Estudo realizado pelo Cempre mostra que serviço cresceu 9,3% em dois anos, mas ainda é precário na maior parte do País
Apenas sete municípios brasileiros conseguem atender toda a população com serviços de coleta seletiva: Santos, Santo André, São Bernardo do Campo (os três em São Paulo), Itabira (MG) e as capitais Curitiba (PR), Porto Alegre (RS) e Goiânia (GO).
Em dois anos, houve aumento de apenas 9,3% no número de municípios que fazem coleta seletiva no País: eram 405 em 2008 e hoje são 443. O total equivale a 8% dos municípios brasileiros.
Os dados fazem parte do documento Ciclosoft 2010 do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), obtido com exclusividade pelo Estado. A pesquisa teve início em 1994 e é realizada a cada dois anos pela entidade.
Na avaliação de André Vilhena, diretor executivo do Cempre, a coleta seletiva ainda não entrou na lista de prioridades dos prefeitos no Brasil. "O projeto nasce sem abrangência significativa, demora para crescer e às vezes não evolui", diz. Mas ele considera que, com a sanção presidencial da Lei de Resíduos Sólidos, os dirigentes ficarão mais engajados.
"A lei obriga a fazer a coleta seletiva em um prazo de quatro anos. Podemos ter um salto, dobrar ou triplicar essa quantidade", afirma. Atualmente, os programas de coleta seletiva estão concentrados nas Regiões Sudeste (221 municípios no total) e Sul (159 municípios).
Uma solução para tornar a coleta seletiva mais viável é que os municípios menores façam consórcios entre eles. "Dessa forma, haverá um volume de material reciclado que vai ter condição de venda", diz Vilhena.
Levando em conta o peso do material, o que mais se coleta no Brasil são aparas de papel e papelão, seguidos pelos plásticos. A quantidade de rejeitos - material que não pode ser reciclado ou foi contaminado - ainda é alta: 13,3%. Por isso, segundo o Cempre, é preciso tanto melhorar o serviço de coleta como conscientizar a população para separar o lixo corretamente.
Apesar da falta de eficácia da coleta seletiva na maior parte dos municípios brasileiros, a perspectiva é de que o serviço avance. A regulamentação da lei de resíduos, que deve ocorrer em breve, prevê maior responsabilidades por parte de quem gera o resíduo - como a indústria de embalagens.
"Hoje, 70% dos municípios brasileiros têm algum tipo de programa de coleta seletiva, mesmo que incipiente" afirma Carlos Silva Filho, diretor executivo da Abrelpe, que reúne as empresas de coleta e tratamento de resíduos.
São Paulo e Santos. Dos 96 distritos da capital paulista, 74 são atendidos hoje por coleta seletiva. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, o volume do material coletado cresceu oito vezes desde que o programa foi criado, em 2003. Atualmente, são recolhidas, em média, 120 toneladas diárias de material.
Vilhena considera que a situação poderia ser melhor. "O município tem 80 cooperativas candidatas a fazer parte do programa, mas a prefeitura mantém apenas 17", diz ele. De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços, em um curto prazo "serão incluídas mais seis cooperativas para atender à demanda".
Já em Santos, o sistema de coleta seletiva funciona há 20 anos. "Estamos trabalhando para ampliar a participação da sociedade, que é boa, mas pode melhorar muito", diz o prefeito de Santos, João Paulo Tavares Papa (PMDB). O município coletou 1.858,32 toneladas de material reciclado no primeiro semestre desse ano, 21,5% a mais que o recolhido no mesmo período de 2009. A coleta funciona em todos os bairros da área insular (onde reside mais de 99% da população).
Veículo: O Estado de S.Paulo