio Diniz afirma que, durante os últimos doze anos, mesmo em momentos difíceis, defendeu os interesses do Casino e de seus acionistas, mantendo o compromisso de apoiar a companhia. Abílio Diniz espera que o Casino faça o mesmo enquanto acionista do Grupo Pão de Açúcar. O empresário informa ainda que mantém a posição de presidente do Conselho de Administração do GPA", informou.
Mercado
O afastamento de lideranças como Abílio Diniz na França ocorre no momento em que o setor supermercadista no Brasil dispara, e atrai ainda mais a atenção do dono do Casino. No ano passado, o faturamento dos supermercados brasileiros atingiu R$ 224,3 bilhões, o que representa uma alta de 11,3% em relação a 2010, em termos nominais. Entre as 20 maiores empresas do ramo, houve crescimento de 20,7% ante o ano anterior. A receita bruta desse grupo de empresas atingiu R$ 139,789 bilhões. Só o Grupo Pão de Açúcar, que se manteve na liderança do ranking, com um faturamento bruto de R$ 52,680 bilhões em 2011, teve um crescimento de 45,8% sobre 2010.
As informações foram levantadas com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Conforme a entidade, as vendas reais dos supermercados brasileiros devem crescer no patamar de 7% em março na comparação com igual mês de 2011, ao manter o mesmo ritmo visto em fevereiro, quando houve aceleração de 11,6%. De acordo com o superintendente da associação que representa o setor, Tiaraju Pires, as vendas de março serão favorecidas pela comemoração da Páscoa no início de abril. As vendas reais do setor supermercadista em fevereiro avançaram 11,58% em relação às do mesmo mês de 2011, de acordo com o Índice Nacional de Vendas, que foi divulgado pela entidade.
De volta à análise por empresa, quem está consolidado na segunda colocação é o concorrente Carrefour, que teria obtido um faturamento bruto de R$ 28,766 bilhões, uma queda de 0,8% sobre o ano anterior (ver reportagem abaixo). O Walmart, na terceira posição, teve faturamento de R$ 23,468 bilhões em 2011, ou alta de 5,1% sobre 2010. Na sequência aparece o grupo Cencosud, com R$ 6,236 bilhões, 78,1% acima do ano anterior, e na quinta colocação, o Zaffari, com R$ 2,910 bilhões, alta de 16,9% na mesma comparação.
Para o superintendente da Abras, a alta contabilizada pelo segmento neste começo de ano é um termômetro considerável, e mostra que "o setor conseguiu atrair parcela significativa do aumento da renda do trabalhador ocorrida no período, incluindo-se aí o aumento de 14,1% no salário mínimo", diz.
No acumulado do primeiro bimestre, as vendas do setor alcançaram alta de 7,57%, na comparação com igual período de 2011.
Em relação a janeiro deste ano, houve uma queda real de 0,18%. Em valores nominais, o índice de vendas da Abras apresentou crescimento de 18,10% em fevereiro ante igual época de 2011 e alta de 0,27% sobre janeiro deste ano.
No bimestre, o avanço nominal foi de 14,07%, na comparação ao mesmo período do ano passado. Os produtos com as maiores altas em fevereiro, na comparação com janeiro, foram feijão (11,52%), seguido pela cebola (8,75%) e o café (4,06%). As maiores quedas foram registradas em tomate (-21,34%), farinha de trigo (-4,23%) e farinha de mandioca (-3,83%%).
Wal-Mart
Fora do Brasil, a rede norte-americana líder mundial do varejo Wal-Mart - que nos EUA mantém o hífen no nome-, anunciou ontem que vai reduzir os preços de alimentos em US$ 1 bilhão este ano, na esperança de que os consumidores sejam atraídos e acabem comprando também outros produtos. O varejista, o maior em vendas no setor de alimentos dos Estados Unidos, tenta se fortalecer no segundo semestre.
Veículo: DCI