Sacolas retornáveis: produto "verde" é apenas um dos pontos de partida
A quarta posição na lista de fatores considerados no ato da compra pode não render medalha ou podium, mas, com certeza, revela que está em curso uma grande mudança de comportamento por parte de empresários, profissionais liberais, donas de casa, jovens, idosos, mulheres e homens enquanto consumidores. Para 9% deles, o comportamento socioambiental da companhia responsável por determinado produto ou serviço é um quesito que pesa na hora de levar a mercadoria para casa ou assinar um contrato.
Segundo a gerente de Operações do Instituto Akatu, Heloísa Torres de Mello, a ideia de consumo consciente, embora ainda concentrada em determinados nichos de mercado, já está ganhando as classes populares que, além de preço e prazo de pagamento, já começam a perceber que a qualidade de um produto é algo bem maior que o seu tempo de duração. "Consumir de forma consciente é saber que a compra de um produto ou serviço gera impactos positivos e negativos econômicos, sociais e ambientais. O consumidor é protagonista e pode fazer a diferença", definiu.
Em outras palavras, assim como empresas e governos, a sociedade também tem a sua parcela de contribuição a dar para a sustentabilidade, no sentido mais amplo da palavra. "Hoje, percebe-se que o número de consumidores conscientes tem aumentado. Dependendo do enfoque da empresa isso pode ser uma oportunidade ou um risco", destacou a consultora.
No primeiro caso, as empresas que se adiantam investem nesse que é um dos mais poderosos diferenciais competitivos da atualidade. No outro, aquelas que optam por fazer resistência à mudanças anunciadas, mas em algum momento haverá a necessidade de alterar processos e métodos para responder à escassez de recursos naturais e, assim, evitar a derrocada do próprio negócio.
Tendência - Para ambos, há apenas uma recomendação, de que não é possível mais fugir de práticas sustentáveis. "O consumidor precisa de informações para tomar suas decisões de compra. A empresa pode formar a comunidade para adquirir produtos e serviços com mais responsabilidade", frisou. Entre os recursos disponíveis estão o ponto de venda, o SAC e a internet, via site ou redes sociais. Desenvolver produtos "verdes" é apenas um dos pontos de partida.
Na mesma linha, a empresa também pode educar seus funcionários para a adoção de hábitos de consumo conscientes, via planos de gerenciamento financeiro direcionados para esse público. "São empregados mas também são consumidores que podem multiplicar essa ideia", sugeriu. A resposta, geralmente, aparece na forma de inovação de processos e na adoção de hábitos mais econômicos no dia a dia de trabalho.
Por outro lado, o consumidor também pode educar a empresa e fazer com que ela considere o quesito sustentabilidade ao desenvolver um produto ou serviço. Segundo Heloísa de Mello, as organizações só inovam quando sabem - de antemão - que terão um acréscimo nas vendas. Em outras palavras, o setor produtivo não muda se não for para incrementar o resultado financeiro.
Como estão compreendendo que o consumidor mudou, as organizações já estão investindo em embalagens menores, produtos com refil, comércio justo com fornecedores e, também, na reciclagem do equipamento pós-uso. "Não se trata de voltar à idade da pedra. O mundo vive dentro de um sistema de consumo muito forte mas que pode ter uma abordagem sustentável", ressaltou.
O professor do Ibmec, Marco Antônio Machado, afirmou que o consumo consciente pressupõe que as pessoas pesem as diversas conseqüências do ato de compra, por menor que seja ou pareça. "Os consumidores são responsáveis pelo bem-estar próprio, da sociedade e, também, do planeta", avaliou. Por isso, a atuação esperada é, em tese, cidadã.
Chegar a esse nível de esclarecimento requer informações e tempo. Afinal, promover uma mudança cultural que se traduza por uma nova filosofia de vida não é algo fácil. Mas é possível. As ações requeridas são corriqueiras como restringir o consumo de produtos que comprometem o meio ambiente, ou daqueles "piratas" e falsificados. A categoria dos que não têm uma procedência transparente também deve ser evitada.
Esse é um projeto que terá maiores impactos no futuro, quando as novas gerações de consumidores chegarem ao mercado. As empresas que já tiverem se adequado vão sair na frente e as outras correrão o risco de ficar no "meio do caminho". " uma questão de sobrevivência para as próprias empresas", concluiu.
Veículo: Diário do Comércio - MG