O empresário, que esteve à frente do Grupo Pão de Açúcar, afirmou que a crise econômica no País desenvolve dois tipos de empresas: "as que choram, e as que vendem lenço. Eu vou vender lenço"
São Paulo - Membro do conselho de duas grandes empresas - BRF e Carrefour - o empresário Abilio Diniz prevê avanço nas duas operações mesmo com a economia mais fraca este ano. Para ele, manter o ritmo de investimento é fundamental para passar "pelo tsunami".
Segundo Diniz, o atual momento não é, nem de longe, o pior vivido pelo Brasil. "Já vivi situações piores como a crise de 1980. Eu fazia parte do governo e ajudei na renegociação das dívidas do País. Ali, vi como os outros países encaravam o Brasil e aquilo foi extremamente duro", diz.
O megaempresário afirmou que, diferentemente das crises anteriores, os investidores estrangeiros não tiraram os olhos do País nesse momento. "O Brasil está barato para investir e se engana quem acha que os investidores estrangeiros não estão vendo." Na visão do executivo, que comandou por décadas o Grupo Pão de Açúcar, a crise que assola o Brasil é "mais de confiança do que econômica", analisou ele durante participação na Latam Retail Show, promovida pela GS&MD - Gouvêa de Souza.
Outra dica de Diniz para o empresário é se manter capitalizado. "Na crise de 2008, no Pão de Açúcar nós fizemos o caixa e ficamos 'sentados' sobre ele. Um ano depois, em 2009, a empresa dobrou de tamanho", enfatizou Diniz ao reafirmar que estar capitalizado em momento de desaceleração econômica ajuda a "passar pelo tsunami".
Agora, como acionista do Carrefour, rival direto do GPA, o empresário informou também que o grupo francês passa por um período de recuperação e que em momentos de crise existem dois tipos de empresas: as que sentam e choram e as que vendem lenço. "Estamos vendendo muito lenço no Carrefour e muito frango na BRF", brincou ele.
Venda on-line e off-line
Enquanto as supermercadistas no Brasil enfrentam queda real, em função da redução do poder de compra do consumidor e pressão da inflação nos produtos básicos, o Carrefour reportou que, de janeiro a julho, as vendas globais cresceram 5,2%, impulsionado pelo desempenho das operações no Brasil e da Argentina.
O que falta para o Carrefour agora é apostar no formato de multicanais. Para Diniz, as redes que não apostam na internet são menos competitivas. No final de 2012, a varejista encerrou sua operação on-line alegando fragilidade da operação. Antes presidente do Carrefour no Brasil, Charles Desmartis, disse que o e-commerce da bandeira seria relançado este ano.
Enquanto a loja virtual não começa a operar, a rede dá sequência ao plano de expansão com ênfase em dois segmentos: atacarejo e no formato de proximidade. Só com a bandeira Carrefour Express a rede soma oito unidades. A reforma de lojas para o modelo "Nova Geração" também está nos planos. A meta é ter 60 unidades reformadas até o final de 2016. Hoje são 32 lojas operando no modelo Nova Geração, além do foco no Atacadão, que possui 116 lojas de autosserviços e 23 centrais de atacado.
Para o empresário, o momento é de cautela, mas frear os investimentos trava a economia "Falta investimento tanto do governo quanto do setor privado. Os empresários recuam e travam os investimentos no momento de crise".
Capacitação
Mais do que investir em inovação, tecnologia e em novas lojas, apostar no treinamento dos colaboradores deve ser meta entre os varejistas. "O Brasil é pouco produtivo. Para conseguir ver a economia crescer a 4% do PIB ao ano, temos que crescer a produtividade de nossas empresas entre 4% e 5%", enfatizou ele.
Questionado pelo DCI sobre o investimento que o Carrefour faz em treinamento, Diniz afirmou que é prática bem aplicada dentro da rede. "A empresa faz muito bem a gestão de treinamento", disse ele, lembrando que o aumento dessa iniciativa, desde que entrou no Carrefour, ainda não pode ser mensurado.
Para Diniz, ter profissionais qualificados fará com que as empresas sejam mais eficientes. "Se o funcionário estiver bem treinado ele saberá fazer melhor e a empresa sairá fortalecida da crise econômica." (Flávia Milhassi)
Veículo: Jornal DCI