Nos últimos meses, Ronaldo Iabrudi visitou dezenas de pontos do Grupo Pão de Açúcar no país, numa média de duas a três lojas por semana. Acabava interrompendo viagens a trabalho - fez isso em Brasília e no Rio - para andar pelo chão de lojas do Extra e do Pão de Açúcar. Sabe que não dá para trabalhar no varejo (área em que nunca atuou antes) sem entender como funciona um ponto de venda. Mas não é só por aquilo que aprendeu nesses últimos meses que Iabrudi foi nomeado pelo Casino o novo presidente do GPA em substituição a Enéas Pestana.
O executivo foi escolhido pelo Casino por estar alinhado com o controlador e vai comandar a empresa numa nova fase que deve ser marcada por dois movimentos principais: expansão orgânica acelerada, em que o crescimento não impeça maior retorno sobre o capital investido - questão ainda questionada por investidores -; e trabalho de consolidação dos negócios nas mãos do Casino. Sob o mandato de Iabrudi deve acontecer uma provável negociação da saída definitiva da família Klein da Via Varejo, empresa do GPA, apurou o Valor.
Iabrudi não está entrando no Grupo Pão de Açúcar para liderar processos profundos de reestruturação das operações, tarefa que lhe é familiar pelo número de empresas nas quais comandou reorganizações - Telemar, de 2001 a 2006, e Magnesita, entre 2008 e 2012. Provavelmente, um trabalho um pouco mais nessa linha de ganhos de sinergia deve acontecer na Via Varejo (ao lado do CEO Francisco Valim), empresa em que é preciso ainda finalizar a integração das redes Casas Bahia e Ponto Frio.
Por isso mesmo, segundo fontes próximas ao GPA, se eventuais cortes de custos (incluindo de pessoal) acontecerem, devem aprofundar os ajustes já feitos pela companhia na gestão de Pestana. Sob o comando do ex-CEO, a empresa enfrentou revisões e cortes de despesas na área alimentar e de varejo eletrônico, passou por uma reorganização das bandeiras Extra e Pão de Açúcar e intensificou o ritmo de descontos e promoções ao cliente, para tentar gerar vendas com maior tráfego nas lojas.
Isso feito, a expectativa do mercado está centrada nas ações de Iabrudi, e análises sobre a companhia começaram a ser feitas ontem. "Eu acredito em mudanças muito alinhadas com o Casino. Eles vão passar a trabalhar com maior intensidade nos planos do controlador, principalmente no crescimento do Assaí e Minimercado Extra", diz Francisco Chevez, analista de varejo do HSBC na América Latina. As duas redes são prioridade para expansão na visão de Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, pela ritmo de crescimento acima da média e pelo baixo capital empregado nessa expansão, o que reduz o prazo de retorno sobre o investimento.
Essa questão, inclusive, foi destaque no relatório da equipe do Deutsche Bank. Para o banco, a divisão do GPA Alimentar investiu muito em ativos, o que acabou impedindo um retorno "decente" sobre o capital empregado nesse crescimento (de 8% a 9%). No grupo (alimentar e eletrônico) essa taxa ficou em 6% até setembro, segundo balanço. "Em nossa opinião, uma mais apertada disciplina financeira, principalmente no lado do Capex, poderia ajudar o retorno sobre o capital investido para níveis mais altos, como é o esperado", escreve Marcel Moraes.
Segundo ele, esse cenário pode fazer o grupo se tornar mais seletivo sobre expansão orgânica, focando desembolsos em conversão de lojas, por exemplo. Nesse caso, poderia acontecer crescimento para novos formatos (como Minimercado), como ressalta relatório de Richard Cathcart, analista do Banco do Espírito Santo. "Com a reestruturação [comandada por Pestana] completa, a estratégia do grupo agora está focada mais na aceleração da expansão do que na reconstrução que tomou conta da empresa de 2006 a 2012".
A falta de experiência de Iabrudi no varejo é mencionada pelos analistas, que estimam, porém, "espaço limitado para erros em sua estratégia de varejo a longo prazo", escreve o analista do Deutsche, "pelo fato de que o grupo já tem um sólido posicionamento estratégico e uma estratégia clara de expansão". Iabrudi é citado, pelos analistas como um "generalista experiente, com um registro de forte disciplina financeira", escreve Moraes. É lembrado ainda, por executivos no mercado, pela discrição, firmeza e habilidade em evitar conflitos, quando preciso.
Ele comandou a Telemar por cinco anos, entre 2001 e é 2006, com reorganização das áreas e cortes de custos e acabou saindo da empresa depois de desentendimentos entre os acionistas, que divergiam sobre o rumo do negócio. Foi para a Magnesita, quando comandou uma difícil reorganização dos negócios, com venda de operações e profundo corte de pessoal, fazendo a empresa voltar a gerar caixa. Ficou na Magnesita até 2012 e, um ano depois, foi convidado pelo Casino para ser diretor no Brasil. Não esperava ser chamado para essa função, como informou ontem o Valor, mas acabou sendo convencido.
Veículo: Valor Econômico