Sustentabilidade: Múlti quer dados sobre água, solo e mata de produtor
Em uma iniciativa inédita no Brasil e em suas operações no mundo, a PepsiCo deu início neste mês a um amplo processo de rastreamento ambiental de seus produtores de batatas na América do Sul. Até o fim do ano que vem, a multinacional terá em mãos dados como a qualidade de solo, água e das florestas nativas das propriedades de cada um de seus 320 fornecedores na região.
A ação faz parte da estratégia de sustentabilidade do grupo, iniciada dentro da empresa e que agora se estende à cadeia produtiva. Se tiver sucesso, a iniciativa será estendida a outras culturas - como aveia, trigo, água de coco e palma - e servirá de modelo para as subsidiárias da PepsiCo.
"Antes, o foco dos nossos agrônomos era a produtividade. Agora é a sustentabilidade", diz Jorge Tarasuk, vice-presidente de Operações da PepsiCo Divisão Alimentos para a América do Sul, em entrevista ao Valor. "Temos obrigação de atuar nessa área".
A obrigação, nesse caso, é resultado do chamado "Desempenho com Propósito", o marco estratégico adotado pela companhia em 2007 e que deu origem à mudança de viés dos negócios.
Para tanto, a múlti americana contratou uma empresa brasileira de rastreabilidade para fazer o diagnóstico dos produtores. A diferença é que o mapeamento irá além dos tradicionais questionamentos sobre volume de aplicação de defensivos e produtividade no campo. Tão ou mais importante é saber se os fornecedores seguem a legislação ambiental e trabalhista de seus respectivos países - em outras palavras, quão sustentáveis eles são.
Com faturamento mundial de US$ 60 bilhões em 2009 e uma fatia significativa do mercado de salgadinhos, a PepsiCo detém as marcas de batatinhas Rufles e Namesa (Elma Chips) e Lucky.
A empresa tem atualmente 320 fornecedores na América do Sul. No Brasil, onde estão as maiores lavouras, são 18 fornecedores, localizados sobretudo em Minas Gerais. Chile e Argentina respondem por mais 25 fornecedores e o restante está pulverizado nos países andinos, com agricultura de menor escala. Juntos, eles fornecem 230 mil toneladas de batatas por ano à companhia.
Segundo Thomas Eckschmidt, diretor de desenvolvimento de novos projetos da PariPassu, empresa com sede em Florianópolis (SC) que realiza a rastreabilidade, o diagnóstico inclui o georreferenciamento das propriedades rurais - o mapeamento via satélite -, ferramenta indispensável para saber com precisão a localização não só da propriedade, mas de seus recursos naturais.
O projeto, que terá investimento de US$ 200 mil, já foi finalizado na Colômbia e no Peru, e até o fim do ano será concluído na Argentina, Venezuela, Chile e Equador. No Brasil, o trabalho será feito ao longo de 2011.
A rastreabilidade não é compulsória, diz Tarasuk. Mas para obter a adesão total, os agrônomos da PepsiCo iniciaram visitas técnicas para esclarecer os produtores sobre os benefícios do projeto. Cuidar da água, do solo e das florestas, afinal, é uma forma de garantir a sobrevivência das lavouras. E isso tem impacto direto na rentabilidade do produtor. "O programa não é obrigatório. Mas se o produtor não quiser dar visibilidade, a gente vai ficar desconfiado", afirma Tarasuk.
De acordo com o executivo, não foram encontrados problemas com os fornecedores mapeados até agora. No caso de irregularidades, a empresa esclarecerá os produtores, com apoio de organizações e governos locais.
"A sustentabilidade só existe se ela é aplicada à cadeia inteira. É o mesmo conceito do gado que está em área de desmatamento na Amazônia. A PepsiCo quer que a sua batata não tenha esse tipo de interferência", diz Eckschmidt. "Essa rastreabilidade muda totalmente a maneira de reportar a sustentabilidade. É o que chamamos de transparência radical".
Em um primeiro momento, as informações socioambientais recolhidas serão para interesse interno da empresa. A ideia, no entanto, é disponibilizá-las também ao consumidor no futuro.
Veículo: Valor Econômico