As vendas brutas do Grupo Pão de Açúcar (GPA) e do Carrefour em 2017, divulgadas ao longo da semana, confirmaram uma mudança de trajetória na evolução das duas maiores redes de supermercados no Brasil. Enquanto até o final de 2016, o grupo de origem francesa crescia em um ritmo maior que o do GPA, no ano passado o cenário se inverteu.
No consolidado do período, o faturamento do Pão de Açúcar cresceu 8,2%, atingindo R$ 48,4 bilhões, frente um avanço de 7,2% do Carrefour no mesmo intervalo – com vendas brutas na ordem de R$ 49,6 bilhões. Analisando o desempenho do quarto trimestre, a diferença é ainda mais evidente: avanço de 7% do GPA, contra crescimento de 5,3% nas vendas do Grupo Carrefour (diferença de 1,7 ponto percentual).
A expansão maior do dono das redes Pão de Açúcar, Extra e Assaí, deve-se a um melhor desempenho principalmente da bandeira de atacarejo. “O GPA continua a colher os benefícios da expansão mais rápida do Assaí, que acreditamos estar mais preparado para atender o segmento de pessoas físicas do que o Atacadão [rede do Carrefour]”, afirmam os analistas do banco Brasil Plural, Guilherme Assis e Andres Estevez, em relatório à clientes.
Outra explicação para o desempenho mais fraco do Carrefour é o impacto maior da deflação de alimentos na operação do varejista francês. No ano passado, a categoria fechou com uma queda de 5,1% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). De acordo com os analistas, o Carrefour possui uma “maior exposição às commodities, que sofreram mais com a persistente deflação de alimentos”. Além disso, destacam os especialistas, a base de comparação do Carrefour em 2016 é mais forte que a do Pão de Açúcar, o que acaba dificultando a expansão mais robusta.
No conceito “mesmas lojas”, que considera apenas as unidades abertas há mais de um ano, o ritmo de crescimento do GPA também foi maior. No quarto trimestre, a alta foi de 3,9%, frente 1,4% do Carrefour. Já no consolidado de 2017, o avanço nas vendas “mesmas lojas” foi de 4,5%, contra os 3% registrados pelo concorrente.
O ponto de inflexão na trajetória das duas empresas ocorreu no terceiro trimestre de 2017. Foi naquele momento que o GPA ultrapassou, pela primeira vez, o Carrefour, em termos de ritmo de crescimento, após pelo menos 11 trimestres consecutivos com avanços superiores do varejista francês.
No conceito “mesmas lojas”, a ultrapassagem aconteceu um pouco antes, a partir do primeiro trimestre do ano passado, quando o Grupo Pão de Açúcar cresceu 5,6%, acima dos 5% vistos pelo Carrefour.
A força do Assaí
Boa parte do avanço mais expressivo do GPA em 2017 deve-se ao forte investimento que o grupo tem feita na expansão da sua rede de atacarejo, o Assaí. Só no ano passado, cinco novas lojas da bandeira foram abertas e outros 15 hipermercados Extra foram convertidos para o formato.
Além da expansão orgânica, os analistas do Brasil Plural destacam a estratégia forte da companhia para aumentar as vendas das lojas já existentes. “Durante o trimestre, a empresa realizou uma série de iniciativas para promover o tráfego de consumidores e compensar a persistente deflação alimentar”. Alguns exemplos foram a realização da primeira “Black Friday” da empresa e do “Aniversário Assaí” em outubro.
Para 2018, a perspectiva do mercado é que as duas companhias apresentem crescimentos mais robustos, já que a deflação de alimentos tende a parar de pressionar os resultados. “Vemos uma melhora na dinâmica da inflação de alimentos nos próximos trimestres”, sinalizam os analistas do BTG Pactual, Fabio Monteiro e Luiz Guanais, em relatório.
Fonte: DCI São Paulo