GPA usa preço para gerar volume

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A estratégia do Grupo Pão de Açúcar de tentar ganhar mercado reduzindo preços para ampliar volume vendido não tem "prazo de validade" para acabar, disse Enéas Pestana, presidente da companhia, em entrevista ontem ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. "Não é algo que tem relação com o cenário econômico. É uma decisão estratégica que vai permanecer. E que nos protege em qualquer situação econômica porque garante o nosso nível de competição". Adotado nos últimos meses pela empresa, o posicionamento, que na prática faz a empresa trabalhar com preços menores em certas categorias para atrair tráfego, tem sido financiado por uma redução nas despesas da varejista neste ano.

Esse corte de gastos, citado no material de resultados do grupo do terceiro trimestre, começou no início deste ano e, com parte dos ajustes feitos, a partir de maio a empresa decidiu ser mais agressiva na ponta ao consumidor. Dessa forma, tenta chamar cliente para a loja e gerar escala num negócio em que o apelo promocional é forte. O grupo controla as redes Pão de Açúcar, Extra e Assaí. "O que buscamos é fazer bem feito o básico, trabalhar naquilo que define o varejo, que é trazer cliente oferecendo bons preços, bons serviços [...]. Então, projetos que não tinham como efeito direto a relação com o cliente foram deixados de lado. É claro que tudo é importante, mas definimos o que é prioritário com base naquilo que atende o cliente. Decidimos, portanto, priorizar investimentos", disse.

"Quando você decide isso, é incrível como percebe que fazia investimentos que não eram fundamentais ao negócio", afirmou. Ele ressaltou que mantém o plano de investimentos de até R$ 2 bilhões em 2013. A estratégia do foco em ganhos de escala e maior agressividade comercial foi discutida entre o Casino, controlador do grupo, e o conselho de administração da empresa no fim de 2012.

Essa seleção de investimentos foi adotada no negócio alimentar e de bens duráveis. A Via Varejo, empresa de eletroeletrônicos, por exemplo, informou em relatório de resultados na quarta-feira que decidiu cancelar projetos que não são foco do negócio. Questionada, a empresa informou que se tratam de investimentos em setores administrativos, por exemplo, sem entrar em detalhes. Balanço do GPA mostra que, de janeiro a setembro, os investimentos em lojas, algo perceptível ao cliente, cresceram quase 60%, enquanto os gastos em infraestrutura (como tecnologia e frota) subiram menos, 16,5%.

Em reformas, aberturas e conversão de pontos, foram R$ 900 milhões aplicados até setembro, versus pouco mais de R$ 700 milhões em mesmo período de 2012.

Relatórios de analistas publicados ontem, como do BTG Pactual, ressaltaram a política mais agressiva de preços da empresa, e como isso tem sido financiado pela redução de despesas. Balanço do terceiro trimestre do GPA mostra que o percentual das despesas operacionais na receita líquida caiu de 19,9% entre julho e setembro de 2012 para 19,2% no mesmo período de 2013. No acumulado do ano, a taxa ainda está em 20,5%. Medidas foram tomadas nos últimos meses para diminuir custos e reduzir esse índice, também como uma forma de defender rentabilidade.

Foram feitas revisões de contratos de serviços com empresas terceirizadas, com renegociação de acordos na área de tecnologia da informação e em telefonia nas empresas Ponto Frio e Casas Bahia. Na área alimentar, houve demissões no setor administrativo (dezoito executivos foram dispensados neste ano) mexendo na hierarquia e reduzindo o número de cargos, gerando uma economia (valor não informado) para a empresa.

Analistas reforçam que a varejista não poderia entrar numa eventual disputa por ganhos de participação sem rever gastos. Acabaria comprometendo lucratividade. Especialmente num momento em que o Walmart, apesar das dificuldades, ressalta que vai fortalecer a sua política de "preço baixo todo dia" no país - que foca exatamente a percepção de operar com preços abaixo da concorrência. Sobre a questão da rentabilidade, Pestana disse que a opção por ganhos em volume não exclui a defesa da margem. No terceiro trimestre, o lucro líquido da companhia subiu 70%, para R$ 357 milhões. "Ser competitivo e perder rentabilidade não faz parte do nosso estilo."

A questão, portanto, passa a ser como mexer em preço a ponto de ampliar o volume de vendas numa velocidade tal que o ganho de escala amplie as margens. "Para isso acompanhamos preços em todas as praças, de todas as bandeiras, numa análise minuciosa, feita semanalmente, para saber até onde podemos ir sem perder lucratividade", disse. A margem líquida do GPA no terceiro trimestre do ano cresceu de 1,7% de julho a setembro de 2012 para 2,5% neste ano.

Pestana citou como exemplo o trabalho feito com marcas que atraem tráfego de consumidores, como Omo e Coca-Cola, que geram percepção de preço baixo para a loja, e que têm sido oferecidas já há algum tempo com preços mais atraentes. "Estamos atrás de um nível de competitividade excelente mesmo em produtos que não tem o preço memorizado e não são tão pesquisados pelo cliente".

No ano, a empresa registra alta nas vendas líquidas até setembro de 12,4% e o lucro líquido subiu 15% no intervalo. A área alimentar apurou alta na receita líquida de 14,5% e lucro cresceu 29%. Na Via Varejo, as vendas subiram 17,4% e o lucro, 166%. A Nova Pontocom (braço de venda on-line) apurou alta na receita líquida de 23,1%, mas a operação acumula prejuízo de R$ 30 milhões até setembro.



Veículo: Valor Econômico


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