Varejistas atraem estrangeiros

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Não tem sido exatamente um período muito fácil para os acionistas de empresas abertas de varejo e consumo no país. Depois da última terça-feira com esses papéis puxando a bolsa, ontem a maioria das ações acompanhou o Ibovespa e fechou em queda. Nos últimos meses, especialmente a partir da segunda metade de 2013, com resultados frustrantes da demanda no mercado interno, os papéis desses grupos perderam valor, atingindo em certos casos baixas históricas. Como de praxe, os preços tornaram-se atrativos e, nesse cenário, bancos e fundos de investimento estrangeiros foram às compras.

Levantamento feito pelo Valor na base de dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostra que, nos últimos 30 dias, foram registrados oito anúncios de aquisição de fatia superior ou próxima a 5% em companhias de varejo e fabricantes de produtos de consumo.

Na média dos últimos 12 meses, até dezembro, o número desse tipo de operação variava de dois a quatro anúncios ao mês. Entre dezembro e janeiro, esse patamar subiu para oito. E seis desse total de compra de fatias de empresas foram feitas por bancos ou fundos internacionais. Estão nesse grupo dos compradores Lazard Asset Management, HSBC Bank Brasil, Credit Suisse Hedging- Griffo Asset Management, Bank of America Corporation, J.P.Morgan, M&G Investments.

Uma das maiores operações envolveu a Via Varejo, varejista de eletrônico do Grupo Pão de Açúcar, que fez sua oferta de units, em dezembro, abaixo do preço determinado inicialmente pelos acionistas, e ainda é negociada com desconto. A Lazard Asset Management atingiu, uma semana atrás, participação de 6% na Via Varejo, com valor de mercado de R$ 10,6 bilhões. A taxa de 6% equivale hoje a R$ 640 milhões.

Além da Via Varejo, os investidores compraram nos últimos 30 dias fatias na fabricante de itens de higiene pessoal Cremer, na Arezzo (de calçados), na Lojas Americanas e na fabricante e varejista de móveis Unicasa. A maior compra de participação registrada na CVM, nesse período, foi a da Cremer, controlada pela gestora Tarpon. A inglesa M&G Investment Management Limited aumentou sua fatia na Cremer de 5,77% para 10,59%, equivalente a R$ 49 milhões com base na cotação de ontem.

Poucas movimentações nos últimos 30 dias envolveram fundos brasileiros. A Kinea Investimentos, empresa do Itaú, comprou fatia superando 5% de participação na Unicasa, empresa de móveis que no último ano perdeu 50% de seu valor e enfrenta uma reestruturação para tentar reverter perdas nos resultados.

A busca por ações de empresas de varejo e de bens de consumo tem como pano de fundo a expectativa de que alguns papéis devem recuperar seu valor em 2014 e em 2015. A previsão é que setor cresça 4,7% em 2014, versus expansão de 4% em 2013, informa o Instituto de Desenvolvimento do Varejo.

"O período [2014] deverá ser favorável para setores do consumo voltados para produtos essenciais, como o varejo farmacêutico e o supermercadista, que devem ter seu faturamento crescendo a taxas de 15% e 10%, respectivamente, e para móveis e eletroeletrônicos, cujas receitas devem crescer em torno de 9%", diz Maria Paula Cantusio, analista do BB Investimentos, em relatório.

"A conclusão, portanto, é de que o setor de consumo continuará crescendo em 2014, em um ritmo mais lento, porém ainda acima do PIB", observa Maria Paula. As empresas desse setor de consumo podem se beneficiar de uma taxa de desemprego estável e crescimento moderado da renda, escreveu a analista da BB Investimentos.

Para se ter uma ideia de como as ações dessas empresas de varejo e de bens de consumo encolheram, o valor de mercado de 15 das principais companhias desses segmentos negociadas na BMF&Bovespa - líderes de mercado com alta liquidez - somava R$ 419,8 bilhões em 31 de janeiro, segundo o Valor Data.

No meio do ano passado, sem sinais claros de recuperação do comércio - afetado por um consumidor menos dinheiro no bolso, expectativa de novas altas de juros e dólar pressionando preços - esse valor de mercado havia caído para R$ 378,3 milhões ao fim de junho. A queda foi de 10%. Houve certa recuperação no fim do ano, quando a soma atingiu R$ 383 bilhões.

Ações de empresa consideradas bem administradas, com alto desconto na relação entre preço da ação e lucro (ou seja, estão baratas) - e que tiveram um difícil 2013 por fatores econômicos externos, não ligados à operação - também merecem atenção dos investidores, na avaliação do banco Safra. Quem está nesse grupo é a Lojas Renner, que apesar de estar num setor não propenso a fortes crescimentos de vendas em 2014, seu papel tem potencial para ganhar valor neste ano, diz o banco. "Excelente varejista a preço de liquidação", escreve em relatório Alan Cardoso, do Safra.

Entre as ações preferidas nos segmentos de varejo e consumo, o Deutsche destaca Magazine Luiza, Cia Hering e Lojas Marisa. Já O BB Investimentos menciona Raia Drogasil e Magazine Luiza. A ação desta última varejista caiu cerca de 27% no último ano, mas em 2014, o papel subiu 12,5%.

No Magazine Luiza, a relação entre preço e lucro, múltiplo que indica o prazo de retorno do investimento, e se o papel está barato ou caro, está próxima a 10 vezes para 2014. Empresas internacionais do setor são negociadas a 17 vezes, calcula o Deutsche. Ou seja, há espaço para crescimento.

Para Maria Paula, do BB, "as companhias que mais se beneficiarão [neste ano] serão Raia Drogasil e Magazine Luiza". "No caso da Raia Drogasil, trata-se de uma companhia com nome reconhecido no mercado, de abrangência nacional e voltada para públicos de todas as classes sociais", observou o analista.



Veículo: Valor Econômico


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