Maria Helena Santana foi indicada pelo Casino para comitê de governança; em disputa está a influência de Abilio na gestão do grupo
O Casino indicou ontem ao conselho de administração do Pão de Açúcar o nome de Maria Helena Santana, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para o posto de presidente do comitê de governança corporativa da rede varejista. Segundo fontes, com essa medida, os franceses pretendem estabelecer novas práticas de gestão na empresa e diminuir a interferência de Abilio Diniz no dia a dia da operação.
Hoje Abilio, acionista e presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar, ocupa uma mesa na sala onde trabalham os diretores da companhia e mantém contato direto com os executivos.
Além de Maria Helena, foram indicados os nomes dos demais integrantes do comitê, todos atuais conselheiros do Pão de Açúcar. São eles Guilherme Affonso Ferreira, diretor-presidente da Bahema Participações, o diplomata Luiz Augusto Castro Neves, ex-embaixador do Brasil na China, Roberto Lima, ex-presidente da Vivo, e Arnaud Strasser, vice-presidente do Conselho e homem de confiança do presidente do Casino, Jean-Charles Naouri. Para que sejam efetivados, os nomes terão de ser aprovados na próxima reunião de conselho do Pão de Açúcar, que acontecerá no dia 14.
Os nomes só foram indicados agora, mas a criação do comitê se deu em 18 de outubro, em reunião de conselho da rede. A ata do encontro descreve genericamente a função do comitê: "Elaborar propostas ou efetuar recomendações ao Conselho de Administração". Essa tarefa, porém, deverá ser detalhada. Junto com os integrantes, o Casino sugeriu um regimento interno para o comitê, estabelecendo os seguintes objetivos: zelar pelo relacionamento entre conselho de administração, diretoria e acionistas, se manifestar em caso de conflito de interesses e revisar políticas de contratação com partes relacionadas.
Na semana passada, outro comitê, o de recursos humanos, sugeriu ao conselho que alterasse a política de gastos do Pão de Açúcar com a segurança de executivos, acionistas e familiares. O grupo propôs limitar os gastos a R$ 1,3 milhão por ano por executivo (ou acionista) e família. Para se ter uma ideia do impacto dessa proposta - que também precisa passar pelo conselho -, a família Klein gastou, segundo fontes, R$ 72 milhões neste ano, e a família Diniz, R$ 26 milhões.
Ao escolher Maria Helena - uma figura isenta na disputa societária Abilio x Casino -, os franceses pretendem dar um caráter profissional ao trabalho do comitê de governança. Mas uma fonte afirma que a criação do grupo é uma tentativa de esvaziar as funções de Abilio na companhia. O empresário acredita ter o direito de participar da gestão, já que sua permanência como presidente do conselho está atrelada ao desempenho da companhia, conforme estabelecido em acordo firmado em 2005.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Abilio disse lamentar ter "tomado conhecimento de propostas que envolvam o grupo pela imprensa". Também informou que o "movimento é mais um ato de desrespeito do Casino às regras de governança corporativa da Companhia e aos contratos em vigor", e que "avalia as medidas a serem tomadas".
Veículo: O Estado de S.Paulo