Grupo conversa com a segunda maior varejista alimentar francesa
O Grupo Carrefour está aberto a avaliar acordos de fusão de sua operação global com outros grupos varejistas, e essa discussão vem evoluindo na alta esfera da companhia. A possibilidade de uma negociação ganhou força maior na empresa desde que uma proposta de aquisição pela canadense Couche-Tard — que trouxe atenção maior do mercado internacional ao grupo francês — foi por água abaixo, em janeiro deste ano.
O Valor apurou que, dentro desse contexto, há conversas em andamento entre o Carrefour e a também francesa Auchan, disseram três fontes a par do assunto. A Auchan é a segunda maior varejista alimentar francesa, com 32 bilhões de euros em vendas anuais, atrás apenas do próprio Carrefour, com receita de quase 79 bilhões de euros em 2020.
Não há segurança, porém, de que um avanço no desenho de uma operação possa ocorrer já, pela complexidade societária. Há entre 200 e 300 de sócios na associação da família Mulliez, que controla a Auchan — e com estrutura societária interligada entre diferentes empresas — o que torna mais difícil modelar a estrutura e conciliar interesses, diz uma fonte.
Os Mulliez são uma das famílias mais ricas da Europa, com sociedade em negócios como a Adeo (Leroy Merlin), a Decathlon e a Boulanger, de eletrodomésticos. As conversas não estão na fase final, mas avançaram mais nas últimas semanas, diz uma fonte.
Procurada, a Auchan diz que não se manifesta sobre rumores e não tem comentários a fazer sobre o assunto. A matriz do Grupo Carrefour, na França, também informa que não comenta rumores.
A intenção do Carrefour é acelerar a velocidade de crescimento da empresa, e a consolidação, em mercados europeus, após a implementação de um plano de transformação global do grupo. A Auchan, com 4 mil lojas em 13 países, não opera no Brasil, maior mercado e varejo alimentar da América Latina, e liderado hoje pelo Carrefour e Casino, rivais da Auchan.
Negociações entre grandes varejistas têm ganhado destaque nos últimos cinco anos, mas boa parte delas evoluiu para acordos comerciais ou parcerias de impacto mais localizado. A maior pressão das plataformas de venda on-line regional, que tem feito um bom trabalho em alguns países, assim como o próprio crescimento do braço alimentar da Amazon, tem feito acelerar a busca por acordos de maior peso.
Atualmente, as últimas transações já anunciadas por grandes redes têm centrado foco nas compras conjuntas de produtos, na tentativa de avançar em negociações de preços melhores com a indústria, mas essas ainda são parcerias limitadas. Casino e Intermarché fecharam em abril tratativas para criar uma central de compras. Em 2019, a rede alimentar alemã Aldi e a lojas de departamentos Kohl’s fecharam uma parceria em que a segunda aluga para a primeira, espaços em suas lojas.
Um outro acordo de peso que levaria a união de negócios, envolvendo o próprio Carrefour e a canadense Couche-Tard, chegou a dar os primeiros passos no começo do ano, mas morreu na praia. Os canadenses tinham montado uma proposta para a compra do Carrefour, mas o governo francês decidiu interferir — e por ter poder de veto — barrou as conversas “pelo risco à soberania alimentar do povo francês”. Uma negociação entre duas redes francesas evitaria esse tipo de intervenção direta.
Fonte: Valor Econômico