Em menos de seis meses, os presidentes das redes Walmart, Carrefour e Grupo Pão de Açúcar deixaram a operação, e todos em situação de algum conflito com o controlador. A renúncia ou a demissão foi o único caminho possível.
No Walmart, o ex-presidente Marcos Samaha discordava de algumas determinações da matriz para a operação brasileira, segundo uma fonte da rede, como a importação de um sistema de tecnologia criado na sede, em Bentonville (EUA). No início de 2013, após alguns desgastes, Samaha chegou a ter uma conversa com Doug McMillon, na época presidente do Walmart Internacional, sobre o futuro dele na empresa. A troca de comando começou a ser desenhada e em setembro, Guilherme Loureiro, que havia saído da Unilever e contava dez meses de Walmart, assumiu o lugar de Samaha.
A matriz do Walmart pressionava o comando no Brasil a atingir melhores resultados - prejuízos operacionais se repetiam nos trimestres. A subsidiária, por sua vez, tentava integrar negócios adquiridos há mais de dez anos no país - e ainda implantava mudanças na política comercial, a pedido da matriz.
O Carrefour, segunda maior rede de varejo alimentar do Brasil, perdeu seu CEO no Brasil, Luiz Fazzio, em dezembro.
Em outubro, a matriz decidiu criar um cargo de presidente da holding do Carrefour no país, que ficaria acima de Fazzio. O escolhido foi o francês Charles Desmartis. O Valor apurou que Fazzio pretendia ocupar essa posição. Ao invés disso, ele se tornou presidente das operações de supermercado e hipermercado - divisão de menor crescimento no grupo. Fazzio, que como presidente do Carrefour também cuidava do Atacadão - operação de grande crescimento no país-, teria se sentido rebaixado e pediu demissão em dezembro, segundo uma fonte.
Por fim, a última troca, por desgastes na relação com o controlador, foi anunciada na segunda-feira, com a saída de Enéas Pestana do Grupo Pão de Açúcar. O Casino, controlador do GPA, e o executivo passaram a ter mais discordâncias em relação à operação e Pestana começou a sentir perda de autonomia. Pediu demissão na segunda-feira e Ronaldo Iabrudi ocupa, desde o dia de ontem, o posto.
Apesar do ano fraco do setor no país em 2013 - o pior ano em vendas desde 2009 para o comércio brasileiro - as trocas de comando não podem ser interpretadas como reflexo de uma crise no varejo nacional. "Isso pode aumentar a insatisfação da matriz, mas não é um fator comum. Em todos os casos, o que há são conflitos internos. O CEO de varejo no país não dura mais de três anos porque esse é um setor complexo, muito ágil e com fortes pressões da concorrência", disse o consultor Manoel de Araújo, diretor da Martinez de Araújo Consultoria de Varejo.
Procurados, Fazzio, Samaha e Pestana não foram localizados.
Veículo: Valor Econômico