Quinta maior rede de "atacarejo" do país, a Atacadista Roldão decidiu implementar novas práticas, como maior transparência na gestão e profissionalização do comando, com o intuito de dar outro rumo à companhia nos próximos anos. Num processo que envolve mudanças na cultura da rede familiar, o comando da empresa contratou auditores fiscais e consultores em governança corporativa para que, em dois anos, seja possível buscar investidores no mercado.
"O que nós queremos é perpetuar o negócio. E não vemos problema nenhum em procurar soluções disponíveis no mercado hoje. Por isso estamos nos preparando agora, para passarmos por esse processo de forma tranquila", diz Ricardo Roldão, presidente da empresa, em entrevista na sede, em São Paulo. Segundo ele, as possibilidades em discussão são uma abertura de capital ou a entrada de um fundo de investimento na rede. Uma fusão com outra atacadista também é possível, segundo Ricardo, mas menos provável.
"Entre as opções, o que mais me atrai hoje é o IPO [oferta pública inicial de ações] da empresa", diz ele. "No caso dos fundos, já falei com muitos interessados nos últimos anos. Eles provavelmente iriam entrar e mexer na companhia. Mas isso nós já estamos fazendo, ao prepará-la para essa nova fase. Então, não me parece hoje a melhor saída, mas vamos ver".
O plano inicial é deixar a companhia pronta para que essa decisão seja tomada em 2014. Até lá, a empresa estará maior, o que tornará mais interessante para a rede, já com maior poder de barganha, concluir uma operação. O Roldão atua num negócio que cresce bem mais que o setor de supermercados. A rede tem 15 lojas, todas no Estado de São Paulo - 8 na capital. Deve fechar o ano com receita bruta de R$ 1,25 bilhão, alta de 25% em relação a 2011. Em 2014, a expectativa é faturar R$ 2 bilhões e somar 20 lojas. Para efeito de comparação, o Assaí (terceira maior do setor, do grupo Pão de Açúcar) somou R$ 3,5 bilhões de receita de janeiro a setembro e tem 60 pontos.
Para que o projeto avance, um "passo a passo" com prazos foi determinado, prevendo ações como a criação de comitês internos, estabelecimento de conselhos de administração e fiscal. Uma consultoria em governança foi contratada para o serviço. O conselho de administração deve ser instalado em 15 meses, a contar a partir do último trimestre do ano.
Segundo o plano, um conselho fiscal e um conselho consultivo já estarão em funcionamento em 2013 - e um conselho de família será criado também no ano que vem para incluir apenas membros da família Roldão. Alguns detalhes avançaram. Já foi decidido, por exemplo, que os futuros maridos das três filhas de Ricardo têm que assinar um documento em que declaram não ter relação com a empresa. "Não quero ter problemas lá na frente", diz ele. Também está decidido que o conselho de administração terá seis membros, formado por pessoas do mercado, como economistas e consultores.
Na direção, alterações já foram feitas nos últimos dois anos. Jefferson Fernandes, ex- Makro, foi contratado em 2011 para a diretoria de marketing no lugar de um membro da família. Artur Raposo (ex- Walmart) e Maria Aparecida Costa Gomes (ex- Galeazzi Associados) foram contratados para a diretoria comercial e operacional, em 2010 e 2011, respectivamente.
Ricardo e o irmão podem se tornar conselheiros da companhia e um executivo poderá ocupar a presidência, mas isso ainda é uma hipótese. "Não queremos um conselho que seja um chá das cinco. Se concluirmos que para isso é melhor que eu seja conselheiro, tudo bem", diz. "O que eu quero é criar uma empresa que escolha e não uma empresa que seja escolhida".
Nas entrelinhas, está o assédio à rede num cenário de consolidação de mercado no atacado. Meses atrás, o Grupo Pão de Açúcar (que em 2009 adquiriu o Assaí) quase assinou a compra da Tenda Atacado. Além disso, há informações no mercado de que o Atacadão, comprado pelo Carrefour em 2007, possa sofrer uma separação da rede de hipermercados e ter seu capital aberto no Brasil - o que reforçaria o caixa do grupo. A empresa não comenta a informação. O segmento atacadista, especialmente o "atacarejo" (que vende também ao consumidor final), cresce a um ritmo duas vezes maior que os supermercados.
Veículo: Valor Econômico