O Grupo Pão de Açúcar (GPA) quer ampliar sua atuação na compra de produtos genuinamente brasileiros. A rede, que já é a maior empresa a adquirir eletrônicos da Zona Franca de Manaus, na Amazônia, para abastecer as operações de Casas Bahia, Pontofrio e Novaponto.com, passa agora a comercializar em suas lojas do Pão de Açúcar e do Extra, de São Paulo, o peixe de água doce pirarucu, conhecido como o "bacalhau da Amazônia".
A maior rede supermercadista brasileira aproveita o viés sustentável de sua bandeira para trazer a iguaria que é encontrada exclusivamente na Bacia Amazônica e manuseada de forma correta pelos 700 pescadores da reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. "Seremos a primeira rede de varejo a trazer o 'bacalhau da Amazônia' para o sul e o sudeste", afirma em entrevista ao DCI Hugo Bethlem, vice -presidente- -executivo do Pão de Açúcar.
Ainda segundo informações de Bethlem, a relação do GPA com a região vem de longa data. "A nossa relação com a região é longa, quase tudo o que vendemos, (95%) é montado em Manaus. Com isso ajudamos a trazer renda às comunidades daquela região, que estão mais atentas às questões do meio ambiente", diz ele, que completa: "Já somos a maior no segmento de eletrônicos, queremos ser a maior também no setor alimentício".
Para firmar a parceria, a comunidade de Mamirauá e o Grupo Pão de Açúcar contaram com apoiadores de peso: o governo do Amazonas, a Secretaria da Produção Rural (Sepror-AM) e a Fundação Amazonas Sustentável (FAS), para tornar mais sofisticado o produto 100% produzido e comercializado no País. O restaurante Dressing, de propriedade de João Paulo Diniz, filho do herdeiro do Pão de Açúcar, Abílio Diniz, terá o prato incluso em seu cardápio.
Para o secretário de Estado da Produção Rural, Eron Bezerra, esse é apenas o primeiro passo para que o bacalhau da Amazônia torne-se conhecido mundialmente. "Queremos vender bacalhau para a Noruega", brinca o secretário que informou que no próximo dia 24, todas as entidades já mencionadas e o Ministério de Relações Exteriores (MRE), vão ao Palácio do Itamaraty, em Brasília, para apresentar o bacalhau brasileiro e toda iniciativa desenvolvida para a produção e comercialização do subproduto (bacalhau não é um peixe, e sim um produto conseguido mediante processo de salga de determinados tipos de peixe). Para a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), além de trazer uma maior variedade de produtos às gôndolas do Pão de Açúcar, essa união de forças ajudará a tornar efetivo o potencial de produção que a região do Amazonas tem -85% da pesca do pirarucu estão em Maraã e Fonte Boa, ambas próximas à capital, Manaus (AM). Maraã, por exemplo, tem capacidade de processar 1,5 mil toneladas ao ano.
Em um ano, o Pão de Açúcar e o Extra pretendem comercializar 5 mil quilos do pirarucu processado e salgado, ou bacalhau da Amazônia. "Agora o produto chegará à rede em pequeno volume. Em dois anos queremos chegar a 10 mil quilos", completa o vice-presidente do grupo. O GPA é o terceiro comprador de bacalhau da Noruega - cinco mil toneladas ao ano -, e o novo produto vem para agregar o portfólio de produtos oferecidos aos consumidores pertencentes às classes A e B, público-alvo da rede. A novidade chegará ao consumidor depois da semana de Páscoa. "Não vamos colocar à venda nesta semana, pois a Páscoa já está cheia de produtos e com bastante apelo. E também bacalhau deixou de ser um prato temático, ele virou algo do dia a dia", como enfatiza Bethlem.
Por ter todo o apelo de sustentabilidade, o consumidor pagará um pouco mais caro pelo produto. Segundo o vice-presidente do Pão de Açúcar, os produtos sustentáveis sofrem do mesmo "mal" dos orgânicos: eles são itens mais trabalhosos na produção e até na logística. "Infelizmente não tem como ter um preço muito baixo. Fazemos esforços para isso, para que o volume que temos seja economicamente viável", diz. Ainda para Bethlem, a logística também dificulta na hora de definir o preço e a rede já tenta firmar parceria com empresas do ramo para conseguir o frete de retorno. "Temos de pensar em soluções que sejam sustentáveis e economicamente viáveis", diz.
Parcerias
Não é a primeira vez que a rede Pão de Açúcar vai buscar produtos exóticos e exclusivos para agradar seus clientes e diferenciar-se de seus concorrentes, o Carrefour e o Walmart. Há menos de dois meses a rede firmou parceria com a francesa L'Occitane para a venda da segunda linha de cosméticos e produtos de beleza, Le Couvent des Minimes.
Os 30 produtos serão encontrados primeiramente em 20 lojas da rede. Isso sem deixar de citar o maior número de produtos vindos do sócio francês Casino (marca própria e importada )para as gôndolas da rede GPA nos últimos anos.
Veículo: DCI