O empresário Abilio Diniz, recém-eleito presidente do conselho de administração da BRF, disse ontem desejar um pouco mais de tempo para avaliar a ideia de criação de um "headquarter global" pela empresa. O período até a implementação desse plano pode ser necessário para a BRF passar por ajustes no modelo de gestão, com iniciativas que serão avaliadas pelo novo conselho. Pelo projeto do "headquarter" - planejado antes de o nome de Abilio ser indicado, em fevereiro, para presidir o conselho - seria criado um escritório global da BRF ao qual estariam ligadas subsidiárias regionais.
"Quero um pouco mais de tempo para avaliar a ideia de headquarter global", afirmou o empresário durante a primeira entrevista no cargo, ao lado do presidente da BRF, José Antônio Fay. Nessa estrutura, que necessitaria da aprovação do conselho de administração, Fay seria indicado ao posto de CEO global. Além de postergar a discussão sobre o plano, Abilio afirmou que Fay continua como CEO da BRF. "Quero dar, junto com Fay, a minha contribuição para a companhia", acrescentou.
Fay reafirmou que a ideia já estava sendo discutida com conselho de administração anterior e disse que "é natural que [Abilio] queira entender o que está acontecendo com a companhia". Segundo ele, a empresa passa por momento de transição para chegar "ao melhor caminho" e Abilio deve contribuir para que a BRF continue acelerando o processo de internacionalização.
O novo presidente do conselho fez questão de mostrar a importância de Fay na empresa, mas deixou claro que quer impor sua marca, trazendo para dentro da BRF suas ideias sobre modelos de administração e processos internos. "É preciso atuar com rapidez, mas sem pressa", afirmou. Abilio disse que sua intenção é contribuir em "gestão e liderança" na companhia e defendeu um modelo de gestão que "dê mais facilidade para as pessoas trabalharem". Ele quer começar a trabalhar na BRF "pelo que conhece melhor", disse. "Toda empresa é formada de pessoas e processos e isso não muda numa companhia como a BRF".
Conforme antecipou o Valor Pro, serviço de informações em tempo real do Valor, Abilio se reuniu ontem com cerca de 70 executivos da empresa, entre gerentes e diretores, no primeiro contato dele com funcionários. Antes disso, teve a primeira reunião de membros do conselho.
Para assessorar o novo conselho nesse processo de reconhecimento da empresa, consultorias poderão ser contratadas, afirmou Abilio aos jornalistas. O Valor antecipou ontem que a Galeazzi & Associados pode ser escolhida. Abilio comentou ainda que a BRF "ainda é pequena em nível internacional em termos da dimensão que ela pode ter". Hoje, 65% das vendas da companhia acontecem no mercado doméstico.
Abilio também defendeu que a BRF amplie suas vendas de produtos de maior valor agregado. "A empresa tem de continuar a vender commodities, mas aumentar a venda de produtos com marca".
Questionado sobre a hipótese de que possa comprar novos lotes de ações ordinárias da BRF - Abilio tem hoje pouco menos de 3% da BRF e 5,5% do GPA (além de 19 milhões de ONs do grupo varejista) -, ele disse, num primeiro momento, que "a intenção não é aumentar muito mais que isso [3%]". Logo depois, disse que não sabe se vai aumentar a fatia. O Valor apurou que Abilio deve comprar novas PNs da BRF, que isso não acontecerá neste momento, e que a ideia inicial é não ter uma participação superior a 5%. O empresário já reduziu sua fatia em preferenciais de GPA de 34% para 5,5%.
Abilio fez questão de deixar claro que não foi à entrevista para comentar o assunto Casino. O controlador do Grupo Pão de Açúcar já pediu a renúncia do empresário em fevereiro, por considerar que há conflito de interesses no fato de Abilio ocupar a presidência dos conselhos de GPA e BRF. O GPA mantém relações comerciais com a empresa de alimentos. Tanto Abilio quanto Fay trataram de encerrar ontem a polêmica sobre a existência de um conflito. "Vocês não devem imaginar que eu vim para cá [para a BRF] aéreo, né?".
"Vim para a BRF munido de pareceres, certo de que não há nenhum conflito. Eu só faço coisas com padrão de correção na minha vida e não há nenhum conflito". Logo depois Fay pediu a palavra: "Esse assunto foi superado ontem [anteontem, data da assembleia] pela BRF e para nós isso não é uma discussão".
Ontem, as ações da BRF fecharam em leve alta de 0,13%.
Veículo: Valor Econômico