Maior rede de varejo da América Latina, o Grupo Pão de Açúcar entregou ao mercado os resultados de 2012, já com o plano de 2013 debaixo do braço. Na tarde de ontem, enquanto as ações preferenciais da empresa batiam recorde histórico de R$ 99 (papel fechou cotado a R$ 97,80), Enéas Pestana, diretor-presidente do grupo, em entrevista ao Valor, comentava os planos e estratégias de investimentos neste ano. A sua expectativa é atingir, no mínimo, R$ 1,5 bilhão em investimentos em 2013, mesmo valor desembolsado em 2012. Em relação ao número de aberturas, o Valor apurou que a previsão do grupo é abrir até 170 pontos em 2013, incluindo a operação alimentar e o varejo eletroeletrônico - foram 104 aberturas em 2012.
Ao fim de 2013, a empresa deve atingir 160 mil m2 de área de lojas, 6% acima do apurado em 2012. "O ano de 2013 será de crescimento orgânico com ganhos de eficiência em todos os negócios. Em outros anos, o que fazíamos era crescer com corte de despesas, e essas despesas acabavam voltando a crescer, porque não nos tornávamos mais eficientes. Nos últimos três ou quatro anos, acertamos essa equação. Agora é uma boa hora para fazer isso, sem a pressão de ter que buscar resultados, porque estamos num bom momento", disse Pestana, na entrevista na tarde de ontem na sede da companhia.
É o que mostram os números anunciados ontem - considerados positivos pelos analistas - com indicadores, em sua maioria, acima ou dentro das previsões dos especialistas. As vendas não cresceram tanto, mas a linha final subiu consideravelmente. Enquanto a receita líquida do grupo cresceu 9,3% em 2012 e 9,1% no quarto trimestre, o lucro líquido da companhia aumentou 60,7% no ano passado, e 36,4% de outubro a dezembro de 2012, em relação a 2011.
A margem líquida, indicador que sempre resiste a subir no varejo, passou de 1,5% em 2011 para 2,3% em 2012, maior taxa da história da empresa. Ajustes nas despesas de Via Varejo, empresa controlada pelo grupo, e ampliação na venda de alimentos com retornos mais altos explicam, em parte, os resultados.
Olhando para frente, Pestana fala em se preparar para acelerar a expansão de Assaí neste ano e em integrar mais dentro do grupo a Nova Pontocom (empresa formada pelos sites de Casas Bahia e Ponto Frio), entre os planos para 2013. A rede de atacado Assaí deve entrar em mais 7 Estados neste ano e chegar a um total de 14 Estados. Para Nova Pontocom, mercado "difícil com briga grande por participação", o grupo deve manter a defesa da margem de lucro, como já feito em 2012, e aumentar sinergias por meio, por exemplo, do uso compartilhado de centros de distribuição. "A meta em Nova Pontocom é não fazer prejuízo", resume. No acumulado do ano, a empresa estava no vermelho até setembro de 2012 e reverteu o resultado no último trimestre.
Com Via Varejo, considerada pelos analistas a operação que ainda deve melhores resultados dentro do grupo hoje, Pestana diz que "ainda dá para conseguir ganhos em sinergia e eficiência" e afirma que "não duvida que na empresa a questão é operacional, e não estratégica". Portanto, trata-se de ajustar as estruturas, algo que tem sido tocado desde dezembro por Antonio Ramatis Rodrigues, presidente da Via Varejo. "Sentamos nas despesas", disse Ramatis.
"O que fizemos foi rever e aprofundar os processos dentro da empresa. Por exemplo, em tecnologia, revisamos contratos, revimos nossa relação com fornecedores e que sistemas usamos dentro das empresas. Mas isso foi uma parte do trabalho", disse o presidente de Via Varejo ao Valor. "Também conseguimos vender sem entrar em guerra de preços e, então, trazer rentabilidade para o negócio", disse. O lucro líquido da Via Varejo cresceu 210% em 2012, ao atingir R$ 322 milhões. De outubro a dezembro, a alta foi de 86%. A margem líquida subiu fortemente: de 0,5% em 2011 para 1,4% em 2012. O Valor apurou que a previsão da empresa é que Via Varejo lucre R$ 375 milhões em 2013, mas esse número está em revisão e pode subir.
Projetos pilotos, alguns mantidos sob sigilo, estão sendo testados na empresa para aumentar tráfego e ampliar vendas, conta Pestana. Um deles é um modelo de entrega "drive thru" testado em duas lojas desde janeiro. O cliente compra pela internet e retira o produto na loja horas depois. Isso nada mais é do que o uso integrado dos canais de venda do grupo. O Pão de Açúcar é a varejista com a maior variedade de lojas - tem supermercados, lojas de bairro e hipermercados. Mas a empresa ainda não usa tão bem essa vantagem. Pestana sabe disso. "Podemos usar melhor isso e essa é uma das prioridades para 2013", disse ao citar projetos como o "drive thru".
Neste mês, Pestana completa três anos à frente do Pão de Açúcar, num momento em que as relações entre os sócios controladores não anda nada bem. O controlador Casino não quer que Abilio Diniz, sócio minoritário, acumule a presidência do conselho da BRF e do Pão de Açúcar. Há rumores de que Abilio poderia levar executivos do grupo para a BRF. Sobre os desentendimentos dos acionistas, Pestana diz que se não é sobre a companhia, então não é de sua alçada. Ele não se mete. "[Eu trato isso] com profissionalismo, me concentro no meu trabalho, no que é meu dever fiduciário. Minhas responsabilidade são 160 mil funcionários".
Apesar da expectativa de PIB fraco e inflação alta em 2013, Pestana - uma das vozes do varejo mais ouvidas pelo ministro Guido Mantega - diz que o indicador a se avaliar para o seu setor é a expectativa de crescimento do mercado consumidor (ele prevê alta de 3,5% a 4%). E a inflação não deve passar de 5,5%, diz. "Sentimos algumas pressões maiores por reajustes em linha branca, mas foi algo localizado. Em alimentos, devem vir safras recordes, aliviando a pressão inflacionária vista em 2012".
Veículo: Valor Econômico