Atualizada às 10h10. A reunião do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, realizada na sexta-feira, ratificou o que já era esperado — a posição contrária do Casino aos interesses do sócio Abilio Diniz em todos os pontos em que o debate poderia contrapô-los. Inclusive a negativa dos franceses em estudar a proposta de Abilio de ida da empresa ao Novo Mercado, como antecipou o Valor Pro, serviço de tempo real do Valor . O sócio francês também votou contra a eleição de Abilio para dois comitês (de governança e financeiro), posição que o brasileiro pretendia ocupar.
Desde que se transformou controlador do GPA, em junho, conforme acertado em acordo de acionistas de 2006, o Casino tem mais da metade das cadeiras do conselho — 8 dos 15 membros. Abilio soma três vagas, incluindo a dele, como presidente do conselho.
Durante as quatro horas de reunião, houve um momento em que Abilio e membros do Casino divergiram claramente, e a conversa ficou mais tensa. No meio da reunião, quando foi apresentado o tema da votação sobre o regimento de governança corporativa, Abilio apresentou um parecer contrário à redação do documento, elaborado por Nelson Eizirik, ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e sócio do escritório Carvalhosa e Eizirik Advogados. Arnaud Strasser, um dos executivos de confiança do Casino e membro do conselho, disse que o documento não seria avaliado ali.
Strasser disse que o parecer teria que ser enviado antes da reunião para análise, conforme regras que norteiam as reuniões do conselho. Abilio disse que aquele era o momento certo e foi defendida por ele a ideia de dar 15 minutos para que os conselheiros pudessem ler o parecer e a discussão do tema fosse feita. Arnaud rejeitou a ideia e Abilio propôs então a retirada do assunto da pauta, para discussão na próxima reunião.
O Casino foi contra, disse que não poderia tratar do assunto daquela forma. A votação foi feita e o regimento passou, sem alterações, por oito votos do sócio francês, três votos de membro ligados a Abilio (ele próprio, Geyse e Pedro Paulo, mulher e filho de Abilio) e quatro abstenções de membros independentes.
Para o sócio brasileiro, há conflito nas funções do comitê de governança, definida no regimento, em relação ao seu papel de presidente do conselho. Pelo menos dois artigos eram rejeitados pelo sócio. O regimento fala em “zelar pelo bom funcionamento entre diretoria, conselho e órgão auxiliares e destes com os acionistas”. Para Abilio, o presidente do conselho tem essa função. O Casino, por sua vez, entende que o comitê apenas orienta e discute, sem função deliberativa.
No caso da votação dos comitês financeiro e de governança, Abilio foi voto vencido. Eram espaços em que ele poderia ampliar sua área de influência. Apenas a indicação do brasileiro para o comitê de recursos humanos foi aceita pela maioria (tratava-se de uma substituição de Pedro Paulo por Abilio). A negociação entre as partes, interrompida há um mês, para a saída de Abilio do grupo por meio de uma troca de ativos, parou e não há clima para recomeço agora. Se não voltarem à mesa, a saída dele só pode acontecer numa opção de venda, já definida no acordo de sócios, a ser exercida após 2014.
Em outro momento da reunião, a votação da nova política de despesas da empresa, para gastos com aeronaves e segurança privada, gerou desconforto. Ela foi aprovada, mas o sócio brasileiro pediu para deixar claro na ata, que a questão da política de gastos dele faz parte de um contrato entre os sócios negociado em 2005. Portanto, o acordo passado deveria ser respeitado. O Casino dava aval à forma de gastos de Abilio. O sócio brasileiro se absteve na votação das novas regras. Membros do Casino votaram a favor e com a decisão, Abilio e Enéas Pestana, presidente da companhia, terão que gastar, cada um, R$ 1,3 milhão ao ano com seguranças. O conselho ainda aprovou o planejamento estratégico do GPA para os próximos três anos.
Veículo: Valor Econômico