Líbano Barroso, o novo presidente da Via Varejo, o maior grupo de varejo eletroeletrônico do país, precisa recuperar o ritmo de expansão da empresa no segundo trimestre, após um fraco início de ano em termos de vendas, e manter a velocidade de crescimento de lucro líquido e margem operacional após a recente "virada" dos resultados. A médio prazo, Barroso terá que avançar em ganhos de eficiência e de sinergia entre Casas Bahia e Ponto Frio e Nova Pontocom (site da empresa), algo aguardado pelos investidores e ainda distante da maturação.
A integração comercial, em especial a compra unificada de mercadorias da indústria, por parte do site e das lojas físicas, começou em janeiro. Barroso substituiu Francisco Valim na função, após renúncia anunciada na quinta-feira.
Analistas passaram a questionar na quinta-feira passada a razão da renúncia de Valim, especialmente por acontecer três meses após a saída de Enéas Pestana do comando do Grupo Pão de Açúcar, também controlado pelo Casino. Escolhido pelo controlador Casino, ficou apenas oito meses no cargo.
A explicação dada é de que Valim deixou uma empresa em fase de retomada de resultados, com expectativa de maior retorno e bônus mais altos, porque decidiu ser "empreendedor". Quer assessorar e, em certos casos, virar sócio de startups nas áreas de tecnologia e internet. Decidiu isso oito meses após ter sido escolhido como CEO da Via Varejo. Barroso foi cogitado pelo Casino para o mesmo cargo. Com a escolha de Valim, Barroso tornou-se, em novembro, vice-presidente de desenvolvimento estratégico do GPA.
Valim apresentou sua carta de renúncia na quinta-feira ao conselho de administração, como antecipou o Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor. A Via Varejo terá um novo presidente três meses após a saída de Enéas Pestana, que ocupava o cargo de CEO do Grupo Pão de Açúcar. Pestana não planejava deixar a presidência do GPA meses atrás. Saiu porque o Casino buscava alguém mais "alinhado" com sua forma de trabalhar, apurou o Valor.
"Eu sei que pode não parecer usual, mas eu decidi mudar, voltar mais para a área de empreendedorismo. Era algo que já vinha pensando, as pessoas me mostravam projetos na área", disse Valim na quinta-feira. "Não tive nenhuma briga com o Casino. Fiz o que tinha que fazer na empresa". Valim começa seu novo trabalho tornando-se sócio do Piggme.com, um clube de vantagens na internet.
Valim, apurou o Valor, não teve um desentendimento em especial com os franceses do Casino, mas teria havido divergências na forma de gerir o negócio. Valim entrou na Via Varejo após conturbada saída de Antonio Ramatis. Era preciso escolher um CEO, às vésperas da oferta de ações da empresa e havia poucos nomes à mesa. Pareceu, na época, a solução ideal. "A convivência foi ficando difícil, o estilo dele e do Jean [Jean-Charles Naouri, presidente do Casino] eram opostos", diz uma fonte. "A decisão de Valim acabou sendo boa para todo mundo", avalia a fonte.
Valim é um executivo mais "linha dura", acostumado a lidar com conflitos, e que esteve no centro da disputa entre sócios na Oi, após não esconder discordâncias com os controladores (ficou 18 meses na Oi). Quando o Casino o contratou, foi avisado por assessores de que Valim era o executivo certo para estar à frente da oferta pública de ações, em 2013. Também sabia que Valim é um executivo experiente com personalidade forte e que deixa suas opiniões claras.
No fim das contas, o que o mercado acaba vendo quando olha para trás é a segunda renúncia de CEOs de empresas controladas pelo Casino. No caso da Via Varejo, trata-se de uma companhia que precisa mostrar resultados consistentes, após a recente "virada" nos números e volta ao lucro.
A empresa deve também, nas próximas conversas com analistas, após o atual período de silêncio, afastar a hipótese de uma saída motivada por maus resultados. De janeiro a março foi apurado o pior índice de crescimento de vendas "mesmas lojas" (abertas há mais de 12 meses) desde a união de Casas Bahia e Ponto Frio, em 2010.
A Via Varejo deve reforçar ao mercado que a transição de comando será tranquila. Líbano já está na linha de frente do GPA, é considerado habilidoso na relação com a equipe e tem convivido mais com Naouri nos últimos meses.
De certa forma, Barroso se aproxima do perfil de Ronaldo Iabrudi, que sucedeu Pestana no cargo de CEO do GPA em janeiro. Como diretor do grupo francês no país, já era próximo ao Casino antes de ocupar a função. Valim substituiu Antonio Ramatis, que deixou o cargo após alegar excesso de "interferências" de sócios em sua gestão. Ele está hoje na Península Participações, de Abilio Diniz, sócio minoritário do GPA.
Veículo: Valor Econômico