Evento em Gramado reuniu empresários de 18 países e debateu a sustentabilidade
A adoção de ações de sustentabilidade no setor supermercadista foi o tema do 4º Congresso Panamericano de Supermercados, que aconteceu neste final de semana no Hotel Serra Azul, em Gramado. Promovido pela Associação Latino-Americana de Supermercados (Alas), o evento reuniu representantes de 18 países do continente, que debateram as medidas tomadas pelo setor em relação aos cuidados com o meio ambiente.
Segundo o presidente da Alas, João Carlos Oliveira, a capacitação do setor em relação à sustentabilidade é uma necessidade, tendo em vista o crescimento da relevância do tema junto aos seus clientes. De acordo com uma pesquisa desenvolvida pelo instituto britânico Kantar World Panel, em 2009, 77% dos consumidores latino-americanos se declararam preocupados com o aquecimento global. “Além disso, o número de entrevistados que afirmaram que estão dispostos a comprar produtos mais caros, desde que ecologicamente corretos, cresceu de 3% para 6% em dois anos”, lembrou Oliveira.
A economia gerada pela adoção de práticas sustentáveis foi destacada por Leonardo Vieira Fioratti, coordenador nacional de manutenção do grupo Pão de Açúcar. Desde 2001, a companhia vem implementando projetos de conscientização junto a seus funcionários para evitar desperdícios em suas lojas. Além disso, há cinco anos a empresa vem adquirindo sua energia no mercado livre, o que proporcionou uma economia de 7% em suas contas de eletricidade. “Somando todos nossos projetos na área, já conseguimos uma redução de 17% a 20% nos gastos de energia”, afirmou.
A mobilização dos clientes para a adoção de atitudes sustentáveis foi o alvo de um projeto desenvolvido desde janeiro pela rede de supermercados mexicana Soriana. Em 42 lojas da companhia, os clientes podem entregar materiais recicláveis descartados, que são vendidos pelo grupo para empresas de processamento. Os recursos gerados pelo negócio são investidos em projetos socioambientais da rede. “Até o dia 16 de agosto, arrecadamos 345 toneladas de lixo, e esperamos fechar o ano com 700 toneladas recebidas”, disse Rafael Razo Delgadillo, diretor de qualidade e desenvolvimento de fornecedores da Soriana. O projeto também proporcionou o recolhimento de 40 toneladas de lixo eletrônico e de 5,4 toneladas de pilhas e baterias.
Outro assunto debatido no encontro foram as tendências de uso de embalagens plásticas para acondicionar as compras. Segundo Jürgen Giegrich, diretor-técnico do Institute for Energy and Enviroment Research (ifeu), que desenvolveu um estudo sobre o tema em parceria com a Alas, a atitude mais ecologicamente correta seria o uso de sacolas reutilizáveis, uma vez que mesmo os produtos biodegradáveis apresentam de 30% a 60% de materiais derivados de petróleo em sua composição. No entanto, os hábitos de consumo atuais impõem barreiras para sua adoção.
“Os clientes já estão acostumados culturalmente a colocar suas compras em sacos plásticos oferecidos de graça pelos mercados”, disse. Para incentivar a mudança, Giegrich sugere que sejam adotadas políticas já usadas em países europeus, onde as sacolinhas plásticas são cobradas pelas lojas. “Mas para isso seria preciso uma normatização do governo ou um acordo entre as empresas”, destacou.
Um incentivo para a adoção de hábitos mais ecologicamente corretos é o projeto implementado pelo Walmart, que oferece para os clientes que utilizarem sacolas reutilizáveis descontos de R$ 0,03 a cada cinco produtos comprados nas lojas do grupo. Adotado há um ano e meio pela companhia, o programa já concedeu R$ 900 mil em descontos. “Isso equivale a 30 milhões de sacos plásticos a menos descartados no lixo”, afirmou Felipe Zacari Antunes, consultor de sustentabilidade do Walmart. A política também resultou na venda de 2,4 milhões de sacolas retornáveis do grupo.
Brasileiros poderão investir no exterior e ampliar atuação
Convidado pela Alas para falar no evento supermercadista, o secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Édson Lupatini Júnior, anunciou a assinatura de um convênio de cooperação técnica entre a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e o ministério com vistas ao incentivo de investimentos do setor supermercadista no exterior, especialmente em outros países sul-americanos e no continente africano. “A presença comercial de supermercados do Brasil em outros países vai arrastar a exportação de serviços e de bens, principalmente na área alimentícia”, explicou o secretário.
Segundo Lupatini, o convênio será assinado na 44ª Convenção Brasileira de Supermercados, no dia 14 de setembro, em São Paulo. “Se as empresas multinacionais estrangeiras se instalam no Brasil, os supermercados brasileiros também podem expandir sua atuação para outros lugares.”
Veículo: Jornal do Comércio - RS