Venda de ações dá controle ao Casino; empresário ganha direito de sair do grupo em 2014, caso negociações em curso não avancem
Um pequeno passo que pode significar uma grande mudança. Assim pode ser definido o anúncio da venda de 2,4% das ações da Wilkes, controladora do Grupo Pão de Açúcar, pelo empresário Abilio Diniz, por US$ 10,5 milhões. A medida de ontem concretiza o repasse do controle do negócio ao grupo francês Casino, que passará a ter 52,4% do grupo, e garante ao empresário o direito de vender o restante de sua participação a partir de 2014.
Segundo fontes de mercado, a expectativa do Casino e do próprio Abilio é que sua saída do grupo - que teve origem em uma doceria fundada por seu pai no fim dos anos 1940 - ocorra preferencialmente já nos próximos meses, uma vez que o clima interno no Pão de Açúcar não é dos melhores desde que os franceses assumiram a gestão, em junho.
Mas, como as partes andaram brigando ao longo dos últimos 18 meses, o empresário tem a garantia de saída caso não se chegue a um consenso. A intenção do empresário ao exercer a opção de venda das ações 15 dias antes do prazo determinado seria deixar o Casino tranquilo e mostrar que todos os trâmites do contrato serão cumpridos.
Se nada ocorrer até junho de 2014, passa a correr um prazo de oito anos para que Abilio exerça seu direito de vender suas ações. Poderá fazer isso quando julgar que o preço estiver favorável ou então quando achar um negócio no qual tenha interesse em investir, por exemplo.
Desde que os desentendimentos com o sócio francês começaram, com a tentativa do brasileiro de comprar a operação nacional do Carrefour, em 2011, Abilio não tem escondido de pessoas próximas que tem intenção de continuar no varejo mesmo ao sair do Pão de Açúcar.
Negociações. Ao contrário do que ocorreu antes do Casino sentar na cadeira de comando do Pão de Açúcar, há dois meses, pelo menos agora o diálogo entre o grupo francês e o empresário brasileiro é aberto. Fontes afirmaram ao Estado, porém, que não há nenhuma proposta concreta em cima da mesa por enquanto.
Embora tenha explicitado no passado que não tem interesse na Via Varejo - negócio de eletrodomésticos que inclui marcas líderes no segmento, como Casas Bahia e Ponto Frio -, agora Abilio estaria mais aberto a sair com algum negócio do Pão de Açúcar ou então com uma remuneração em dinheiro.
A difícil relação entre os sócios não mudou nos últimos dois meses porque Abilio e o diretor-presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, têm visões bem distintas sobre os novos rumos da empresa. Em entrevista ao Estado em junho, Naouri afirmou que, por enquanto, não vê necessidade de aquisições no Brasil. "Hoje não há nenhum tema específico relativo a aquisições. O crescimento atual é orgânico", disse na ocasião.
O empresário brasileiro, que promoveu a compra de várias bandeiras importantes ao longo dos últimos anos - tanto de supermercados quanto de outros segmentos do varejo -, acha que ainda há espaço para consolidação. Embora as negociações com o Carrefour estejam descartadas no momento, até porque o Casino não quer nem ouvir falar do assunto, pessoas próximas a Abilio afirmam que ele continua a considerar a associação com o grupo francês uma boa ideia que foi forçado a engavetar.
As divergências "macro" entre as duas partes já se refletem em diferenças do dia a dia, agora que os franceses estão instalados no prédio no bairro dos Jardins, em São Paulo, que abriga a sede do Pão de Açúcar. A convivência, segundo apurou o Estado, não está sendo das mais fáceis, por divergências em relação a decisões na área de recursos humanos, principalmente.
Por enquanto, porém, a venda da participação não altera a rotina de Abilio Diniz: ele segue presidente do Conselho de Administração do Pão de Açúcar.
Veículo: O Estado de S.Paulo